30/12/2010

UM MONGE E A SUA CURIOSIDADE

Do livro Tesouro de Exemplos

Nota do blog: Com esta historinha linda, o blog deseja aos seus leitores um ano totalmente nas mãos de Deus. Que Ele seja providencial para vocês com têm sido para mim. Que Ele nos ensine Seus caminhos, com o fez para este mendigo feliz, que já participava da realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Vivia um monge no silêncio de seu mosteiro. Era sábio e santo. Permitiu Deus que uma curiosidade perturbasse a paz de sua alma: "Qual será atualmente no mundo - perguntava-se - das almas a mais santa?" "E a mais sábia e mais feliz, qual será?"

Estava no coro, às primeiras horas da manhã, orava e dirigia a Deus a mesma pergunta: "Senhor, das almas que vivem agora neste mundo, qual será a mais santa, mais sábia e mais feliz?" Ouviu uma voz que lhe dizia: "Vai ao pórtico da igreja e ali te dirão qual é".

O monge pôs o capuz na cabeça, meteu as mãos nas largas mangas do hábito e atravessou os claustros silenciosos. Chegou ao pórtico. Um pobre ali estava. Passara a noite estendido num banco de pedra e naquele momento espreguiçava-se, benzia-se.

- Bom dia, irmão disse-lhe o monge.

- Bom dia, respondeu o mendigo com rosto alegre e em tom de entusiasmo.

- Irmão, replicou o monge, pelo que vejo estás contente.

- Sempre estou contente.

- Sempre? Então és um homem feliz?

- Muito feliz respondeu o humilde mendigo.

- Feliz?... não creio. Dize-me: Quando tens fome e pedes esmola e não recebes... és feliz?

- Sim, padre, sou feliz, porque penso que Deus, meu Pai, quer que eu passe um pouco de fome. Ele também passou. Mas Deus é muito bom para mim; nunca me falta um pedaço de pão.

- Dize-me - prosseguiu o monge - quando está nevando no inverno e tu, tremendo de frio, vais de porta em porta, como um passarinho que salta de um galho para outro, és feliz?

- Sim, padre, muito feliz, porque penso: é Deus, meu Pai, que quer que passe um pouco de frio, pois também ele passou frio. Aliás, nunca me falta um palheiro, onde passar a noite.

Estava o monge admirado... contemplando-o de alto a baixo, disse:

- Tu me enganas... não és pobre.

Sorriu o mendigo e respondeu: Não, Padre, eu não sou um pobre.

- Logo vi. . . Então, quem és?

- Padre, disse o outro, sou um rei que viajo incógnito por este mundo.

- Um rei?... Um rei?... E qual é o teu reino?

- Meu reino é o meu coração, onde mando sobre minhas paixões! Tenho, porém, um reino muito maior. Vê o senhor esse céu imenso, tem visto o sol, as estrelas, o firmamento? Tudo isso é de Deus, meu Pai. Todos os dias ponho-me de joelhos muitas vezes e digo: "Pai nosso que estais nos céus, como sois grande, como sois sábio, como sois poderoso! Não vos esqueçais deste pobre filho que anda por este mundo. Creia-me: Quando chegar a morte, despirei estes andrajos e voarei para o céu, onde verei a Deus, meu Pai, e com Ele reinarei pelos séculos dos séculos".

O monge não perguntou mais. Baixou a cabeça e voltou ao coro; estava convencido de ter encontrado o homem mais santo, mais sábio e mais feliz neste mundo.

 

22/12/2010

O ESPÍRITO DE NATAL

Do livro A Coisa, 1929

G.K. Chesterton

Aventurei-me muito imprudentemente a escrever sobre o Espírito de Natal; e o assunto apresenta uma dificuldade preliminar sobre a qual devo ser franco. É curioso ver atualmente as pessoas falarem sobre “o espírito” de uma coisa. Há, por exemplo, um tipo particular de pedante que está sempre nos dando lição de moral a respeito os espírito do verdadeiro cristianismo. Tanto quanto posso compreender, ele diz o exato oposto do que ele pretende. Ele explica que devemos usar os nomes “cristão”, “cristianismo”, etc., para algo que possui o espírito que especialmente não é cristão; algo que é um tipo de combinação de otimismo infundado de um ateu americano com pacifismo de um hindu moderado. Da mesma forma, lemos muito sobre o Espírito de Natal no moderno jornalismo e mercantilismo; mas isto é um oposto do mesmo tipo. Longe de preservar a essência sem a aparência, preserva-se a aparência onde não pode haver a essência. É algo similar a tomar duas substâncias materiais, como o pinheiro e as bolas de natal, e espalhá-los por todos os enormes e frios hotéis cosmopolitas ou em torno de colunas dóricas de clubes impessoais repletos de cansados, cínicos e velhos cavalheiros; ou em qualquer outro lugar onde o real espírito de Natal tem a menor chance de estar. Mas há também outro modo em que a complexidade comercial moderna devora o coração de uma coisa, enquanto preserva sua casca pintada. E este é o sistema assaz elaborado de dependência da compra e venda, e, assim, do barulho e confusão; e da real desatenção com as novas coisas que poderiam ser feitas ao modo dos antigos Natais.

Normalmente, se tudo fosse normal nos dias de hoje, seria um truísmo dizer que o Natal foi um festival familiar. Mas é agora possível (como tive a sorte ou má sorte de descobrir) ganhar a reputação de paradoxal por simplesmente afirmar que truísmos são verdadeiros. Neste caso, claro, a razão, a única razoável razão, foi religiosa. Tinha a ver com uma família feliz porque era consagrada à Sagrada Família. Mas é perfeitamente verdade que muitos homens viram o fato sem especialmente sentirem a razão. Quando dizemos que a raiz foi religiosa, não queremos dizer que Sam Weller estava concentrado em valores teológicos quando disse a Fat Boy para “por um pouco de Natal” em algum objeto, provavelmente comestível. Não queremos dizer que Fat Boy teve um êxtase de contemplação mística, como um monge ao ter uma visão. Não queremos dizer que Bob Cratchit defendia o ponche ao dizer que estava apenas observando o vinho quando este era amarelo; ou que Tiny Tim citou Timothy. Apenas queremos dizer que eles, incluindo o autor, teriam confessado humilde e entusiasticamente que havia alguém muito anterior ao Sr. Scrooge, que poderia ser considerado o Fundador da Festa. Mas, de qualquer forma, qualquer que seja a razão, todos teriam concordado sobre o resultado. A festa do Sr. Wardle centrava-se na família do Sr. Wardle; e, ainda assim, porque as românticas sombras do Sr. Winkle e do Sr. Snodgrass ameaçavam a dividi-la para a formação de outras famílias.[1]

O período natalino é doméstico; e por esta razão a maioria das pessoas se preparam para ele apertando-se em ônibus, esperando em filas, correndo pelos metrôs, comprimindo-se em casas de chá, e imaginando quando ou se vão chegar em casa algum dia. Não sei se alguns não desaparecem para sempre na seção de brinquedos ou simplesmente se deitam e morrem nas casas de chá; mas pelas suas aparências, isto é muito possível. Exatamente antes do grande festival do lar, toda a população parece ter se tornado desabrigada. É o supremo triunfo da civilização industrial que, nas enormes cidades que parecem ter casas em excesso, há uma desesperada falta de moradia. Muito tempo atrás, grande número de nossos pobres se tornaram nômades. Nós até confessamos o fato; pois falamos deles como árabes das ruas. Mas essa instituição doméstica, na sua presente fase irônica, foi além de tal anormalidade normal. A festa da família transformou tanto o rico quanto o pobre em vagabundos. Eles estão tão espalhados no confuso labirinto de nosso tráfego e de nosso comércio, que não podem, algumas vezes, sequer chegar a uma casa de chá; seria indelicado, claro, mencionar uma taverna. Eles têm dificuldade em se aglomerar em seus hotéis, quanto mais em se separar e chegar a suas casas. Tenho em mente o contrário da irreverência quando digo que o único ponto de semelhança entre eles e a família natalina arquetípica é que não há espaço para eles na estalagem.

Ora, o Natal é feito de um belo e intencional paradoxo; que o nascimento do desabrigado deve ser comemorado em todos os lares. Mas o outro tipo de paradoxo não é intencional e não é certamente belo. É mal o suficiente para que não possamos desnudar a tragédia da pobreza. É suficiente mal que o nascimento do desabrigado, celebrado no lar e no altar, deva às vezes coincidir com a morte de desabrigados em asilos e favelas. Mas não precisamos regozijar neste desassossego universal que atinge ricos e pobres igualmente; e me parece que nesta questão precisamos de uma reforma do moderno Natal.

Não emitirei outro brilho de paradoxo ao observar que o Natal ocorre no inverno.[2] Isto é, ele não é somente a festa dedicada à domesticidade, mas é colocada deliberadamente sob condições em que é muito mais desconfortável correr por aí do que ficar em casa. Mas sob as complicadas condições das modernas convenções e conveniências, surge este mais prático e mais desagradável tipo de paradoxo. As pessoas têm de correr para lá e para cá por umas poucas semanas, mesmo que seja para ficarem em casa por umas poucas horas. A velha e saudável idéia de tais festivais de inverno era esta: que as pessoas estando fechadas e sitiadas pelo clima se voltavam para seus próprios recursos; ou, em outras palavras, tinham a oportunidade de mostrar se havia algo em seu interior. Não é seguro que a reputação de nossos mais modernos e elegantes caça-prazeres sobreviveria ao teste. Algumas terríveis revelações seriam feitas de algumas figuras favoritas da sociedade, se elas fossem isoladas do poder da máquina e do dinheiro. Elas estão muito acostumadas a ter tudo nas mãos; e mesmo quando vão aos mais recentes bailes dançantes americanos, parece que só os músicos negros dançam. De qualquer forma, para a média da saudável humanidade acredito que este isolamento de todas estas conexões mecânicas seria um alento e um despertar. No presente, elas são sempre acusadas de meramente se divertirem; mas elas não estão fazendo algo tão nobre ou compatível à sua dignidade humana. Elas, em sua maioria, já não podem se divertir; estão acostumadas demais de que outros as divirtam.

