29/12/2009

Santo Afonso de Ligório: o modernismo presente em sua Congregação

Na introdução ao livro de Santo Afonso, “A Prática de Amor a Jesus Cristo”, o Pe. Francisco Costa, que é Redentorista, depois de duas ou três páginas de comentários sobre o livro, acrescenta o seguinte: “Agora, é importante que quem lê esse (sic!) livro tenha bem presente que ele foi publicado pela primeira vez em 1768. Por isso certos conceitos expressos nele são daquele tempo.”

Esta frase faz acender uma luz vermelha em meu detector de modernista. Fico esperando o pior. E o pior aparece logo.

O livro de Santo Afonso está traduzido “em quase todas as línguas faladas no mundo” e foi considerado pelo santo como a “mais devota e útil” de suas obras, nos informa Pe. Francisco. Santo Afonso é também o criador da Congregatio Santissimi Redemptoris, ou seja, dos Redentoristas, Congregação a que pertence Pe. Francisco.

O autor da introdução continua: “Vamos perceber que certos conceitos cristológicos que nele aparecem não se ajustam com a cristologia de nosso tempo. Mas quem quiser estudar cristologia deverá buscar outros livros escritos nos tempos de hoje.” Quais seriam estes conceitos o padre não nos informa.

Pe. Francisco avança mais nos dizendo: “é bom alertarmos para a evolução de certos conceitos a respeito das virtudes da humildade, da obediência, do amor ao sofrimento. Tudo isso sofre o condicionamento do tempo.” A luz vermelha agora está piscando e uma sirene começa a tocar. Parece que identificamos um modernista em seu pleno vigor. Um modernista Redentorista impugnando parte da obra de Santo Afonso, criador de sua Congregação.

Vamos escutar Santo Afonso sobre a humildade. Cito alguns trechos da obra.

“Que ama a Deus é verdadeiramente humilde. Não se orgulha vendo em si algumas boas qualidades. Sabe que tudo quanto possui é dom de Deus; de seu, só tem o nada e o pecado. Por isso, conhecendo os dons concedidos por Deus, mais se humilha, sentindo-se indigno e tão favorecido por Deus.”

“Achando-se perto da morte, São João Ávila, que teve uma vida santa desde a juventude, veio assisti-lo um sacerdote que lhe dizia coisas muito sublimes, tratando-o como um grande servo de Deus e como um grande sábio, o que ele era de fato. Mas João lhe disse: ‘Padre, peço-lhe que recomende a minha alma como se faz a um malfeitor condenado à morte; porque eu sou isso’. É isto o que sentem os santos!”

“Para ser humilde não basta ter um baixo conceito de si e da própria fraqueza. Diz Tomás de Kempis que o verdadeiro humilde é aquele que reconhece seu nada e se alegra nas humilhações.”

“Causa admiração e escândalo uma pessoa que comunga com freqüência e depois se ressente com qualquer palavra de desprezo.”

Santo Afonso está desatualizado, nos garante Pe. Francisco. Ele diz que lendo o livro, “às vezes fica a impressão de que a humildade consiste numa negação de si mesmo e de seus valores; numa renúncia aos direitos e à dignidade da pessoa humana.” Padre Francisco contrapõe ao conceito de humildade do grande Santo Afonso os direitos e a dignidade da pessoa humana. Meu Deus! Será isso ignorância invencível? Quem dera fosse! Mas não, isso é um padre corroído de modernismo até a alma. Pe. Francisco! ouça apenas esta frase: o humilde “sabe que tudo quanto possui é dom de Deus; de seu, só tem o nada e o pecado.” Ninguém fica com a impressão de que humildade é negação de si mesmo e de seus valores. Humildade é isso e muito mais. Que direito ou dignidade temos diante de Deus, quando tudo que temos de bom foi ele que nos deu e tudo que temos de ruim nós construímos?

Pe. Francisco continua intrépido: “Também quando fala da obediência, o autor não foge ao pensamento da época: obediência cega. Não se pensava ainda numa obediência co-responsável, na necessidade do diálogo dentro da comunidade para se descobrir a vontade de Deus e assim obedecer conscientemente.” Segundo Pe. Francisco, para saber a vontade de Deus, temos de convocar uma assembléia e decidir numa votação. Será que vale a maioria simples ou qualificada? Vontade de Deus decidida no voto!

Santo Afonso, graças a Deus, discorda de Pe. Francisco. Diz o santo: “Se queremos ser santos, todo o nosso esforço deve ser de nunca seguir nossa vontade, mas sempre a vontade de Deus; o resumo de todos os preceitos e conselhos divinos se reduz em fazer e sofrer aquilo que ele quer e como ele quer. Peçamos, portanto, ao Senhor que nos dê a santa liberdade de espírito.” O santo nos dá uma dica preciosíssima para descobrirmos a vontade de Deus: “Não se preocupa em fazer muitas coisas, mas procura realizar perfeitamente aquilo que acha ser a vontade de Deus. Por isso coloca as menores obrigações de seu estado antes das ações mais grandiosas e gloriosas, porque percebe que nestas pode haver lugar para o amor próprio, enquanto que naquelas se encontra certamente a vontade de Deus.” Comparem agora a assembléia do Pe. Francisco com os conselhos de Santo Afonso e escolham o que acharem melhor.

