24/11/2009

Imitação de Cristo: conselhos para o estudante de filosofia e teologia

Suspeito que entre os leitores deste blog há alguns que fazem filosofia em faculdades espalhadas pelo Brasil, os que fazem o curso do Prof. Olavo, imperdível e os que fazem o curso do Prof. Carlos Nougué, também imperdível. Os dois últimos valem muito mais do que qualquer curso universitário. Há de haver também estudantes de teologia.

Resolvi, então, publicar os conselhos do livro IMITAÇÃO DE CRISTO para quem estuda filosofia ou teologia. São eles os capítulos 29, 39, 41 e 47 do Livro III.


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Capítulo 29 – Como se deve invocar a Deus, durante a tribulação

1. Alma fiel: – Senhor, bendito seja para sempre o vosso santo nome, porque quisestes que sobre mim viesse esta prova e tribulação. Não posso evitá-la; mas é necessário que a vós recorra, para que me ajudeis e convertais tudo em meu proveito.

Senhor, estou agora atribulado e não está bem o meu coração; muito me atormenta o presente sofrimento.

E, agora, Pai amantíssimo, que direi? Estou mergulhado em angústias; livrai-me desta hora.

E cheguei a este extremo, para que sejais glorificado, quando eu, depois de muito abatido, for por vós libertado.

Dignai-vos, Senhor, salvar-me; porque, pobre de mim, que farei e aonde irei sem vós?

Dai-me paciência, Senhor, ainda por esta vez.

Socorrei-me, Deus meu, e nada temerei por mais que esteja atribulado.

2. E agora, neste estado, que direi? Senhor, faça-se a vossa vontade. Bem mereço essas tribulações e angústias.

Convém que eu sofra e oxalá com resignação o faça, até que passe a tormenta e venha a bonança.

Poderosa é vossa mão onipotente para desviar de mim esta tentação e moderar-lhe a violência, para que eu não sucumba de todo; assim como muitas vezes tendes feito comigo. Deus meu, misericórdia minha.

E quanto mais difícil para mim, tanto mais fácil é para vós esta mudança da dextra do Altíssimo.


Capítulo 39 – Da calma que se deve conservar nos negócios

1. Cristo: – Filho, confia-me sempre a tua causa, disporei tudo bem, a seu tempo.
Espera pela minha decisão e disso tirarás proveito.

2. A alma fiel: – Senhor, de mui boa vontade, deponho em vossas mãos todos os meus negócios; porque pouco pode aproveitar a minha diligência.

Oxalá não me inquietasse com os sucessos futuros, mas, prontamente me entregasse ao vosso beneplácito!

3. Cristo: -- Filho, muitas vezes procura o homem, ansiosamente, alguma coisa que deseja; quando, porém, a alcança, começa a pensar de outro modo; porque as afeições não são duráveis e passam, facilmente, de um a outro objeto.

Não é, pois, pequena coisa, mesmo nas coisas mínimas, cada um renunciar-se a sim mesmo.

Mas o antigo adversário de todo o bem não deixa de tentar; ao contrário, dia e noite, arma cruéis ciladas, para precipitar o incauto nos laços do seu engano.

Vigiai e orai, diz o Senhor, para que não entreis em tentação.


Capítulo 41 – Do desprezo de toda honra temporal

1. Cristo: – Filho, não te entristeças, se vires que outros são honrados e exaltados, ao passo que tu és desprezado e humilhado.

Levanta para mim nos céus o teu coração e não te afligirá o desprezo dos homens na terra.

2. A alma fiel: – Senhor, somos cegos e facilmente nos deixamos seduzir pela vaidade.

Se bem me examinar, verei que nunca recebi injúria de criatura alguma; não tenho, pois, justo motivo de queixa contra vós.

Como, porém, tenho pecado, freqüente e gravemente, contra vós, é justo que se armem contra mim todas as criaturas.

Confusão e desprezo, eis o que, justamente, a mim cabe; a vós, porém, louvor, honra e glória.

E enquanto não estiver disposto a querer, de bom grado, ser desprezado e abandonado por todos e ser tido absolutamente por nada, não poderei adquirir a paz e estabilidade interior. Não serei espiritualmente iluminado, nem perfeitamente unido a vós.


Capítulo 47 – Como se devem suportar todos os trabalhos pela vida eterna

1. Cristo: – Filho, não esmoreças nos trabalhos empreendidos por amor de mim; não te desalentes nas tribulações; mas em todos os acontecimentos a minha promessa te fortaleça e console.

Posso recompensar-te acima de todas as medidas e limites. Não trabalharás aqui muito tempo, nem estarás sempre acabrunhado de dores.

Espera um pouco, e verás o término dos teus males.

Virá uma hora em que cessarão as tuas penas e angústias todas.

Pouco e breve é tudo que se passa com o tempo.

2. Faze bem o que fazes; trabalha fielmente na minha vinha; serie eu mesmo o tem galardão.

Escreve, lê, canta, geme, guarda silêncio, fala, sofre varonilmente as adversidades; de tudo isso é digna a vida eterna e de maiores combates ainda.

A paz virá um dia, que do Senhor é conhecido e não haverá mais dias e noites, como no tempo presente; senão perpétua luz, infinita claridade, firme paz e seguro repouso.

Então não dirá: Quem me livrará deste corpo de morte? Nem exclamarás: Pobre de mim, que se prolonga o meu desterro!

Porque a morte será destruída e eterna será a salvação; livre de toda ansiedade, gozarás de jubilosa ventura, em meio de agradável e brilhante companhia.

3. Oh! Se visses as coroas imarcessíveis dos santos do céu, com quanta glória exultam agora aqueles que, outrora, o mundo desprezava julgava indignos de viver! Por certo que logo te prostrarias até o chão e preferirias estar sujeito a todos os homens, que mandar a um só.

Não cobiçarias os dias felizes desta vida; ao contrário, folgarias de ser atribulado por amor de Deus e considerarias grande vantagem ser tido por nada entre os homens.

4. Oh! Se gostasses dessas coisas e penetrassem elas, profundamente, no teu coração, com ousarias, uma vez sequer, queixar-te?

Será pequena coisa perder ou ganhar o reino de Deus?

Levanta, pois, os olhos para o céu. Eis-me aqui com todos os meus santos, que, neste mundo, sustentaram grandes combates e agora se sentem consolados, agora estão seguros, agora repousam e permanecerão para sempre comigo, no reino de meu Pai.

Um comentário:

Fernando disse...

Caro Prof. Antônio,

Lendo esse "post" lembrei-me das palavras de S.Boaventura:
"Não basta a leitura sem a unção,
não basta a especulação sem a devoção,
não basta a pesquisa sem maravilhar-se,
não basta a circunspecção sem o júbilo,
o trabalho sem a piedade,
a ciência sem a caridade,
a inteligência sem a humanidade,
o estudo sem a graça.

Um grande abraço,

Fernando.