O Natal deve ser criativo. Dizem-nos, mesmo os que o prezam mais, que ele é principalmente precioso para preservar antigos costumes e antiquados jogos. Ele é realmente valioso para ambos estes admiráveis propósitos. Mas no sentido a que estou me referindo, pode ser novamente possível torcer a verdade. Não é que o Natal real deva criar coisas antigas, mas coisas novas. Ele poderia, por exemplo, criar novos jogos, se as pessoas fossem realmente levadas a inventar seus próprios jogos. A maioria dos antigos jogos começava com o uso de ferramentas comuns ou peças do mobiliário. Assim, as próprias regras do tênis se baseiam na estrutura do antigo pátio de estalagem. Assim, acredita-se, as estacas do cricket foram originalmente somente as três pernas do tamborete de tirador de leite. Ora, poderíamos inventar novas coisas desse tipo, se lembrássemos quem é a mãe da invenção. Quão prazeroso seria começar um jogo em que marcássemos ponto por acertar o porta-guarda-chuva ou o carrinho porta-refeição, ou mesmo o hospedeiro ou a hospedeira; claro, com um projétil de material leve e macio. As crianças que têm sorte suficiente de ficarem sozinhas no berço inventam não somente jogos completos, mas dramas e histórias de vida completos; elas inventam línguas secretas; conduzem laboriosamente revistas de família. Este é o tipo de espírito criativo que queremos no mundo moderno; queremos tanto no sentido de desejar quanto no sentido de sentir a falta. Se o Natal pudesse se tornar mais doméstico, creio que haveria um vasto aumento do real espírito de Natal; do espírito da Criança. Mas entregando-nos a este sonho, devemos, uma vez mais, inverter a convenção corrente em uma espécie de paradoxo. É verdade, em certo sentido, que o Natal é o tempo em que as portas devam ser abertas. Mas eu mandaria fechar as portas no Natal, ou pelo menos um pouco antes do Natal; e então o mundo veria do que somos capazes.

Não posso deixar de lembrar, com um certo sorriso, que numa página anterior e mais controversa deste livro eu mencionei uma senhora que estremeceu com a idéia das coisas perpetradas por mim e pelos de minha religião por trás das portas. Mas minha memória está suavizada pela distância e pelo assunto presente, e sinto o oposto de uma controvérsia. Espero que aquela senhora, e todo o seu modo de pensar, tenha também a sabedoria de fechar suas portas; e, assim, que ela descubra que somente quando todas as portas estão fechadas é que a melhor coisa será encontrada lá dentro. Se eles forem puritanos, que professam uma religião baseada apenas na Bíblica, que eles sejam, uma vez, uma Família da Bíblia. Se eles forem pagãos, que não aceitam nada exceto a festa de inverno, que eles sejam, pelo menos, uma família em festa. A discordância ou desconforto de que os modernos críticos reclamam, não são devidos a que o fogo místico ainda queima, mas que ele já esfriou. É porque os frios fragmentos de uma coisa antigamente viva são desajeitadamente agrupados. Brinquedos de Natal estão dançando sem harmonia perante tios graves e pagãos que prefeririam estar jogando golfe. Mas isto não altera o fato de que eles poderiam se tornar mais brilhantes e mais inteligentes se soubessem como brincar com os brinquedos; e eles são muito aborrecidos com o golfe. Seu tédio é apenas o último produto mortal do processo mecânico dos esportes organizados e profissionais, naquele rígido mundo de rotina fora de casa. Quando eram crianças, por trás das portas da casa, é provável que quase nenhum deles tivesse sonhos acordados e dramas não escritos que pertencessem a eles como Hamlet pertenceu a Shakespeare ou Pickwick a Dickens. Quão mais excitante seria se Tio Henry, ao invés de descrever em detalhes todas as tacadas com que ele se livrou do banco de areia, dissesse francamente que ele estivera numa viagem ao fim do mundo e capturara a Grande Serpente do Mar. Quão mais intelectualmente verdadeira seria a conversa de Tio William se, ao invés de nos dizer de quanto ele reduziu seu handcap, ele pudesse ainda dizer com convicção que ele era o Rei das Ilhas Canguru, ou o Chefe dos Pele-Vermelhas. Essas coisas, saídas desde dentro, eram quase todas puro espírito humano; e não é normal que a inspiração delas deva ser tão completamente esmagada por coisas desde fora. Que não se suponha por um momento que eu também esteja dentre os tiranos da terra, que imporia meus próprios gostos, ou obrigaria todas as crianças a jogar meus próprios jogos. Não desrespeito o jogo de golfe; é um jogo admirável. Eu já o joguei; ou melhor, eu já brinquei com ele, o que é geralmente considerado o exato oposto de jogar. Deixemos evidentemente que os praticantes do golfe joguem golfe e mesmo os organizadores o organizem, se sua única concepção de um órgão é algo como um realejo.[3] Deixem-nos jogar golfe dia após dia; deixem-nos jogar golfe por trezentos e sessenta e quatro dias, e noites também, com bolas banhadas em tinta luminosa, a fim de serem vistas no escuro. Mas que exista uma noite que as coisas brilhem desde dentro: e um dia que os homens procurem por tudo que está enterrado em si mesmos, e descubram – no lugar onde ele está realmente escondido, por trás de portões trancados e janelas cerradas, por trás de portas três vezes trancadas e aferrolhadas – o espírito de liberdade.


[1] Sam Weller, Fat Boy, Wardle, Winkle e Snodgrass são personagens de Dickens nos Pickwicky Papers e Bob Cratchit, Tiny Tim e o Sr. Scrooge em Christmas Carol. (N. do T.)

[2] No hemisfério norte. (N. do T.)

[3] Barrel-organ em inglês. (N. do T.)

18/12/2010

TESOURO DE EXEMPLOS: DEUS RECOMPENSA OS SACRIFÍCIOS (Principalmente no Natal do Senhor)

Do livro Tesouro de Exemplos

Nota do blog: Depois do CVII, a Igreja já não prega (ou dificilmente prega) que o período de Natal é um período de penitências. Já não explica aos fiéis o significado da cor roxa dos paramentos do padre (se é que o padre usa tais paramentos). Esta historinha resgata esta verdade e nos dá esperança para que façamos nossos pedidos para Nosso Senhor; especialmente aquele pedido especial, para que Ele nasça em nossos corações no dia de Natal. Com este texto, este blog deseja a todos os seus leitores um feliz e santo Natal. Que o ano litúrgico que começou com este Advento seja um ano de conversão de todos ao catolicismo, de conversão de todos à única Igreja que salva.

Os sacrifícios escolhidos voluntàriamente fazem que Deus seja generoso e bom para conosco. Os pequenos presentes que lhe oferecemos espontaneamente exercem grande, irresistível poder sobre ele. Forçado então pela bondade do seu coração, Deus, que não se deixa vencer em generosidade, não se cansa de cumular de bênçãos aqueles que se mostram generosos para com ele.

A propósito o seguinte exemplo:

Num colégio de Friburgo, na Suíça, achava-se, poucos anos faz, uma menina que fazia extraordinários progressos nos estudos, e sentia-se feliz.

Certo dia, recebeu a superiora do Colégio uma carta do pai da criança, comunicando-lhe que, por dificuldades financeiras, não lhe era possível manter a filha no Colégio por mais tempo

Que fez a superiora? Mandou chamar a menina e disse-lhe:

-- Minha filha, uma notícia bem desagradável. Teu pai acaba de escrever-me que se acha em grandes dificuldades e que talvez seja obrigado a retirar-te do Colégio.

A menina, muito aflita, pôs-se a chorar e dizer:

-- Madre, que será de mim? Ajudai-me, Madre, ajudai-me! Dizei-me o que devo fazer.

-- Minha filha (disse a superiora muito comovida), tu podes modificar tudo isso. Sabes que dentro de algumas semanas teremos o santo Natal; sabes, igualmente, que até lá temos todos os dias a devoção ao Menino Jesus, não é?

-- Sim, Madre. . .

-- Pois bem; faze um fervoroso pedido diariamente ao Menino Jesus, para que ele te conserve aqui e oferece-lhe alguns pequenos sacrifícios. Verás que Jesus não rejeitará os teus pedidos.

- Sim, Madre, farei tudo para que Jesus me ouça, e peço também as vossas orações.

A menina, que tinha grande desejo de continuar seus estudos na companhia das Irmãs, cheia de confiança, sentou-se e escreveu ao Menino Jesus uma cartinha. Prometia não só orações fervorosas, mas fazia também o propósito de, por amor de Jesus, abster-se, todos os dias até o Natal, de queijo e frutas, de que gostava muito. E tudo isso para que Deus socorresse seu querido pai e ela pudesse continuar no Colégio.

No dia do Natal achou a superiora debaixo da imagem do Menino Jesus a cartinha da menina. Leu-a e ficou profundamente comovida.

Dois dias depois chegava uma carta do pai, que, entre outras coisas, dizia:

-- Madre, não sei como agradecer a Deus. De modo prodigioso e inesperado veio o auxílio do céu. Minha filha pode continuar aí.

Podemos imaginar a alegria de ambas, a aluna e a Superiora, vendo que a sua confiança em Deus não falhou.

14/12/2010

Chesterton nas bancas do Brasil

Este blog tem a grande alegria de anunciar que a Editora Escala, por meio de sua revista Conhecimento Prático Literatura publicará, a partir de 2011 – edição sim, edição não –, um artigo de Chesterton traduzido por este blog. É uma notícia auspiciosa, pois o grande escritor inglês terá agora um público maior e mais diversificado. Serão artigos principalmente sobre literatura, mas nas mãos de Chesterton todo assunto ganha um matiz todo especial. A fonte principal serão seus artigos de jornal, principalmente os publicados no Illustrated London News.

Este blog teve como seu primeiro post, há longos cinco anos, O Espírito dos Tempos, que é o último parágrafo da introdução de Hereges, já traduzido pelo blog e em preparativos finais de publicação. É grande a satisfação do blogueiro ao encontrar, agora, uma revista semanal de literatura que se aventure a publicar Chesterton no Brasil, em bases permanentes.