Há muitas outras coisas similares na introdução ao livro do santo de que pouparei os leitores. Há coisas piores. Padre Gervásio Fábri dos Anjos, também redentorista e tradutor do livro, achou por bem omitir um trecho do livro que traduziu. Isso acontece quanto Santo Afonso está discorrendo sobre como se comungar bem. Note que a preparação para a comunhão é, para nós católicos, de suma importância. Mas a palavra do santo é cortada e uma nota de rodapé nos informa: “Transcreve Santo Afonso neste parágrafo as normas práticas sobre a comunhão freqüente segundo a mentalidade da época. Por serem ultrapassadas, omitimos para não confundir os leitores menos avisados.” [Página 106, nota 68, Editora Santuário, 1982.] Vejam, Pe. Gervásio nos está protegendo contra as palavras de Santo Afonso.

Em primeiro lugar, isso é um absurdo em qualquer caso. Um tradutor tem, por obrigação ética, traduzir o texto do autor, mesmo que nele haja erros. No caso, o absurdo é ainda maior, pois está se cortando a palavra de um Santo e Doutor da Igreja, num assunto que é definido dogmaticamente pelo Concílio de Trento. Caso o padre-tradutor quisesse discordar do santo fundador de sua congregação, que ele o fizesse em nota de rodapé, depois de traduzir a passagem completa. Absurdo dos absurdos!

Fica o conselho que já dei aqui em outro post, quando comentei outros livros: leiam este livro, pois ele é muitíssimo importante, mas não leiam nem a introdução, nem as notas do tradutor.

23/12/2009

Mensagem de Natal de 2009: Por que o Verbo se encarnou?

E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós. (Jo 1, 14)


Deus criou todas as coisas do nada, “mas apiedou-se mais do gênero humano do que dos demais seres existentes; não se contentou com criar os homens, conforme fizera a todos os animais irracionais da terra, mas criou-os à sua imagem, fazendo-nos partícipes do poder de seu próprio Verbo, como uma espécie de sombra do Verbo.” Isto nos diz Santo Atanásio, o santo que venceu Ário, o primeiro dos grandes heresiarcas que quase destruiu a Igreja.

O santo continua ainda dizendo: “Ora, Deus não apenas nos tirou do nada, mas pela graça do Verbo, fez-nos viver segundo Deus. Os homens, contudo, se desviaram dos bens eternos, e por instigação do diabo, voltaram-se para as coisas corruptíveis, tornando-se deste modo para si mesmos causa de morte.” Diz ainda: “Com a presença do Verbo, a corrupção natural não nos teria tocado.”

Com o pecado de Adão e Eva, contra os homens se desencadearam a corrupção e a morte com toda a sua força, não podendo eles contar mais com a presença do Verbo. Com a expulsão do Paraíso, caímos na morte. Depois da Queda, “os homens contudo não se detiveram em certos limites, mas avançando pouco a pouco, ultrapassaram finalmente qualquer medida”, nos diz Atanásio. “Difundiram-se adultérios e roubos e toda a terra se encheu de morticínios e rapinas. ... todos rivalizaram em iniqüidade.”

Continua o santo: “Seria incoerente que a palavra de Deus mentisse no caso de que, promulgada com toda a certeza a lei de morte para o homem transgressor do preceito [não comer da árvore do bem e do mal], este não morresse após a transgressão, mas ficasse sem efeito a sentença divina. Deus não seria verídico, se após ter declarado que haveríamos de morrer, de fato, não morrêssemos. Por outro lado, não convinha que, uma vez criados, seres racionais e partícipes do próprio Verbo perecessem e, corrompidos, voltassem ao nada. Então, o que faria Deus, que é bom, uma vez que seres racionais pereciam e as obras divinas se precipitavam na ruína? (...) Era preferível não ser, do que ser e perecer por abandono.”

Este o dilema do Criador, nas palavras do grande santo que venceu o arianismo. Diz mais: “Por conseguinte, não convinha deixar os homens serem arrebatados pela corrupção, por ser isto impróprio e indigno da bondade de Deus. Por esta razão, o Verbo de Deus incorpóreo, incorruptível, imaterial veio a nossa terra, embora dela não estivesse longe anteriormente. De fato, ele não abandou parte alguma da criação, mas tudo enche, permanecendo, contudo, unido ao Pai. Mas, vem por condescendência, favorecendo-nos com sua filantropia e manifestação.”

Quando então, neste Natal, contemplarmos aquele Menino Deus na manjedoura, tenhamos consciência do momento extraordinário em que o Verbo se encarnou, para nos recuperar da Queda, da corrupção, da morte. Mas como é que o Verbo encarnado pode nos recuperar a incorruptibilidade? Responde Santo Atanásio: “O Verbo, portanto, compreendia que a corrupção dos homens de forma alguma poderia ser destruída, a não ser pela morte. Mas, era impossível que o Verbo morresse por se imortal, ele, do Pai o Filho. Por isso, assume corpo mortal, a fim de que este, partícipe do Verbo, superior a tudo, seja capaz de morrer por todos, e graças ao Verbo que nele habita, permaneça incorruptível e doravante faça cessar em todos a corrupção, pela graça da ressurreição. Por conseguinte, qual sacrifício e vítima imaculada, oferece à morte o corpo que assumiu, e logo faz desaparecer a morte de todos os corpos idênticos ao seu, através da oferta de vítima correspondente. (...) Com efeito, pelo sacrifício de seu próprio corpo, ele pôs termo à lei que pesava sobre nós, renovou-nos o princípio da vida, deu-nos a esperança da ressurreição.”

