13/02/2006

PADRÃO DIGITAL OU ESTATAL?

por Rodrigo Constantino

A escolha do padrão digital para a televisão brasileira vem se arrastando faz tempo. A disputa se dá entre os modelos japonês, europeu e americano. Cada um conta com um número de defensores, todos apresentando seus argumentos. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, admite o atraso na decisão. Mas o ponto é: por que a decisão deveria caber a alguns poucos políticos e burocratas poderosos?

Quando as importantes decisões partem de cima para baixo, como se uns poucos “sábios” fossem clarividentes e honestos o suficiente para realmente focarem no interesse dos consumidores, normalmente temos escolhas erradas. Afinal, ninguém melhor que o próprio consumidor sabe qual sua preferência. A beleza do funcionamento do livre mercado é justamente delegar a cada indivíduo o poder de escolha, fazendo com que o processo decisório, de baixo para cima, ofereça o resultado mais eficiente.

O debate atual nos remete ao caso da Betamax e VHS, durante a briga pelo padrão dominante de videocassete. O modelo da Sony, o Betamax, foi introduzido em 1975, e no começo da década de 80 era bastante popular. Entretanto, por volta de 1985, o mercado se voltou claramente para o modelo concorrente, o VHS desenvolvido pela JVC. Esta empresa optou por uma rota de “open sharing”, permitindo múltiplos concorrentes produzindo no mesmo padrão. Em 1988, a Sony finalmente reconheceu a sua derrota, e também começou a produzir no padrão vencedor. O “mercado”, ou seja, os consumidores escolheram qual o padrão iria predominar.

Esta lição deveria ser mais freqüentemente lembrada por aqui. Não é a cerveja mais apreciada por alguns políticos que o povo deverá tomar, mas a que cada um preferir, de acordo com a livre concorrência dos produtores. O mesmo vale para carros, geladeiras, computadores, celulares e sim, até padrão de TV digital. O caminho alternativo, de concentrar o poder de escolha nas mãos de poucos políticos poderosos, é o caminho seguro para maior corrupção e insatisfação popular. Acabamos com grupos de interesses disputando, pela via política, quem vence a batalha. Em vez da satisfação do consumidor ser a prioridade número um, convencer os poucos burocratas passa a ser o foco principal. O suborno, para capturar a burocracia poderosa, fica irresistível. E o padrão escolhido não guardará necessariamente correlação alguma com a preferência dos indivíduos.

Por fim, o alerta do austríaco Ludwig von Mises*: “Uma política de medidas restritivas favorece os produtores, enquanto uma política que não interfere no funcionamento do mercado favorece os consumidores”.


* Quem quiser conhecer mais sobre Mises acesse este sítio. (Nota do Blog)


Publicado em 10/02/2006 em Diegocasagrande.com.br

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