Peço aos leitores que rezem para que esta colaboração com a Editora Escala possa render muitos frutos e formar muitos admiradores e leitores de Chesterton no nosso país.

11/12/2010

Contraimpugnantes e um texto essencial

Somos seres de corpo e alma. O que acontece com uma afeta o outro, e vice-versa. Num texto fundamental, Sidney Silveira nos aponta, a partir das deformações auto-impostas no corpo, as doenças da alma. Qual médico de almas, munido de seu conhecimento profundo da filosofia, da teologia e da fé que movia o Doutor Angélico, ele vai diagnosticando os caminhos da doença que deforma o corpo e, sobretudo, que corrói a alma. Mostra ainda que esta doença tem uma só origem, que é o Maligno, príncipe deste mundo.

O único inimigo do Maligno é a Igreja que Cristo nos deixou, a Igreja Católica Apostólica Romana. Só ela tem poder contra ele, só ela pode defender o mundo do ataque em massa do demônio. Quando ela se cala, nos aproximamos do precipício. Ela está calada. Não há condenação alguma, de nada, desde o CVII. Os anátemas foram, parece, anatematizados. Há só uma fala dúbia, uma fala enganosa, que desorienta os bem intencionados e afasta os mais fracos. Se a Igreja não se posicionar incisivamente contra o mundo, e muito rapidamente, estaremos próximos do fim dos tempos. Ainda bem que temos leigos católicos como o Sidney (e seu – e também meu – amigo Nougué) para nos fornecer um pouco de lucidez em meio a tantas trevas.

Que nossos padres, bispos e o Santo Padre Bento XVI tenham forças para bradar aos quatro cantos do mundo os erros que levam à perdição das almas, tenham forças para começar a condenar o mundo, tenham forças para proclamar anátemas!

08/12/2010

Sobre darwinismo e mistério

Gilbert Keith Chesterton
Illustrated London News, 22/08/1920

Nota do blog: Chesterton e Belloc mantiveram anos de polêmica sobre darwinismo e evolução com muitos intelectuais seus contemporâneos, principalmente com H.G. Wells. Pretendo traduzir alguns de seus textos de jornal a este respeito. Começo com o que se segue.

O Sr. Edward Clodd,[1] o distinto estudante de folclore, perguntou-me sobre uma passagem que apareceu neste jornal. Ele escrevia sobre a questão mais ampla do darwinismo, à qual talvez eu trate mais amplamente em outra oportunidade. Mas como a frase que ele citou desta coluna situa-se de alguma forma em separado, talvez seja mais apropriado tratá-la separadamente. As palavras sobre as quais ele deseja maiores explicações são: “Mesmo o evolucionista está agora tímido ao explicar a evolução. Hoje, o temperamento científico é ... dúvida científica da ciência, não dúvida científica da religião.” Ele deseja especialmente saber o que quero dizer com a frase “dúvida científica da ciência”.

Bem, considero que minha afirmação negativa é pelo menos evidente o suficiente; quero dizer que as mais recentes e revolucionárias sugestões científicas não são capazes de levantar nenhuma dúvida sobre qualquer religião. O Livro do Gênesis não diz que Deus formou a substância do mundo a partir de átomos, e assim um cientista não pode ser censurado como um destruidor da Bíblia se ele diz que o mundo é formado não de átomos, mas de elétrons. O Concílio da Igreja que decretou a Co-eternidade do Pai e do Filho não decretou nenhum dogma sobre a Conservação da Energia. Assim, Mme. Curie não poderia ser queimada como herege mesmo se, como alguns afirmam, sua descoberta desestabilizasse nossas idéias sobre a Conservação da Energia. O credo atanasiano não diz que linhas retas paralelas nunca se encontram, assim ele não seria afetado pelo dizer do Professor Einstein, se é que ele o diz, de que elas não são paralelas ou mesmo retas. Os profetas não profetizaram que o homem nunca iria voar e não são, assim, desacreditados quando ele voa. Os santos certamente nunca disseram que não havia uma coisa como a comunicação sem palavras, e assim eles não têm de retratar-se se há uma coisa como a telegrafia sem fio. De muitas formas seria muito mais fácil sustentar que as modernas invenções ratificaram os antigos milagres. Bem, nesses exemplos técnicos e utilitários é ainda verdadeiro dizer que, se eles não desestabilizam doutrinas religiosas, eles também não desestabilizam doutrinas científicas. São as doutrinas sobre gravidade e energia, sobre átomos e éter, sobre a própria estrutura do universo puramente científico que têm sido afetadas ou ameaçadas pela pesquisa puramente científica.

Assim, fui levado a dizer que os homens científicos estão despedaçando seu próprio universo científico. Foi algo relacionado a isto que eu disse ao afirmar que eles não estão agora preocupados prioritariamente com dúvidas sobre religião. A frase (num sentido positivo e não relativo) refere-se, é claro, a várias idéias escriturais e teológicas que supõem-se, corretamente ou não, foram desestabilizadas pela fase anterior da ciência. Alguns parecem imaginar que estou aqui argumentando a favor daquelas doutrinas; mas isso é um equívoco completo. Das doutrinas pré-darwinianas do popular protestantismo inglês, há algumas em que acredito e algumas de que descreio firmemente; mas em nenhuma delas fundamentei minhas observações sobre o darwinismo. Estas são baseadas nas inconsistências e ilogicidades dos próprios darwinistas. Muitos críticos sinceros parecem achar difícil acreditar nisso. Um deles me perguntou, muito incisivamente, porque a asa do morcego não tinha sido divinamente projetada com penas, como a asa da coruja – quase como se eu tivesse voluntariamente recusado a cobrir o animal com uma plumagem própria. Isto é não perceber meu propósito nesta discussão particular. Se eu pessoalmente acredito no design inteligente, é por razões algo mais profundas, que nada têm a ver com asas de morcego; e certamente nunca sonhei em demonstrá-las por meio de asas de morcego. Nunca professei saber as causas de tais coisas. Eu não escrevi um livro intitulado “A Origem das Espécies”. Não conduzi detalhadas pesquisas ou proclamei conclusões dogmáticas. Não sei a verdadeira razão de um morcego não ter penas; apenas sei que Darwin apresentou uma razão falsa para ele ter asas. E quanto mais os darwinistas explicam, mais convencido me torno de que o darwinismo estava errado. Todas as suas explicações ignoram o fato de que o darwinismo supõe que uma característica animal surge inicialmente, não simplesmente num estágio incompleto, mas num estágio quase imperceptível. O membro de um tipo de rato, destinado a fundar a família morcego, diferia de seus irmãos por algum minúsculo traço de membrana; e por que isto o capacitaria a escapar de um massacre de ratos? Ou mesmo admitindo que tal diferença sirva a algum outro propósito, tal só poderia ocorrer por coincidência; e isto significa imaginar um milhão de coincidências para dar conta de cada criatura. Uma providência especial supervisionando os morcegos seria uma noção muito mais racionalista que tal cadeia de acontecimentos fortuitos.

Mas quanto a uma conclusão positiva a ser formulada, acato satisfeito a idéia do Sr. Clodd de “uma área ocupada pelo desconhecido” onde, segundo sua citação de George Eliot, “os homens tornam-se cegos, embora os anjos tudo conheçam”. Mas ainda penso que os darwinistas sendo homens, foram cegos liderando cegos. Deve ter havido uma grandeza real na ciência de Darwin, cuja acumulação detalhada não alego poder julgar. Havia certamente uma grandeza muito real na literatura de Huxley, que consigo julgar bem mais. Ninguém diz que eles não foram grandes homens, mas que cometeram um grande erro. E quanto ao que resta quando este erro é admitido, repito que me satisfaço com a frase do Sr. Clodd. Nem a minha teologia, nem a dos antigos puritanos, tampouco a biologia dos antigos darwinistas; o que resta é mistério – um mistério desconhecido e talvez insondável. O que resta depois de Darwin é exatamente o que existia antes de Darwin – uma escuridão que eu, por razões muito diferentes, acredito ser divina. Mas sendo ou não divina, ela é escura. O que é verdade real, o que realmente aconteceu na variação das criaturas, deve ter sido algo que ainda não se insinuou na imaginação do homem. Eu, por exemplo, ficaria muito mais surpreso se aquela verdade, quando descoberta, não contivesse um grande elemento de evolução. Mas mesmo esta surpresa é possível onde tudo é possível, exceto o que já foi provado ser impossível. E qualquer explicação por meio de uma completa evolução é no momento presente impossível.

Pela primeira vez, em resumo, os agnósticos se tornarão agnósticos. Esta é a minha resposta à questão do Sr. Clodd sobre a “dúvida científica da religião”. A dúvida hoje é uma dúvida real; antes ela era uma inferência de algum dogma, como o darwinismo. Os agnósticos vitorianos não eram realmente agnósticos. No fundo de suas mentes existia um universo materialista, ou pelo menos monista. Mas o universo monista está, por sua vez, se tornando místico, ou no mínimo misterioso. O próximo período de transição será provavelmente de um agnosticismo real, ou de uma ignorância mais ou menos empolgante. E o Sr. Clodd e eu podemos então concordar sobre a fronteira em que os homens são cegos e os anjos tudo conhecem, embora ele possa ficar mais satisfeito com a cegueira dos homens, e eu com o conhecimento dos anjos. Estou até agora do lado dos homens; da grande massa de reverentes e razoáveis seres humanos, que admitiriam mais facilmente estar cegos na escuridão do que nela sobrecarregados com antiquados óculos científicos, junto a um charlatão tentando convencê-los de que eles podem enxergar.



[1] Autor de vários livros sobre religiões, mitos, religião comparada, folclore e filosofia. Também escreveu diversos livros sobre ciência e evolução. (N. do T.)

02/12/2010

Um pouco mais sobre evolução

Abaixo vocês lerão um trecho de uma conferência proferida em novembro de 1981, pelo paleontólogo do Museu Britânico, Colin Patterson, ao Grupo de Discussão sobre Sistemática, composto de biólogos e funcionários do museu interessados em classificação animal; o tema era evolução. Este trecho se encontra no capítulo 14 do extraordinário The Politically Incorret Guide to Science, de Tom Bethel. Vocês verão com que certeza os próprios cientistas tratam do assunto evolução. Contrastem isso com a arrogância com que eles nos vendem suas idéias podres.