Assim, Queda, Natal, Paixão e Ressurreição é toda a história de Amor de Deus para conosco. É isto exatamente que devemos festejar neste Natal: Deus nos ama e enviou seu Filho para nos resgatar. O poder do Pecado Original que pesava sobre nós pode ser vencido se colocarmos em prática as palavras de Seu Filho e se participarmos da Sua Vida que jorra através dos Sacramentos da Igreja. Com isso, voltaremos um dia ao Paraíso, à incorruptibilidade, à contemplação beatífica de Deus.

A todos os leitores deste blog, desejo um Santo Natal, no seio da Igreja Católica, fora da qual não há Salvação.

19/12/2009

Padre Gelson defende “frei” Betto e dirige doces palavras ao blogueiro

Padre Gelson, sendo admirador de “frei” Betto, escreve ao blog para protestar contra o artigo Ufa! “Frei” Beto, finalmente, confessa não ser católico. A primeira grande lição, sutil é verdade, que o doce padre me dá é que o apelido do “frei” se escreve com “tt”. Fica mais sofisticado mesmo! Não pega bem para alguém tão moderno, com tantas idéias novas – como o aborto, a modernização da Igreja, o ecumenismo, o comunismo, etc. – não pega bem se chamar apenas Beto. Este nome talvez coubesse a um carpinteiro da Galiléia, mas não a pessoa tão sofisticada, de idéias tão avançadas.

Mas vamos à mensagem simpática do padre Gelson: “Olá...leio aqui abaixo que os comentários devem ser aprovados pelo autor do blog: portanto, vc só posta o que te interessa. Mesmo assim, voce lendo meu comentário já basta. Você é analfabeto pois nem sabe que a palavra TEMOR, tem dois sentidos. tire esse lixo de blog do ar e para de publicar idéias ridículas sobre nosso querido frei Betto. Grato! Padre Gelson

É verdade, Pe. Gelson, eu só posto o que me interessa. Foi para isto que criei o blog. Aqui só se publica o que me interessa. Mas veja que seu comentário me interessou. Interessou-me tanto que ele ganhou um post.

Interessou-me primeiro pela sua maneira educada de se dirigir a mim: chamou a mim de analfabeto, ou seria analfabetto?, e ao meu modesto blog de lixo. Analfabeto, considero que não sou, pois escrevo bastante aqui, e em outros lugares, e também leio um bocado. Sua apreciação sobre o blog – lixo foi o adjetivo – é completamente aceitável. Um blog que se objetiva católico não pode agradar a todo mundo, nem à maioria. Não pode nem mesmo agradar a todos os padres, no atual momento da Igreja. E pode de fato ser que ele seja mesmo muito ruim. Aceito sua apreciação com tranqüilidade, creia-me.

Interessou-me, em segundo lugar, pela fúria que lhe causou minhas observações sobre as idéias de seu querido “frei” Betto. Mas, padre, sendo eu católico e sendo o senhor padre, não daria para o senhor, ao invés da fúria – da ira, do descontrole – tentar me explicar o que tem a ver os dois significados da palavra TEMOR, com o que eu disse sobre “frei” Betto? Sua ira lhe impediu de ler um dos comentários que faço no referido post sobre os dois temores: o filial e o servil. O senhor está, por acaso, dizendo que não devemos um desses temores a Deus? Que não Lhe devemos o temor filial? Que não Lhe devemos o temor servil? Não creio que seja isso, pois se o senhor negar quaisquer desses dois temores a Deus, o senhor cometerá falta grave. Creio que o senhor não sendo analfabeto como pensa que sou, e sendo padre e tendo freqüentado algum seminário deve ter lido, pelo menos, os quatro primeiros capítulos do Eclesiástico. Eles são um pequeno tratado sobre o temor de Deus. O temor de Deus de que fala Santo Agostinho, citado no post em questão, é o temor nos dois sentidos, padre. Ele é o fundamento do catolicismo, do amor a Deus, do amor a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas, padre, isso são conceitos e idéias de um analfabeto, segundo sua avaliação. O senhor é padre e tem a obrigação de ensinar a Doutrina da Igreja, tem a obrigação de corrigir os fiéis em seus erros. Padre, diga-me, e a todos os meus leitores, onde está a falha no meu raciocínio, onde está o erro em minha análise. Digo que ninguém a que falte o temor a Deus, nos dois sentidos, pode ser considerado ou se considerar católico. Onde isto está errado? Corrija-me, padre, por caridade!

Uma observação sobre analfabetos, padre. À frase “tire esse lixo de blog do ar e para de publicar idéias ridículas” falta, no mínimo, o fundamental paralelismo verbal. Sendo a frase imperativa, ou bem o senhor diz “tire esse lixo de blog do ar e pare de publicar idéias ridículas” – neste caso, o senhor estaria usando a terceira pessoa, você – ou bem o senhor diz “tira esse lixo de blog do ar e para de publicar idéias ridículas” – caso em que o senhor estaria usando a segunda pessoa, tu. Ficaria melhor também que o senhor dissesse “este blog” no lugar de “esse blog”, pois o senhor estava postando um comentário no próprio blog.