Com a palavra o Sr. Patterson:

“Até hoje, sempre quando me levantava para falar sobre um assunto, uma certeza eu tinha: que eu sabia mais sobre tal assunto que qualquer pessoa na audiência, porque eu o tinha estudado.

“Bem, desta vez isto não é verdade. Estou falando sobre dois assuntos, evolucionismo e criacionismo, e acredito poder dizer que nada sei sobre qualquer um deles. Uma das razões pelas quais comecei a desenvolver uma visão anti-evolucionária, bem, digamos não-evolucionária, foi uma percepção repentina que tive ano passado. Por vinte anos pensei estar trabalhando na área da evolução de algum modo. Uma manhã acordei e algo tinha acontecido à noite; ocorreu-me que tinha estudado algo por vinte anos e não havia uma coisa que eu sabia sobre ele. Foi um grande choque perceber que alguém possa estar tão enganado, por tanto tempo.

“Então, ou havia algo errado comigo ou havia algo errado com a teoria evolucionária. Naturalmente, sei que não há nada errado comigo. Assim, nas últimas poucas semanas, tenho tentado apresentar uma questão simples a várias pessoas e grupo de pessoas.

“A questão é: você pode me dizer alguma coisa que você sabe sobre evolução, qualquer coisa que você acredita ser verdade? Apresentei esta questão ao grupo de geólogos do Museu Field de História Natural e a única resposta que tive foi o silêncio. Tentei os membros do Seminário de Morfologia Evolucionária da Universidade de Chicago, um grupo muito prestigioso de evolucionistas, e tudo que consegui foi um longo silêncio, e então, finalmente, uma pessoa disse: Sim, sei uma coisa. ‘Que não se deve ensiná-la no ensino médio.’ [Risadas]”

Precisamos desmascarar essa corja urgentemente, pois eles estão tentando roubar as mentes de nossos filhos com uma crença, uma fé, travestida de ciência. Precisamos fazê-los começar a discutir evolução como uma religião e assim compará-la com a nossa própria. Assim teremos uma igualdade de condições e conseguiremos desmacará-los todos.

24/11/2010

Por que a academia adota a Evolução?

Em fevereiro deste ano a revista Whistleblower publica uma edição dedicada à fraude científica, ao uso da ciência como autoridade pública na deformação mental de milhões, na implantação de políticas mundiais completamente irreais; o título da edição é Hijacking Science [Seqüestrando a Ciência].

O título do post é o de um artigo, escrito por Marylou Barry, nesta edição. O subtítulo do artigo diz: “Grandes cientistas e intelectuais admitem a verdade: ‘Eu não quero acreditar em Deus’”.

É espantoso, inacreditável, lamentável, estarrecedor e nojento ler os depoimentos de homens ligados à ciência e à cultura sobre seus sentimentos mais mesquinhos e dá-los como argumentos para não acreditar em Deus.

A teoria da Evolução é uma desculpa esfarrapada para aqueles que não QUEREM acreditar em Deus. Porque eles “temem que voltemos a acreditar num plano divino”, segundo Gordon Rattray Taylor, ex-consultor científico da BBC. “Porque ela [a Evolução] supostamente exclui um criador”, como diz Dr. Michael Walker, ex-professor de Antropologia da Universidade de Sidney.

A evolução não é adotada por ser um fato científico comprovado, “Não porque ela seja provada por evidência logicamente coerente, mas porque a única alternativa a ela, a criação, é claramente inacreditável,” como afirma D.M.S. Watson, professor de Evolução na Universidade de Londres.

Sir Arthur Keith, falecido antropologista físico e chefe do Departamento de Anatomia do Hospital de Londres diz: “A Evolução é não provada e improvável, acreditamos nela porque a única alternativa é a criação, que é impensável.”

Materialismo é uma verdade absoluta, assim não podemos permitir um Pé Divino na soleira da porta,” diz Richard Lewontin, ex-professor de genética da Universidade de Harvard.

Dr. George Wald, Prêmio Nobel e professor emérito de biologia da Universidade de Harvard abre o jogo: “Eu não quero acreditar em Deus. Assim, escolho acreditar no que sei ser cientificamente impossível, geração espontânea e evolução.” Notem que o indivíduo é Prêmio Nobel e professor emérito de uma das mais famosas universidades do mundo. Imaginem quantos autores de livros escolares este cretino influenciou, livros estes de onde nossos filhos aprendem essa doença mental travestida de teoria científica.

Há mais depoimentos no artigo, mas termino com o depoimento do neto de Thomas Huxley, colega de Darwin, Sir Julian Huxley, ex-presidente da UNESCO: “Suponho que a razão de termos nos lançado sobre a Origem das Espécies foi que a idéia de Deus interferia com nossos hábitos sexuais.” Nobre razão!

Aí está, a teoria da Evolução tem como fundamento não dados experimentais, não coerência lógica, mas vontade de negar a existência de Deus e desejos sexuais irrefreáveis. Ela é filha de intelectuais moral e intelectualmente pervertidos. Mostrem estes depoimentos a seus filhos quando eles estiverem lendo, nos livros escolares, sobre esta tal “teoria”.

21/11/2010

O Papa podia, pela graça de Deus, ter ficado calado. Agora é tarde!

Mais um episódio do sofrimento da Igreja na atualidade. O mundo adorará as palavras do Papa e seu príncipe exultará de alegria.

Ver os links (ênfase no segundo link):

O que o Papa realmente disse

A camisinha do "prostituto" e o Papa.

Santa Catarina de Sena, rogai por nós. Santíssima Virgem, Senhora Nossa, rogai por nós.

19/11/2010

Um ateu religioso, ou um ignorante atrevido à beira de um ataque de nervos?

Um sujeito estranho, talvez ateu, talvez um anti-religioso, certamente um perturbado, escreve ao blog, cheio de uma ignorância atrevida, para protestar contra um texto de Michael Novak que traduzi tempos atrás: Ateus solitários da aldeia global – Parte I. Começo pelo seu “P.S.”: “Espero que a democracia impere e você nao seja parcial, deixando que seja publicado apenas o que te convem, pois se assim for, apenas estaria confirmando o radicalismo religioso.” Caro rapaz, de nome Ademir, isto aqui não é um espaço democrático, aqui não impera a democracia. No meu blog só é publicado o que me convém; foi por isso que eu o criei. E sim, eu sou um religioso radical, pois religião tem a ver com a Verdade e com ela não há relativismo.

Há frases memoráveis no comentário idiota do ateu, como esta: “A humildade começa por aí, o divino está dentro de você, basta você abrir as portas da percepção.” Puxa!, que humildade achar que o divino está dentro de você, à sua disposição.

Há também exortações ao blogueiro: “Repense sua posição, não castre sua razão, nao tenha preguiça intelectual, nao tenha vergonha de admitir que nao tem todas as respostas”; e “Leia um pouco dos filosofos gregos, eles conviviam com esta problematica religiosa que hoje foi substituida por outras crenças.” A primeira exortação é puríssima ignorância, falta de educação e um atrevimento de dar dó. A segunda é nonsense em estado sólido. Este infeliz nunca deve ter passado perto de um livro de Platão ou Aristóteles – Ademir, estes dois que citei são filósofos gregos, tá bom?

Começamos a duvidar do equilíbrio mental do infeliz leitor quando lemos: “Sei que é desesperador acreditar que nao existe ceu, nem inferno, nem recopensas, que a vida é uma descontinuidade da nao existencia. Mas se esforce, tvz assim, acreditamos que esta vida é a unica podemos fazer este mundo um lugar melhor para nossos filhos e nao um altar de intolerancias.” A situação do indivíduo é calamitosa. Ele não sabe escrever e nem pensar; acredita no divino em nós e, ao mesmo tempo, que a vida é uma descontinuidade.

Ele termina seu comentário (que não será publicado na íntegra, porque aqui só acontece o que eu quero, viu Ademir?), antes do “P.S.”, com “Um abraço”. Um abraço a você também, Ademir. Quando você escrever algo menos desequilibrado, talvez eu publique.

15/11/2010

Santo Tomás e Aristóteles superados – o ponto alto do CVII

Descobri, no livro História da Filosofia, de Giovanni Reale, que o suporte de Santo Tomás - Aristóteles - foi superado. O momento da superação, em termos teóricos, se deu com Ockham. As consequência: ciência mais refinada, com Galileu Galileu e Newton, levando a Einstein.

Em termos teológicos, o resultado foi a rreafirmação da fé na Revelação e afirmação do poder da Igreja sobre o Papa e até mesmo sobre os Concílios. O CVII, portanto, foi inevitável. A Igreja não pode mais voltar atras, a não ser que se torne Igreja Católica Protestante.

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Este foi um comentário que recebi a propósito do post Mais um fruto do Concílio Vaticano II. O valente prefere falar besteira anonimamente, claro!

Veja que o rapaz descobriu que Tomás de Aquino e Aristóteles estão superados e quem o informou disto foi Giovanni Reale, aquele mesmo que escreveu uma obra só de comentários sobre a Metafísica de Aristóteles. Claro que Reale, tendo tempo a perder, escreveu a obra, que é extraordinária, sobre alguém que já foi superado, só para se divertir e nos enganar.

É tamanha a confusão na cabeça do leitor que dá até dó. Ele lê uma descrição histórica das conseqüências das idéias de Ockham, feita por Reale, e toma aquilo como verdade absoluta. Ele toma história da filosofia como filosofia e esta como ciência. Ele considera que porque Ockham disse isto ou aquilo sobre a filosofia de Santo Tomás, pronto!, Santo Tomás está superado.

Caro leitor, no texto que você leu tem um parágrafo que parece ter-lhe escapado: “Tais são as conseqüências últimas da tese fundamental da separação entre razão e fé, entre a ordem espiritual e a ordem mundana, resultando sobretudo no primado do indivíduo sobre qualquer universal.” Você entende agora que Reale está descrevendo todas as conseqüências das idéias de Ockham em todos os planos, sem subscrevê-las e/ou afirmá-las verdadeiras?

É claro que o CVII é filho de Ockham, é claro que a Reforma é filha de Ockham, é claro que a ciência é filha de Ockham, e é claro que você é filho de Ockham.

Aos leitores interessados neste assunto, incluindo meu infeliz leitor, sugiro a leitura do livro “Ideas have consequences”, de Richard Weaver, cuja introdução eu traduzi no post A dissolução do Ocidente: uma introdução.

Só para terminar, informo ao leitor que a Igreja fez um Concílio Ecumênico onde ela respondeu a todas as estocadas dos seguidores de Ockham: foi o Concílio de Trento. Informo isto porque parece que os católicos protestantóides pós-conciliares imaginam que nada houve na Igreja antes do CVII.

13/11/2010

Mais um fruto do Concílio Vaticano II

Outro dia, publiquei um post, Frutos do Concílio Vaticano II, sobre um padre herege vociferando contra a Tradição da Igreja. As eleições no Brasil mostraram muito bem o quanto a heresia já penetrou no conjunto de padres e bispos brasileiros, de forma que talvez possamos concordar com Chesterton quando ele diz: “No passado, o herege se orgulhava de não ser herege. (...) O homem orgulhava-se de ser ortodoxo, orgulhava-se de estar certo. (...) Mas umas poucas frases modernas o fizeram vangloriar-se disso. Ele diz, com um sorriso consciente, “Acho que sou muito herético”, e olha para os lados à procura de aplauso. A palavra “heresia” não somente significa não estar errado; praticamente significa ser inteligente e corajoso.” É claro que a eleição só deixou a situação mais clara para quem não acompanha mais de perto a crise da Igreja depois do CVII.

Agora, um leitor, de nome Ricardo, me envia um comentário, com várias perguntas, no post A Igreja primitiva, uma vez mais. Ele começa o comentário com essas afirmações: “Angueth, sou católico-romano, mas faço uma pergunta aos leitores do blog: em que podemos basear essa exclusividade da Igreja Católica Romana? Muitos talvez pensem que, por eu estar fazendo este questionamento, não sou mais católico-romano. Pode ser, mas a pergunta continua: qual o fundamento desse exclusivismo?

Muitas coisas ocorrem a quem lê tais afirmativas. Primeiramente, ele admite que talvez não seja católico – “pode ser, mas a pergunta continua”. De outro lado, vemos que está disposto a deixar de ser católico por não saber responder a si mesmo a razão de a Igreja ser verdadeira e seus inimigos, falsos. Um católico assim é de fato um ser muito estranho.

Mas como condenar nosso pobre leitor, que é um fruto maduro do CVII? Como condenar seu protestantismo que já aparece bem nítido, quando tudo isso era previsível já logo depois do Concílio? De fato, os cardeais Ottaviani e Bacci escreveram ao Papa Paulo VI, dizendo sobre a nova liturgia (Novus Ordo): “Quiseram passar uma esponja em toda a teologia da Missa. Terminou como algo muito próximo da teologia protestante que destruiu o sacrifício da Missa”. Vários eminentes teólogos e observadores protestantes comemoravam o Concílio como uma capitulação da Igreja ao protestantismo, como o fim da era tridentina, como a negação do Concílio de Trento. Michael Davies cita vários destes depoimentos em seu livro “Pope John’s Council”. Por exemplo, Oscar Cullman, importante teólogo suíço, declarou: “As esperanças dos protestantes com relação ao Vaticano II não só foram cumpridas, mas as realizações do Concílio foram muito além do que se acreditava possível”.

Quem frequenta as missas modernas e principalmente lê o folheto O DOMINGO, tem uma grande chance de se tornar protestante, ou algo parecido ao leitor Ricardo. Sugiro a todos que lêem meus comentários a este famigerado folheto nos links aqui do lado direto. Daí vem a segunda forte impressão das frases inicias do comentário do Ricardo: o que ele pensará da Sagrada Comunhão? Como ele a recebe, todas as vezes que ele comunga? Será que ele relativiza a Eucaristia da mesma forma que ele relativiza a verdade? É muito possível que sim. Mas, de novo, como condená-lo? Como condená-lo, quando os próprios padres não respeitam a Presença Real na Hóstia Consagrada? Como condená-lo, se todos recebem a Comunhão na mão?

A situação terrível em que se encontra o leitor Ricardo é a da maioria dos católicos de hoje. É a situação terrível da crise monumental da Igreja. Neste ambiente, de que adianta dizer ao Ricardo que a Igreja é o único verdadeiro depósito da Fé, em contraposição com as mais de 30.000 denominações protestantes espalhadas pelo mundo? De que adianta dizer-lhe que a Presença Real, assim como todos os outros Sacramentos, está SOMENTE, na Santa Igreja Católica? Os católicos já não têm capacidade de acreditar, não na Igreja, não no Poder das Chaves, mas que existe verdade. Pois a mais poderosa arma contra o catolicismo não é a destruição da Fé em si, mas a destruição da Razão. Com a destruição da Razão, que foi promovida pelo Racionalismo, filho da Reforma, destruiu-se, na mente de todos, o conceito de Verdade. Sem este conceito, não há como ascender do imanente ao transcendente, da matéria ao espírito, do natural ao sobrenatural. O homem é assim desligado de sua essência transcendente e então, só então, todas as religiões podem ser comparáveis.

Quem tem a razão destruída pelo racionalismo não percebe as mínimas contradições lógicas das várias doutrinas e é incapaz de contemplar com admiração a extraordinária coesão lógica do edifício da Igreja Católica Apostólica Romana. Por exemplo, o leitor cita, de passagem, a doutrina da “sola scriptura”. Esta doutrina é logicamente auto-contraditória. Alguém que afirme que só acredita doutrinariamente no que está literalmente dito na Bíblia e em nada mais, desconhecendo como ilegítimo tudo o que a Tradição da Igreja declara, não percebe que para fazer isto sem contradição, seria preciso que a doutrina da “sola scriptura” estivesse expressa literalmente na Bíblia, o que não é verdade. Ou seja, ele acredita, em termos doutrinários, em algo externo à Bíblia, o que contraria sua afirmação inicial. Não é surpresa que o racionalismo trouxe uma era de misticismo irracional sem precedentes. Todas as mais loucas crenças orientais e também ocidentais invadiram nossa civilização, depois do ataque do racionalismo.

A confusão mental que se instalou transparece claramente no comentário do leitor, que depois de fazer uma quase declaração protestante, critica, ao final de seu comentário, os modernistas e liberais católicos, não percebendo que o modernismo (se é que ele está falando de modernismo na concepção de São Pio X) entrou na Igreja justamente por meio daqueles que subscreviam a heresia protestante, via doutrina do liberalismo. Ele não percebe que é MODERNISTA, até a medula.

Que dizer ao leitor, exceto sugerir-lhe que reze a Nossa Senhora para que ela lhe ilumine com a Graça da Santíssima Trindade, que cuide para que sua Razão não seja tragada pelo liberalismo protestante, que cuide para que sua Fé não seja destruída pelos padres modernistas e pela Missa Nova, para que ele perceba que antes de doutrina, antes de teoria, o catolicismo é uma PRESENÇA, que se atualiza em cada HÓSTIA SAGRADA e que garante que a Igreja Católica é a ÚNICA verdadeira, por onde, através dos Sacramentos, flui a graça de Deus?

08/11/2010

A Igreja Primitiva, uma vez mais

Os protestantes e católicos protestantóides, nunca conseguem esquecer a Igreja Primitiva, aquela que era totalmente diferente da atual, onde tudo era maravilhoso. Agora que tudo se perverteu – quem sabe não foi Constantino? – temos a Igreja atual.

Um anônimo, sempre um anônimo, que parece católico, escreve um comentário ao post Efeitos colaterais de Chesterton dizendo: “A Igreja Primitiva não era nem protestante nem católica. Ela protestava contra o judaísmo e o Império Romano, e continha o germe da Igreja Católica.”

Ora!, quando então a Igreja Católica Apostólica Romana se formou. Quando aquele germe brotou? Se Pedro não foi o primeiro papa da Igreja Católica, quem o foi? Onde ela começou? É curioso que o comentarista que fala uma tolice desta é o mesmo que termina seu comentário dizendo: “Analisemos, pois, a História da Igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo como uma das fontes de conhecimento sobre a verdadeira Igreja.” Que história da Igreja você anda lendo, caro leitor? Se você ler os Atos e depois a História Eclesiástica de Eusébio de Cesaréia, verá a Igreja Católica a existir desde aproximadamente o ano 33. A Igreja Primitiva era a Igreja Católica, que se mantém até hoje. Talvez seja interessante ler este post.

Mas, o leitor anônimo, descamba para o nonsense quando diz: “O protestantismo, sob essa perspectiva, também sempre esteve no cerne da Igreja Católica Apostólica Romana como potencial a ser atualizado mediante as circunstâncias.” Isso é simplesmente heresia, das mais explícitas. Mas os católicos hoje em dia (se é que o leitor anônimo é mesmo católico) parecem não entender o que é heresia, acham que podem ter opinião própria sobre tudo, é a tal da liberdade.

O leitor confunde lutar contra heresias, desde dentro da Igreja, e lutar contra a Igreja em seu interior. Neste sentido, ele acena com a possibilidade de Santo Agostinho ser um protestante, assim como Lutero. Sim, ele não diz isto explicitamente, e até diz que Lutero foi um idiota e analfabeto, mas não é difícil tirar esta conclusão do que ele escreve. E ainda diz que Lutero deu um sobre-fôlego ao cristianismo quando protestou contra a situação então vigente. 

Bem, aqui eu jogo a toalha. O leitor fala da Igreja Primitiva, da Igreja de Cristo, da Igreja Católica, diz que Lutero foi um idiota, mas deu fôlego ao cristianismo que, neste ponto, já não sei mais o que é. Acho mesmo que o leitor é protestante e ainda não descobriu isso.

Fico aqui com Belloc que dizia que não existe e nunca existiu uma religião chamada cristianismo. Existiram e sempre existirão a Igreja e seus inimigos.