Mas, padre, isso não tem importância nenhuma, pois o senhor tornou muito clara a sua confusa fúria.

16/12/2009

AS GRANDES HERESIAS: o livro que não querem que você leia

Isto é o que nos informa Anthony Esolen em seu “The Politically Incorret Guide to WESTERN CIVILIZATION” (Guia Politicamente Incorreto da CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL).

A série dos “Politically Incorret Guide (PIG)” é publicada pela Editora Regnery e se compõe de muitos livros interessantes. Há um sobre a Ciência e as mentiras que se falam em seu nome. Há outro sobre o Islã, cujo autor está em local secreto. Há outro sobre o darwinismo.

Pelo nome, dá para perceber que são obras que vão contra a corrente da cultura esquerdista atual. Todos os livros da série citam obras inconvenientes para a cultura esquerdista. Estas obras são chamadas “aquelas que não querem que você leia”.

Quem são os que não querem que leiamos certos livros? No dizer de Elizabeth Kantor (autora de um PIG sobre literatura inglesa e americana) são “os vândalos que tomaram o controle das universidades e que não querem que os estudantes aprendam. Mais e mais, vivemos com viseiras, ignorantes de tudo exceto as modas atuais.”

Pois bem, Esolen em seu livro sobre a Civilização Ocidental coloca como um dos livros que os vândalos não querem que você leia AS GRANDES HERESIAS, de Belloc. Dentre outros, ele também coloca a Bíblia, O Homem Eterno, de Chesterton, Religion and the Rise of Western Culture, de Christopher Dawson, etc.

Esolen diz sobre o livro de Belloc: “Sempre vale a pena ler Belloc, pois ele é agradável e perspicaz, mas o tratamento que ele dá às heresias – desde a heresia ariana, passando pela catastrófica heresia islâmica, até a aparentemente benigna heresia moderna – é envolvente e magnífico. É uma condenação de todas as coisas contrárias ao bom, ao belo e ao verdadeiro. Como tal, é certo que ele ofenda a muitos – um sinal seguro de que atingiu o alvo.”

Os leitores brasileiros podem ler esta obra que acaba de ser lançada, em português, pela Editora Permanência.

11/12/2009

As superstições do protestante

Do livro "A Coisa", publicado em 1929.

Gilbert Keith Chesterton

Aquele delicioso jogo de adivinhação, que tem há muito tempo causado uma alegria inocente em tantas famílias católicas, o jogo de adivinhar em qual linha de um artigo sobre, por exemplo, paisagem ou Elegia Latina, flagraremos o deão da Catedral de São Paulo[1] apresentando o antídoto ao Anti-Cristo; ou a trama papal revelada – este que é o mais familiar de nossos jogos católicos de salão me entreteve como um tipo de substituto das palavras cruzadas, quando achei que tinha encontrado um feliz exemplo. Escrevi acima sobre “famílias católicas”, mas quase escrevi, por força de associações, “lareiras católicas”. Imagino que o deão realmente pensa que, mesmo com este clima, matemos os fogos domésticos acesos, como o fogo de Vesta, em permanente expectativa de reascender os fogos de Smithfield. Seja como for, esse tipo de jogo de adivinhação ou palavra cruzada é raramente decepcionante. O deão já deve então ter tentado centenas de formas de chegar a seu adorado assunto; e mesmo ocultá-lo, como um canhão disfarçado, até que ele lance o bombardeio numa perfeita explosão de mau humor. Então as palavras cruzadas não são mais um quebra-cabeça, embora as palavras sejam suficientemente apropriadas; especialmente aquelas devotadas o grande processo histórico de desfazer a Cruz.

No caso desse artigo particular, foi somente próximo ao seu final que o assunto real saltou sobre o leitor numa emboscada. Acho que era um artigo geral sobre superstição; e, sendo um artigo jornalístico de um tipo moderno, era claramente devotado a discutir superstição sem defini-la. Num artigo inteligente desse tipo, pareceu suficiente ao escritor sugerir que superstição é algo que ele não gosta. Algumas coisas são também do tipo que eu não gosto. Mas tal escritor não é razoável nem quando está certo. Um homem deve ter uma objeção algo mais filosófica a histórias de má sorte do que chamá-las de credulidade; tanto quanto um homem deve ter uma objeção mais filosófica à Missa do que chamá-la de magia. Dificilmente seria uma refutação aos espiritualistas provar que eles acreditam em espíritos; ou uma refutação aos deístas provar que eles acreditam numa divindade. Credo, crença e credulidade são palavras de mesma origem e podem ser, de muitas formas, jogadas para lá e para cá. Mas quando um homem supõe a absurdidade em algo que todos os outros acreditam, desejamos, em primeiro lugar, saber em que ele acredita; em que princípio ele acredita; e, acima de tudo, em que princípio ele não acredita. Não há traço de algo parecido com isso na peça de jornalismo metafísico do deão. Se ele tivesse parado para definir seus termos, ou, em outras palavras, para nos dizer de que falava, tal análise abstrata teria preenchido algum espaço no artigo. Talvez não sobrasse espaço para todo o alarido contra o Papa.