07/11/2010

O diabo rodeia-vos como um leão a rugir (1 Ped 5:8)

Nota do blog: trecho do sermão XXXV.
O demônio gosta muito de enganar as pessoas com uma exagerada melancolia. Quando vemos quão fracos e inclinados ao pecado somos por natureza, como dissemos, ficamos tristes e miseráveis. Aí se aproxima o leão, o diabo, e sussurra: “Você vai gastar toda a sua vida em tristeza e penitência? Você seria um tolo! Divirta-se como os outros fazem. Tenha algum prazer na vida. Deus cuidará de que você se arrependa em seu leito de morte. Faça o que quiser e aproveite a vida enquanto você é jovem; haverá tempo suficiente para ser santo na sua velhice.” Oh, crianças, tomem muito cuidado enquanto há luz, para que a escuridão não lhes peguem despreparadas! Sede sóbrias, vigiai, e tomai muito cuidado. Vocês viverão a vida apenas uma vez; e quando morrerem, será que encontrarão em vocês “as plantas que Meu Pai no céu não plantou,” das quais o próprio Nosso Senhor disse que “deviam ser arrancadas pelas raízes”? Crianças, sejam sábias e considerem estas questões cuidadosamente.
O demônio pode nos causar todos os tipos de problemas. “Oh,” dizem as pessoas, “se ao menos eu tivesse um diretor espiritual com quem conversar! Tenho as mais temerosas idéias e estou num estado terrível.” Bem, minha querida criança, eu conheço muito as idéias que o demônio pode colocar em nossas cabeças, e meu conselho é este: o que o demônio coloca em sua cabeça, você retira de lá; esteja em paz e entregue seu coração a Deus. Não preste atenção a tais idéias, não deixe seus pensamentos se fixarem nelas, deixe-as simplesmente passar pela sua mente. Vocês sofrerão frequentemente tais experiências dolorosas; isto é obra do demônio e surge da melancolia exagerada. Ele acabará levando-a ao desespero. “Nada tem valor,” você dirá. O que fazer, então? Deposite a carga de todas as suas preocupações em Deus, ancore-se n’Ele. Quando os marinheiros estão em perigo e pensam que vão encalhar nas pedras, lançam sua âncora e ela afunda no fundo do Reno, e isto os salvam. Devemos fazer o mesmo; quando o demônio nos ataca com tentações horríveis, da mente ou do corpo, nada há a fazer exceto lançar nossa âncora, a âncora da perfeita confiança e esperança em Deus. Não importam os remos e o leme, a âncora é tudo que precisamos; e isto é o que você deve fazer em cada sofrimento da alma ou do corpo.

04/11/2010

Efeitos colaterais de Chesterton

Meus trechos favoritos do texto de Chesterton, Educação por Meio dos Contos de Fadas, são dois. O primeiro é:

A educação real consiste no fato de que vemos além de símbolos e de meros mecanismos da época em que nos encontramos: a educação consiste precisamente na percepção de uma simplicidade permanente que sobrevive por trás de todas as civilizações; a vida que é mais que alimento; o corpo que é mais que vestuário. O único objetivo da educação é fazer-nos ignorar os meros esquemas de educação. Sem educação estamos num perigo horrível e mortal de levar a sério as pessoas instruídas. A última das modas da cultura, o último dos sofismas do anarquismo, nos arrebatarão se não formos educados: não saberemos quão antigas são as novas idéias.

E o segundo é assustador: “Um dragão de sete cabeças é, talvez, um monstro muito assustador. Mas uma criança que nunca ouviu falar dele é um monstro muito mais assustador.

Não é que eu descobri tal monstro, quer dizer, tal criança, que não leu contos de fada! Ele escreve para o blog dizendo candidamente: “Obrigado, professor, precisava mesmo de algo pra dormir...zzzzz.” Este é o efeito que tem Chesterton se lido por idiotas. O cérebro, não agüentando a carga de senso comum que nos cabe a todos como seres humanos, fecha para balanço. E o indivíduo não tem nem vergonha de se declarar imbecil publicamente; faz isso desabridamente!

Já vi Chesterton enraivecer as pessoas, já o vi diverti-las, já o vi convertê-las, já o vi enternecê-las, mas nunca o tinha visto adormecê-las. Acho que se contassem para ele o caso deste meu infeliz leitor, ele soltaria uma sonora gargalhada! Foi o que eu fiz, quando li o comentário.

01/11/2010

Educação por Meio dos Contos de Fadas

Gilbert Keith Chesterton
The Illustrated London News, 2/12/1905

Nota introdutória do blog: Neste artigo de jornal, nos deparamos com a defesa intransigente de Chesterton do senso comum; da racionalidade do comportamento da grande maioria das pessoas, em grande parte da existência do homem na terra. Ele defendia permanentemente este senso-comum contra as excentricidades do mundo moderno, excentricidades estas que surgiam, e ainda surgem, revestidas das credenciais das novidades avassaladoras, mas que são apenas velhas idéias fracassadas. Isso valeu a Chesterton o título de “apóstolo do senso comum”.

As pessoas que mais falam em “mudança” e “progresso” são as que menos conseguem imaginar, realmente, qualquer alteração nos atuais testes e métodos de vida. Por exemplo, elas fazem do “ler e escrever” um teste para todas as idades e todas as civilizações. Ler e escrever são em si meras realizações, realizações deliciosas e empolgantes, como tocar o bandolim ou andar de montanha russa. Algumas realizações estão na moda num momento, outras noutro. Em nossa civilização, quase todos podem ler. Na civilização sarracena, quase todos podiam cavalgar. Mas as pessoas aplicam os três “R’s”[1] a toda a história humana. Elas dizem, num tom de voz de quem está chocado: “Você sabia que na Idade Média não se conseguia encontrar um cavalheiro em dez que soubesse assinar o próprio nome?” Isto é análogo a um cavalheiro medieval ter dito horrorizado: “Você sabia que no reino de Eduardo VII, sequer um em dez cavalheiros sabia como usar um falcão mensageiro?” Ou, falando mais precisamente, seria como se um cavalheiro medieval expressasse perplexidade porque um moderno cavalheiro não consegue adornar seu brasão de armas. O alfabeto é um conjunto de símbolos arbitrários. No século XIV, todo cavalheiro conhecia um; no século XX, todo cavalheiro conhece outro. O primeiro cavalheiro é precisamente tão ignorante por não saber que “gato” se soletra g-a-t-o, quanto é o segundo cavalheiro por não saber que a Cruz de Santo André é chamada de santor, ou que verde e escarlate não combinam em heráldica.

Falamos, com típico fanatismo e estreiteza, do Alfabeto. Mas há, na verdade, um grande número de alfabetos, além do alfabeto de letras. O alfabeto de letras era pouco usado na Idade Média: esses outros alfabetos são pouco usados agora. Certo número de soldados aprendem a transmitir suas mensagens acenando abruptamente pequenas bandeiras. Outros conversam entre si de um modo íntimo e loquaz por meio de reflexos da luz do sol em espelhos. Esses alfabetos são agora realizações tão peculiares e restritas quanto a escrita era na Idade das Trevas. Eles podem se tornar algum dia um hábito tão difundido e universal quanto a escrita é agora. Em alguma era futura poderemos ver uma dama e um cavalheiro, um de cada lado da mesa, discutindo de forma animada acenando bandeirinhas um para o outro. Poderemos ver distintas senhoras nas janelas de seus aposentos, com seus espelhos de maquiagem voltados para a rua, agitando-os violentamente a fim de se comunicarem como uma amiga a alguns quilômetros de distância. Isto será especialmente satisfatório, pois lhes proporcionará um uso para seus espelhos, artigos que elas, no presente, consideram inteiramente sem raison d’être.

Quão estranho é, então, que tão constantemente pensemos que a educação tenha algo a ver com tais coisas como ler e escrever! Ora!, educação real consiste em não ter nada a ver com coisas como ler e escrever. Ela consiste, no mínino, em ser independente delas. A educação real consiste no fato de que vemos além de símbolos e de meros mecanismos da época em que nos encontramos: a educação consiste precisamente na percepção de uma simplicidade permanente que sobrevive por trás de todas as civilizações; a vida que é mais que alimento; o corpo que é mais que vestuário. O único objetivo da educação é fazer-nos ignorar os meros esquemas de educação. Sem educação estamos num perigo horrível e mortal de levar a sério as pessoas instruídas. A última das modas da cultura, o último dos sofismas do anarquismo nos arrebatarão se não formos educados: não saberemos quão antigas são as novas idéias. Pensaremos que a Ciência Cristã[2] é realmente todo o cristianismo e toda a ciência. Pensaremos que as cores artísticas são apenas as cores da arte. O homem deseducado sempre se importará excessivamente com complicações, com novidades, com a moda, com a coisa mais recente. O homem deseducado será sempre um dândi intelectual. Mas o negócio da educação é nos contar a respeito de todas as diversas complicações, de toda a estonteante beleza do passado. A educação impõe-nos conhecer, como disse Arnold,[3] todas as melhores literaturas, todas as mais belas artes, todas as melhores filosofias nacionais. A educação nos impõe conhecê-las todas para que possamos passar sem todas elas.

Outro dia, vi num jornal um surpreendente exemplo de tudo isso. Parece que a Duquesa de Somerset visitou uma escola pública em algum lugar em que as crianças aprendiam contos de fadas, e em seguida ela visitou um orfanato em algum outro lugar e disse que contos de fadas estão repletos de “contra-sensos”, e que seria muito melhor ensinar às crianças sobre Júlio César “ou outros grandes homens”. Aqui temos uma completa incapacidade de distinguir entre o normal e eterno, e o anormal ou acidental. Orfanatos são acidentais e anormais; eles serão todos consumidos pela ira de Deus. Escolas públicas são anormais; encontraremos afinal, espero, algum tipo mais razoável de educação democrática. Duquesas são anormais; elas são um produto peculiar da combinação da velha aristocracia com a nova mulher. Mas o conto de fadas é normal como pão e leite. A civilização muda; mas o conto de fadas nunca muda. Alguns dos detalhes do conto de fadas podem nos parecer estranhos; mas seu espírito é o espírito do folclore; e folclore é, em tradução precisa, a expressão alemã para senso-comum. A ficção, a moderna fantasia e todo aquele mundo excêntrico em que vive a Duquesa de Somerset podem ser descritos em uma frase. A filosofia deles significa coisas ordinárias vistas por pessoas extraordinárias. O conto de fadas significa coisas extraordinárias vistas por pessoas ordinárias. O conto de fadas está repleto de saúde mental. O conto de fadas consegue ser mais são a respeito de um dragão de sete cabeças que a Duquesa de Somerset sobre a escola pública.

Pois todo o negócio dos contos de fadas é simplesmente o antigo e duradouro sistema da educação humana. Um dragão de sete cabeças é, talvez, um monstro muito assustador. Mas uma criança que nunca ouviu falar dele é um monstro muito mais assustador. O mais louco grifo ou quimera não é uma suposição tão extravagante quanto uma escola sem contos de fadas. Através dos comentários superficialmente registrados da Duquesa de Somerset pode-se ler a obscura e extraordinária opinião de que um conto de fadas é algo fantástico, algo artificial, algo da natureza de uma pilhéria. É claro que o diametralmente oposto é verdadeiro. Os contos de fadas são a mais antiga, a mais séria e a mais universal forma de literatura humana. É a escola pública que é fantástica. É o orfanato que é artificial. É a Duquesa de Somerset que é uma pilhéria. Toda a raça humana que vemos andar por todos os lugares é uma raça mentalmente alimentada com contos de fadas tão certamente quanto é uma raça fisicamente alimentada com leite. Se você abolisse os dragões de sete cabeças, você simplesmente aboliria as crianças. Alguns pequenos girinos desumanizados e de cabeças inchadas poderiam permanecer, representando uma lasciva pretensão de infância; mas eles provavelmente morreriam cedo, especialmente se tivessem sido criados à base de Júlio César e sua vida. Algumas partes da vida de Júlio César, se você contasse cada detalhe delas, pareceriam ser um pouco inadequadas para a edificação de crianças; especialmente suas primeiras aventuras. Mas se cada detalhe de sua vida fosse contado, a história começaria com uma vívida descrição do quanto ele gostava de contos de fadas. De alguns dos contos de fadas ele continuou gostando até o fim de sua vida, pois ele era excessivamente supersticioso, como o são todos os homens de grande intelecto que não encontraram uma religião.

Temos aqui, então, um curioso exemplo de uma pessoa tomando erradamente uma atmosfera social temporária como se fosse a eterna sanidade. Pois, para começar, mesmo na simples questão do fato físico, os contos de fadas são um quadro da vida permanente da grande massa da espécie humana muito mais realista que a mais realista ficção. A maior parte da ficção realista trata das modernas cidades – isto é, de um curto período de transição, no menor recanto do menor dos quatro continentes. Os contos de fadas tratam daquela vida do campo, do casebre e do palácio, daquelas relações simples com a raposa e com o rei, que são realmente a experiência do maior número de homens durante o maior número de séculos. O fazendeiro real, na maior parte dos lugares reais, manda seus três filhos procurarem a própria sorte; ele sabe excepcionalmente bem que eles não a encontrarão com ele. O rei real, da maioria das casas reais da terra, está realmente pronto a oferecer a algum excêntrico aventureiro “a metade de seu reino”. Seu reino é, para começar, tão excepcionalmente pequeno que a divisão não parece anormal. Mesmo nestas questões físicas, o conto de fadas parece incrível apenas porque estamos numa posição algo excepcional. Parece-nos incrível porque a grande civilização que construímos é uma coisa especialista, singular e algo mórbida. Em resumo, ele nos parece incrível porque nós próprios logo nos tornaremos incríveis.

No mesmo jornal, ou em algum outro similar, deparo-me com outro exemplo da mesmíssima falta de educação ampla e de senso de proporção histórico. Outra senhora, de análoga posição social, escreveu, no Daily Telegraph, sugerindo que as crianças das escolas públicas deveriam ser desencorajadas a se vestirem – ou melhor, que seus pais deveriam ser desencorajados a vesti-las – de modo sofisticamente extravagante, com laços, veludos e fitas. Ela insistia que os garotos de Eton ou Harrow[4] deviam se vestir com sobriedade, de preto e branco, ou cinza. Mas ela não percebe que isso acontece apenas porque, neste momento, a moda da aristocracia é se vestir com sobriedade, de preto e branco, ou cinza. Um garoto de Eton se veste sobriamente, não porque isto seja viril, mas porque está na moda. E ela não parece ter consciência de que, há não mais de um século, toda a aristocracia se vestia com laços, veludos e fitas. Os pais de crianças pobres estão novamente fazendo a coisa humana normal. Estão vestindo suas crianças como os cavalheiros se vestiam ontem, e como podem estar se vestindo amanhã.


[1] Os três erres se referem às palavras, em inglês, relativas às supostas três habilidades básicas de uma educação orientada: reading [leitura], writing [escrita], arithmetic [aritmética]. As palavras, embora não comecem todas com “r”, têm um fonema forte que envolve esta letra. (N. do T.)
[2] Religião fundada em 1866 por Mary Baker Eddy. Seus adeptos acreditam que o homem e o universo são coisas espirituais em si e que o mal e o erro são produtos da existência material. Ver Chesterton e a Ciência Cristã. (N. do T.)
[3] Matthew Arnold foi escritor e crítico cultural inglês. Foi um dos mais influentes escritores ingleses do século XIX. (N. do T.)
[4] Escolas particulares da alta nobreza inglesa. Eton foi fundada no século XV e Harrow no século XVI. (N. do T.)

28/10/2010

Deus lhe pague, Papa Bento XVI

Agora sabemos quais os bispos brasileiros agem de acordo com a Santa Sé, de acordo com a Tradição da Igreja. São poucos, é verdade, mas eles existem, e demos graças a Deus por isso. Hoje, dia de São Judas Tadeu, o santo das causas impossíveis, o Papa se pronunciou, a um grupo de bispos brasileiros, dizendo o que todos os verdadeiros católicos já sabiam: é papel da Igreja emitir juízo moral em questões políticas quando isso for importante para defender os direitos fundamentais da pessoa. Há três dias das eleições no Brasil, este pronunciamento não tem outro foco que não a condenação dos “outros bispos”, que se calaram, que se omitiram em hora tão grave ou que, declaradamente, apoiaram partidos abortistas. É também resposta à carta que o bispo Bergonzini enviou ao Papa.

Veja a reportagem da Gazeta do Povo e o pronunciamento no post do FratresInUnum.

Viva o Papa Bento XVI e Deus lhe pague!

27/10/2010

Pois a minha carne é um verdadeiro alimento (Jo. 6:55)

Johann Tauler

Beneditino do séc. XIV


Nota do blog: Tauler deixou uma coleção de sermões, proferidos principalmente em conventos de freiras dominicanas, que são uma obra clássica do catolicismo, tendo influenciado grandes santos, como São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila. Eis um pequeno destes sermões, proferido numa Missa de Corpus Christi.


Não há matéria que está tão próxima de um homem e que tanto se torna parte dele quanto a comida e a bebida que ele coloca em sua boca; e assim Deus encontrou esta maravilhosa forma de Se unir a nós tão intimamente quanto possível e se tornar parte de nós ... Todavia São Bernardo disse: “Quando nos alimentamos de Deus, somos consumidos por Ele e Ele se alimenta de nós.” Quando Deus se alimenta de nós? Ele assim o faz quando morde e mastiga nossas consciências; como um homem mastiga a comida em sua boca, assim os castigos de Deus mastigam um homem, enchendo-o de temor e medo, aflição e amargura, de tal forma que ele não sabe o que acontecerá consigo.

 

Querida filha, quando isso acontecer com você, agüente firme. Deixe Deus morder e mastigar você. Não procure evitá-lo, nem mesmo tente tomar o lugar de Deus; e não corra para o seu diretor espiritual à procura de consolação, porque isso a privaria de uma proveitosa aflição. Não, a primeira coisa que você deve fazer é, confesse sua falta a Deus; e não por meio de exercícios devotos e pequenas orações piedosas, mas com um profundo lamento das profundezas de sua alma: “Ah! Senhor, tenha piedade de mim, miserável pecador.”

 

Também, não fuja de si mesma. É mil vezes mais proveitoso para você passar por isso até o fim do que ler um grande número de livros ou fazer outra coisa que poderia ajudá-la a escapar da aflição. Por outro lado, você deve ficar atenta em tais períodos para evitar que o demônio lhe fira com uma excessiva melancolia. Ele gostaria de servir a você ervas amargas: mas as ervas que Nosso Senhor coloca à sua frente são doces e saudáveis, e quando Ele já estiver lhe castigado, toda a sua mente estará plena de doçura. Você terá n’Ele uma fé amorosa, vinda de uma confiança e inocente esperança.

23/10/2010

Duas aulas do ContraImpugnantes

 

Conheci pessoalmente Sidney Silveira muito recentemente, num momento em que ele falava em desativar, por um tempo, seu extraordinário blog. Lembro-me de ter protestado muito com ele, dizendo-lhe que seu blog era fundamental para o Brasil. Não demorou muito para que o Brasil tivesse muito a agradecer ao Sidney, pelo menos os católicos do Brasil. Seus posicionamentos filosóficos sobre as eleições são uma contribuição irreprimível para quem tem alguma coisa na cabeça e no coração.

Hoje, Carlos Nougué, a quem conheço já há mais tempo, continua sendo meu professor, e de todos nós, dando-nos uma aula de história. Ele mostra quão grande é a semelhança entre PT e PSDB; são quase irmãos siameses, digo eu.

Leiam com atenção as duas aulas: Breves palavras sobre o PT, de Carlos Nougué, e Sobre as coisas políticas (VIII): momento de ir aos princípios.

 

21/10/2010

As portas do inferno não prevalecerão

Quando tudo está tão tenebroso, quando fica patente a situação de heresia de muitos bispos brasileiros, quando só alguns poucos bispos têm a coragem de defender a verdadeira Fé Católica, descubro no interior baiano uma comunidade verdadeiramente católica, observando os três conselhos evangélicos; Obediência, Pobreza e Castidade. Um dos fiéis que frequenta as missas celebradas no mosteiro da comunidade me escreve e me pede para divulgar o site d’A Família Beatae Mariae Virginis – F.B.M.V. (cujos membros são chamados Marianos). Incluirei o link no grupo de sítios católicos do blog. Vale a pena acessar a história desses Marianos. Ela é uma clara confirmação da promessa de Nosso Senhor de que o demônio não conseguirá vencer sua Igreja.