O deão da Catedral de São Paulo pôs a mão na massa num parágrafo na segunda metade de seu artigo, em que ele revela aos seus leitores todos os horrores de uma citação de Newman; uma passagem muito chocante e vergonhosa em que o apóstata degradado diz que está feliz com sua religião e em estar cercado pelas coisas de sua religião; que aprecia ter objetos que tenham sido abençoados pelos santos e bem-aventurados, que há um sentido em ser protegido por orações, sacramentais, etc.; e que a felicidade de tal tipo satisfaz a alma. O deão, tendo nos dado este apavorante relance da condição espiritual do cardeal, fechou a cortina com um grunhido e diz que isso é paganismo. Que diferença da ortodoxia cristã de Plotino!

É exatamente esse pequeno relance que me interessa; não tanto um relance da alma do cardeal, mas da mente do deão. Pereceu-me repentinamente que vejo, numa forma muito mais simples que anteriormente, a real questão entre ele e nós. E a coisa curiosa sobre a questão é esta: que o que ele pensa sobre nós é exatamente o que pensamos sobre ele. O que eu, por exemplo, sinto mais intensamente, na consideração de um caso como o do deão e sua citação do cardeal, é que o deão é um homem ilustre, inteligente e culto, sempre interessante, algumas vezes justo, ou pelo menos justificado ou justificável; mas que ele é antes de tudo defensor de uma superstição, como esta seria compreendida por alguém que a pudesse definir. O que a faz ainda mais divertida é que ela é, num sentido assaz especial, uma superstição pagã. Mas o que a faz intensamente interessante, pelo menos para mim, é que o deão é devotado ao que pode ser chamado, por excelência, de uma supersticiosa superstição. Quero dizer que ela é, num sentido especial, uma superstição LOCAL.

O deão Inge é uma pessoa supersticiosa porque está adorando uma relíquia; uma relíquia no sentido de uma coisa remanescente. Ele está idolatricamente adorando o fragmento de algo; simplesmente porque aquele algo casualmente sobreviveu num lugar chamado Inglaterra; numa forma assaz surrada chamada protestantismo cristão. É como se um patriota local venerasse a estátua de Nossa Senhora de Walsingham somente porque ela estivesse em Walsingham e sem nem mesmo lembrar que ela está no Paraíso. É ainda mais como se ele venerasse um fragmento lascado do dedo da estátua e esquecesse de onde ele tinha vindo e ignorasse completamente a Nossa Senhora. Não penso que seja supersticioso respeitar a lasca em relação à estátua, ou a estátua em relação ao santo, ou o santo em relação ao esquema da teologia e filosofia. Mas penso ser supersticioso venerar, ou mesmo aceitar, o fragmento porque ele casualmente está lá. E o deão Inge aceita o fragmento chamado protestantismo porque ele casualmente está lá.

Consideremos, por um momento, toda a questão, como fazem os filósofos; envoltos num ar universal acima de todas as superstições locais como a do deão. É óbvio que há três ou quatro filosofias ou cosmovisões possíveis aos homens razoáveis; e, em grande parte, elas estão incorporadas nas grandes religiões ou no amplo campo da irreligião. Há o ateu, o materialista ou monista ou qualquer nome que ele se dê, que acredita que tudo é, em última análise, material, e tudo que é material é mecânico. Esta é enfaticamente uma cosmovisão; não muito brilhante ou animadora, mas é uma em que é possível encaixar muitos fatos da existência. Então há o homem normal com sua religião natural, que aceita a idéia geral de que o mundo tem um projeto e portanto um projetista; mas sente que o Arquiteto do universo é inescrutável e remoto, tão remoto em relação ao homem quanto o é em relação ao micróbio. Esse tipo de teísmo é perfeitamente são; e é realmente a antiga base da sólida e algo estagnada sanidade do Islã. Há ainda o homem que sente o peso da vida tão amargamente que deseja renunciar a todo desejo e toda divisão e restituir um tipo de unidade e paz espiritual da qual nossos eus individuais nunca deveriam ter se separado. Esse é o temperamento ao qual o budismo, e muitos místicos e metafísicos, responde. Então há um quarto tipo de homem, algumas vezes chamado místico, que talvez devesse ser chamado mais propriamente de poeta; na prática ele pode muito freqüentemente ser chamado de pagão. Sua posição é esta: este é um mundo crepuscular e não sabemos quando ele termina. Se não sabemos o suficiente para abraçarmos o monoteísmo, muito menos o sabemos para abraçarmos o monismo. Pode haver um mundo além; mas podemos apenas perceber algumas pistas dele; podemos nos deparar com uma ninfa na floresta; podemos ver fadas nas montanhas. Não sabemos o suficiente sobre o natural para NEGAR o preternatural. Esse foi, nos tempos antigos, o mais saudável aspecto do paganismo. Esse é, nos tempos modernos, a parte racional do espiritualismo. Todas essas são possíveis como visões gerais da vida; e há uma quarta que é, pelo menos, igualmente possível, embora certamente mais positiva.

Toda a questão dessa última posição pode ser expressa no verso de um belo poema de M. Cammaerts sobre jacintos; LE CIEL EST TOMBE PAR TERRE. O Céu desceu ao mundo da matéria; o poder espiritual supremo está agora operando através da máquina da matéria, ocupando-se milagrosamente com os corpos e almas dos homens. Ele abençoa todos os cinco sentidos; tal como os sentidos do bebê são abençoados pelo batismo católico. Ele abençoa até mesmo os presentes e as lembranças, como relíquias e rosários. Ele opera através da água e do óleo, ou do pão e do vinho. Ora, esse tipo de materialismo místico pode agradar ou não o deão, ou qualquer outra pessoa. Mas não posso de forma alguma entender porque o deão, ou qualquer outra pessoa, não VÊ que a Encarnação é tão parte dessa idéia quanto a Missa; e que a Missa é tão parte dessa idéia quando a Encarnação. Um puritano pode considerar blasfêmia que Deus possa se tornar uma hóstia. Um muçulmano pode considerar blasfêmia que Deus possa se transformar num trabalhador na Galiléia. E ele está perfeitamente certo, de seu ponto de vista; e dado seu princípio primário. Mas se o muçulmano tem um princípio, o protestante tem apenas um preconceito. Isto é, ele tem somente um fragmento; uma relíquia, uma superstição. Caso seja profano que o miraculoso deva descer ao plano da matéria, então o catolicismo é certamente profano; e o protestantismo é profano; e o cristianismo é profano. De todos os credos e conceitos humanos, nesse sentido, o cristianismo é o mais completamente profano. Mas porque um homem deveria aceitar um Criador que era um carpinteiro e então se preocupar com a água benta, porque ele deveria aceitar uma tradição protestante local de que Deus nasceu em algum lugar particular mencionado na Bíblia, meramente porque a Bíblia foi deixada em algum lugar na Inglaterra, e então dizer que não se pode acreditar que uma benção possa permanecer nos ossos de um santo, porque ele deve aceitar a primeira e mais estupenda parte da história do Céu descendo sobre a Terra e então furiosamente negar algumas poucas e pequenas deduções a partir disso – esta é a coisa que eu não entendo; nunca pude entender; cheguei à conclusão de que nunca poderei entender. Posso apenas e tão somente atribuí-la à superstição.

[1] Ver RAÍZES DA SANIDADE. (N. do T.)

07/12/2009

Festa da Imaculada Conceição – Oração de Santo Afonso de Ligório

Fato histórico – Pelos fins do século VII apareceram alguns hinos, e, a partir do século VIII, celebravam-se em vários conventos do Oriente festas em louvor da Imaculada Conceição. Em 1166, o imperador Manuel Comneno declarou a festa como feriado nacional. Do Oriente veio ela para o sul da Itália, donde passou para a Normandia. Mais tarde, tornaram-se os franciscanos inconfundíveis beneméritos da propagação e popularização da festa. Veio depois o período das discussões teologais nas escolas. Nelas ficaram bem assentadas e esclarecidas as noções e as provas. Pôde assim Pio IX declarar dogma de fé a doutrina que ensina ter sido a Mãe de Deus concebida sem mancha, por um especial privilégio divino. Dava-se isto aos 8 de dezembro de 1854, pela Bula Ineffabilis. Pio IX, ao declarar S. Afonso doutor da Igreja, afirmou “que nos escritos do santo encontrara, belamente exposto e irrefutavelmente provado”, o que definira como Chefe da Cristandade.


Oração – Ó minha Senhora, minha Imaculada, alegro-me convosco por ver-vos enriquecida de tanta pureza. Agradeço e proponho agradecer sempre a nosso comum Criador por ter-vos ele preservado de toda mancha de culpa. Disso tenho plena convicção, e para defender este vosso tão grande e singular privilégio da Imaculada Conceição, juro dar até a minha vida. Estou pronto a fazê-lo, se preciso for. Desejaria que o mundo universo vos reconhecesse como aquela formosa aurora, sempre adornada da divina luz; como aquela arca eleita de salvação, livre do comum naufrágio do pecado; como aquela perfeita e imaculada pomba, qual vos declarou vosso divino Esposo; como aquele jardim fechado, que foi as delícias de Deus; como aquela fonte selada, na qual o inimigo jamais pôde entrar para turvá-la; como aquele cândido lírio, finalmente, que, brotando entre os espinhos dos filhos de Adão, enquanto todos nascem manchados da culpa e inimigos de Deus, vós nascestes pura e imaculada, amiga de vosso Criador.

Consenti, pois, que ainda vos louve, como vos louvou vosso próprio Deus; Toda sois formosas e em vós não há mancha. Ó pomba puríssima, toda cândida, toda bela, sempre amiga de Deus! Dulcíssima, amabilíssima, imaculada Maria, vós que sois tão bela aos olhos do Senhor, não recuseis olhar com vossos piedosíssimos olhos as chagas tão asquerosas de minha alma. Olhai-me, compadecei-vos de mim, e curai-me. Ó belo irmã dos corações, atraí para vós também este meu miserável coração. Tende piedade de mim, que não só nasci em pecado, mas ainda depois do batismo manchei minha alma com novas culpas, ó Senhora, que desde o primeiro instante de vossa vida aparecestes bela e pura aos olhos de Deus. Que, graça vos poderá negar o Deus que vos escolheu para sua Filha, sua Mãe e sua Esposa, e por essa razão vos preservou de toda mancha? Virgem Imaculada, a vós compete salvar-me, dir-vos-ei com S. Filipe Néri. Fazei que me lembre de vós; e não vos esqueçais de mim. Parece tardar mil anos o momento de ir contemplar vossa beleza no Paraíso, para melhor louvar-vos e amar-vos, minha Mãe, minha Rainha, minha Amada, belíssima, dulcíssima, puríssima, imaculada Maria. Amém.

03/12/2009

Richard Lindzen e o aquecimento global

Richard Lindzen

Nota do tradutor: Traduzi este artigo para o MSM em 2007. Bem antes, portanto, do atual escândalo do aquecimento global. Note que o Dr. Richard Lindzen antecipa quase tudo sobre este escândalo. O alarmismo, a tentativa de esconder dados originais, a revisão polarizada de trabalhos científicos pelos pares, etc. Todas estas coisas são componentes do atual escândalo. Quem quiser saber das credenciais científicas do Dr. Lindzen pode consultar suas publicações constantes em sua página pessoal. Lá aparecem também, sob o nome de “outras publicações”, artigos em jornais e depoimentos prestados perante o Senado e a Câmara dos Deputados dos EUA em várias oportunidades.


Tem havido repetidas alegações de que os furacões do ano passado foram um outro sinal de mudanças climáticas induzidas pelo homem. Tudo, da onda de calor em Paris às fortes nevascas em Búfalo, tem sido debitado na conta de quem queima gasolina em seus carros e carvão e gás natural para aquecer, refrigerar e eletrificar suas casas. Há de se perguntar, como um aumento de um mísero e mal discernível grau centígrado na temperatura média global desde o século XIX ganha aceitação pública como a fonte das recentes catástrofes climáticas?

A resposta tem muito a ver com mal-entendidos a respeito da ciência do clima, além da intenção de se depreciar essa ciência por meio de um triângulo de alarmismo. Afirmações científicas ambíguas sobre o clima são injetadas diariamente na mídia pelos interessados no alarmismo, fazendo crescer o suporte político dos “policy makers” que, como num moto-perpétuo, irão suprir os fundos necessários para mais pesquisas científicas e alimentar mais alarmes para incrementar o suporte político. Afinal, quem colocará dinheiro em ciência – não importa se para a AIDS, o espaço ou o clima – onde não houver nada realmente alarmante? Realmente, o sucesso do alarmismo climático pode ser avaliado pelo aumento dos gastos federais em pesquisas climáticas: de umas poucas centenas de milhões de dólares pré-1990 para US$ 1.7 bilhão hoje. Isto pode ser visto também nos altos investimentos em pesquisas por tecnologias alternativas, tais como energia solar, eólica, hidrogênio, etanol e carvão, assim como na área energética em geral.

Mas há um lado mais sinistro ainda em todo esse frenesi. Cientistas que não concordam com o clima de alarmismo têm visto seus fundos de pesquisa desaparecerem, seu trabalho ser escarnecido, além de serem acusados de serviçais da indústria petrolífera, “hackers” da ciência ou coisa pior. Conseqüentemente, mentiras sobre mudanças climáticas ganham credenciais científicas mesmo que sejam frontalmente contrárias à ciência em que, supostamente, elas se baseiam.

Para entender os mal-entendidos perpetuados sobre a ciência do clima e o clima de intimidação, é necessário ter uma idéia sobre questões científicas complexas que perpassam toda a discussão. Primeiramente, comecemos onde há concordâncias. O público, imprensa e “policy makers”, têm sido repetidamente informados do fato de que três alegações têm amplo apoio científico: que a temperatura global subiu um grau desde o final do século XIX; que os níveis de CO² na atmosfera subiu aproximadamente 30% no mesmo período; e que o CO² deve contribuir para um futuro aumento do aquecimento global. Essas alegações são verdadeiras. Contudo, o que o público não percebe é que as alegações nem constituem razão para alarme, nem estabelecem a responsabilidade humana sobre o pequeno aumento do aquecimento global que ocorreu. De fato, aqueles que fazem as mais alarmantes alegações demonstram, com isso, seu ceticismo sobre a própria ciência em que eles afirmam confiar. Não se trata apenas de que os alarmistas estão trombeteando resultados de modelos que sabemos estarem errados. Mas é que eles estão trombeteando catástrofes que não poderiam acontecer, mesmo que os modelos estivessem corretos, justificando assim investimentos custosos a fim de prevenir o aquecimento global.

Se os modelos estivessem certos, o aquecimento global reduziria a diferença de temperatura entre os pólos e o equador. Quando você tiver menor diferença de temperatura você terá menos estímulo para tempestades extra-tropicais, não mais. E, de fato, os resultados do modelo apóiam essa conclusão. Os alarmistas contam a favor de suas alegações a respeito das tempestades tropicais um comentário informal de Sir John Houghton do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), de que um mundo mais aquecido teria uma maior evaporação, com o calor latente provendo mais energia para os distúrbios. O problema com isso é que a habilidade da evaporação em produzir tempestades tropicais não depende só da temperatura, mas também da umidade – que quando menor, melhor para a produção de tempestades. Alegações de intenso aumento de temperatura são baseadas em que haja mais umidade, não menos – o que dificilmente explicaria um maior número de tempestades com o aquecimento global.

Mas, então, por que não temos mais cientistas denunciando abertamente essa ciência vagabunda?(1) Acredito que muitos cientistas têm se intimidado não meramente por dinheiro, mas por medo. Um exemplo: no início deste ano [2006], Joe Barton, deputado pelo Texas, enviou cartas ao paleoclimatologista Michael Mann e alguns de seus co-autores a procura de detalhes de uma análise, financiada por fundos públicos, que alega ter sido os anos 1990 a década mais quente e 1998 o ano mais quente do último milênio. A preocupação do Sr. Barton está baseada no fato de que o IPCC singularizou o trabalho do Sr. Mann com um meio de encorajar os “policy makers” a agirem. E eles assim agiriam, depois que seu trabalho pudesse ser replicado e testado – uma tarefa que tornou-se difícil por causa da recusa do Sr. Mann, um eminente autor do IPCC, em liberar detalhes de seu trabalho para análise. A defesa do Sr. Mann pela comunidade científica, apesar de tudo, foi imediata e ríspida. O presidente da Academia Nacional de Ciências – e também da Sociedade Americana de Meteorologia e da Associação Americana de Geofísica – formalmente protestou, dizendo que o deputado Barton ter singularizado o trabalho de um cientista tinha um cheiro de intimidação.

Tudo isso contrasta fortemente com o silêncio da comunidade científica quando anti-alarmistas estavam na mira do então Senador Al Gore. Em 1992, ele liderou duas audiências públicas no Congresso Americano, durante as quais tentou intimidar cientistas dissidentes, inclusive a mim, para que mudassem de posição e apoiassem seu alarmismo climático. Nem tampouco a comunidade científica reclamou quando o Sr. Gore, como vice-presidente, tentou envolver Ted Koppel (2) numa caça às bruxas para desacreditar os cientistas anti-alarmistas – o que o Sr. Koppel considerou, publicamente, inapropriado. E todos permaneceram mudos quando vários artigos e livros de Ross Gelbspan difamaram os cientistas que discordavam do Sr. Gore, chamando-os de pombos-correio da indústria do combustível fóssil.

Infelizmente, esta é apenas a ponta de um não derretido iceberg. Na Europa, Henk Tennekes foi demitido como diretor de pesquisas da Royal Dutch Meteorological Society depois de questionar os fundamentos do aquecimento global. Aksel Winn-Nielsen, ex-diretor da World Meteorological Organization da ONU foi pichado por Bert Bolin, primeiro presidente do IPCC, como um instrumento da indústria do carvão por questionar o alarmismo climático. Os respeitados professores italianos Alfonso Sutera e Antonio Speranza desapareceram do debate em 1991, aparentemente por perderem o financiamento para suas pesquisas, por levantarem questões inconvenientes.

E, além de tudo isso, há padrões peculiares em funcionamento nos periódicos científicos para aqueles artigos cujos autores levantam questões sobre a sabedoria científica da moda. Na Science and Nature tais artigos são comumente recusados sem passar por revisão, como sendo sem interesse. Contudo, mesmo quando tais artigos são publicados, os padrões mudam. Quando eu, juntamente com alguns colegas da NASA, tentamos determinar como as nuvens se comportam sob um regime de temperatura variável, descobrimos o que denominamos então “Efeito Iris”, por meio do qual nuvens superiores do tipo cirrus se contraem com o aumento de temperatura, propiciando uma retro-alimentação climática negativa muito forte, suficiente para reduzir a resposta ao aumento de CO². Normalmente a crítica aos artigos aparecem na forma de cartas aos periódicos, às quais os autores podem responder imediatamente. No entanto, neste caso (e em outros) um fluxo de artigos preparados apressadamente apareceram, alegando erros em nosso estudo, com nossas respostas demorando meses para aparecerem publicadas. A demora permitiu que nosso artigo fosse referido como “desacreditado”. De fato, há uma estranha relutância em se descobrir como o clima realmente se comporta. Em 2003, quando o relatório do U.S. National Climate Plan recomendava uma alta prioridade para o aprimoramento de nosso conhecimento sobre a sensibilidade climática, o National Reserch Council recomendava, ao invés disso, o apoio à pesquisa sobre o impacto do aquecimento – e não à pesquisa sobre se isso realmente acontecia.

Alarme, ao invés de curiosidade científica genuína é, ao que tudo indica, essencial para manter o financiamento. E somente os cientistas seniores podem hoje enfrentar essa tempestade alarmista e desafiar o triângulo de ferro dos cientistas alarmistas, dos seus apoiadores e dos “policy makers”.

Publicado por The Wall Street Journal em junho de 2006

Notas do Tradutor:

[1]. “Junk science” no original.

[2]. Influente âncora, de 1980 a 2005, do jornal Nigthline da rede de televisão ABC.

02/12/2009

Aquecimento Global: mais farsa e safadeza.

Vejam como o Deputado Henry Waxman, da Califórnia, presidente da poderosa Comissão de Energia e Meio-Ambiente da Câmara dos EUA, reage à pergunta se ele leu a restritíssima lei de Meio-Ambiente que a comissão tinha aprovado. A reportagem é de Glen Beck da Fox News.





Vejam também os personagens principais do escândalo do Clima, que está sendo chamado de Climagate.