Peço a eles orações para este indigno blogueiro.

18/10/2010

Frutos do Concílio Vaticano II

Nota do blog – vai abaixo um texto que embrulha o estômago. Foi postado, como comentário no FratresInUnum, por Cândido. Quem poderia imaginar, há quatro décadas, que teríamos um porta-voz do demônio como pároco da Santa Igreja Católica, usando de tanta loquacidade abjeta. Finalmente vemos à luz do dia o resultado da ambigüidade do texto conciliar, do espírito do concílio e, finalmente, da apropriação da Igreja por hordas de padres e bispos hereges. Termos de ler um padre usar a expressão efeminada “Que tiririquice!” é demais. Proponho a todos os católicos que conseguirem chegar ao final do texto, que façamos uma penitência para desagravar o Coração Imaculado de Maria e o Sagrado Coração de Jesus de tantas ofensas.

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ABORTANDO A ELEIÇÃO

* Por Padre Otto Dana, via Blog do Luís Nassif

Brasileiros e brasileiras! O capeta está solto! Empunhemos nossos terços e Bíblias e até Alcorões, se os houver! Herodes brande a espada afiada contra as criancinhas do Brasil! Ergamos a fogueira! Queimemos os hereges! O aborto e os gays estão espreitando pela janela!

Gente do céu! Que tiririquice! Que babaquice mais que medieval. Que onda inquisitorial graçando em pleno século XXI. A caça às bruxas. O extermínio dos veados. Cruz, credo! Xô Satanás! Estamos apenas tentando eleger um Presidente para o Brasil. Estamos discutindo propostas e projetos para uma boa administração do Brasil. Aborto, gueisismo, pílula, camisinha não é prioridade do momento.

O processo eleitoral corria tranquilo, dentro dos princípios democráticos: discute-aqui- denucia-ali, promete-isso, condena-aquilo, tudo numa boa. De repente a serenidade é detonada por uma horda de aiatolás, talibãs, mulás, numa gritaria ensurdecedora contra os que ameaçam o poder do Altíssimo.

Alguns vestidos de batina (ainda!), outros de mitra e báculo, outros de terno e gravata ostentando Bíblias, todos ecumenicamente de dedo em riste acusador: “ela é a favor do aborto, ele apóia o casamento homem-com-homem, mulher-com-mulher, os dois defendem a distribuição de camisinhas até para as crianças da escola.

Deus do céu! Que atraso! Que tiririquice! Pra começar, arbitrar sobre aborto e formas de casamento é da competência do Congresso Nacional e não do Presidente da República, que apenas sanciona ou veta a disposição do Congresso. Além do mais, aborto e casamento gay nem estão em pauta de discussão, hoje.

Mais importante e pertinente agora é ouvir dos candidatos suas propostas e projetos concretos quanto à saúde, educação de qualidade, distribuição de renda, segurança da população, criação de empregos, formas de apropriação ou não do Estado, relações diplomáticas e econômicas com outros países, transporte, saneamento básico, liberdade de imprensa, desenvolvimento do país, programas sociais, etc., etc.

E mais: estamos num país democrático, regido por uma Constituição Civil e não pelas tábuas da lei de Moisés. É um país democrático e laico e não teocrático, apesar de supostamente religioso. Sua capital é Brasília e não o Vaticano, nem a Canção Nova, nem a sede da Assembléia de Deus, nem a CNBB.

Tentar manipular a consciência do eleitor, ameaçando-o com a ira de Deus é injuriar o próprio Deus que nos criou livres. O dia em que o povo tiver que consultar um aiatolá de plantão tipo Pastor Silas Malafaia, ou um Padre José Augusto (Canção Nova) para votar, é melhor rasgar o título de eleitor e o estatuto da maioridade civil. O que vem se praticando em meios religiosos no momento, é o aborto da eleição, da democracia, da Constituição e do bom senso. Xô Satanás!

* Padre Otto Dana é Pároco da Igreja Sant´Ana em Rio Claro – São Paulo (Diocese de Piracicaba – SP). Seu e-mail é otto.dana@gmail.com

16/10/2010

Algumas atualizações

Fiz algumas atualizações nos links que aparecem à direta no blog.

Coloquei uma lista de links para livrarias e editoras virtuais, onde se pode comprar grandes obras católicas. Quem souber de livrarias ou editoras realmente católicas, favor me enviar o link.

Acrescentei também um link nos "Sites Católicos", que é extraordinário. Trata-se do Real Catholic TV. Quem conseguir entender inglês vai transformar este site em uma fonte de consulta permanente. A diversidade e qualidade do material ali existente é surpreendente. Você pode se associar ao site de graça ou se tornar membro "premium", pagando US$10,00 por mês. Sugiro a todos que consulte este site.

Um dos programas gerados quase todos os dias, e que é oferecido de graça é o VORTEX. É um programa de uns 3-4 minutos de comentários sobre o catolicismo no mundo atual.

O Guilherme Ferreira Araújo, nosso tradutor de Hilaire Belloc, está disponibilizando alguns dos VORTEX legendados em português: VORTEX EM PORTUGUÊS.

12/10/2010

Deus lhe pague, Sidney Silveira!

O ContraImpugnantes, pela pena de Sidney Silveira, escreve textos fundamentais nesta hora tão terrível para o nosso país. Escreve textos fundamentais porque fundamentados na mais sã filosofia católica. Merecem ser lidos: Sobre as coisas políticas (III): parênteses para o segundo turno das eleições presidenciais e Sobre as coisas políticas (V): quando a escolha do suposto mal menor pode perverter a alma.

Votarei nulo no segundo turno, pois acho, com Sidney e Nougué, que é impossível escolher o mal menor na atual situação em que nos encontramos. Que Nossa Senhora da Aparecida rogue por nós!

09/10/2010

Um impasse apenas aparente

Impasse. Assim fica difícil ser católico.

Quando o aluno precisa ensinar o professor, a instituição de ensino perde a credibilidade. Quando o catequizando precisa catequizar o catequista, a Igreja perde a sua credibilidade. É preciso tomar mais cuidado ao ensinar, publicamente, o vigário a rezar! As ovelhas que estão fora do rebanho podem decidir que estão melhor sozinhas do que ficarem mal acompanhadas na Igreja que perdeu sua missão, competência e identidade. Em JMS

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Recebi o comentário acima no post CARTA ABERTA A DOM SABURIDO. OU, ENSINANDO O VIGÁRIO A REZAR. OU, AINDA, UMA CORREÇÃO FRATERNA e passo a respondê-lo.

Há um erro de princípio no raciocínio do leitor: a Igreja não é como uma instituição normal de ensino. O Magistério da Igreja é exercido pelo Papa e seus Bispos, mas nem tudo que o Papa e os Bispos falam está de acordo com este Magistério; apenas aquilo que está de acordo com a Tradição que sempre foi aceita pela Igreja. A regra da Fé verdadeira é a de São Vicente de Lerins: “quod ubique, quod semper, quod ab omnibus.” Este santo dizia no século V: “Na Igreja Católica é preciso pôr o maior cuidado para manter o que se crê em todas as partes, sempre e por todos. Eis o que é verdadeira e propriamente católico ...” [Comonitório, Cap. II, Editora Permanência, 2010]

Nós católicos não estamos numa escolinha em que tudo o que os professores ensinam deve ser considerado a última de todas as verdades. Ainda no século IV, os bispos arianos, em grande número, ensinavam que Nosso Senhor não era um ser incriado; para os arianos, ele era um ser muito perfeito, mas era uma criatura de Deus. Estes bispos eram seguidores do bispo Ário, o terrível inimigo da Igreja, contra quem lutou o grande Santo Atanásio. Os fiéis que sabiam que não estávamos numa simples escolinha, lutaram contra os bispos arianos e salvaram, com Santo Atanásio, a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Entre os séculos IX e XI, muitos bispos do sul da França se tornaram cátaros, uma poderosa heresia que quase destruiu a Igreja. Esta heresia só terminou com uma luta armada muito sangrenta. Quem se contrapôs aos cátaros estava defendendo a Fé verdadeira: “quod ubique, quod semper, quod ab omnibus.”

Não é novidade para um católico minimamente informado, que a heresia protestante invadiu a Igreja com o Concílio Vaticano II. Há hoje muitos bispos da Igreja que defendem posições que alegrariam Lutero e Calvino. Há hoje uma missa que, embora canonicamente válida na sua forma original, é celebrada, na maioria das vezes, de forma protestantizante. Há padres que celebram a missa nova de forma pia e respeitosa em relação a Nosso Senhor Jesus Cristo. Infelizmente, a maioria não se comporta dessa forma. Assim, há hoje muito o que corrigir, muito o que apontar como erro na prática de padres e bispos. Foi o que fez, e muito bem, Marcos Paulo no post acima referido.

Na Igreja, a correção fraterna sempre foi e sempre será uma eficiente prática, não só para alertar quem propaga um erro de que ele está fazendo algo condenável, mas para alertar quem possa ser influenciado pelo erro de que aquilo não é ensinamento tradicional da Igreja.

Se o leitor anônimo quiser uma amostra de erros cometidos por padres e leigos católicos no Brasil de hoje, leia minha séria de posts Lições das Missas de Paulo VI. Se quiser uma amostra digamos “do momento”, a CNBB, em nota de 8 de outubro de 2010, diz: “A CNBB é um organismo a serviço da comunhão e do diálogo entre os Bispos, de planejamento orgânico da pastoral da Igreja no Brasil, e busca colaborar na edificação de uma sociedade justa, fraterna e solidária.” Ora, a Igreja, nunca, em nenhum lugar, acreditou, pregou, escreveu ou mesmo insinuou que ela tivesse sido constituída por Nosso Senhor, para lutar por uma “uma sociedade justa, fraterna e solidária.” Isso não faz parte de nossa Fé verdadeira. A Igreja foi constituída para ser o único meio universal de salvação da alma humana, nada mais, nada menos que isso. A afirmação da CNBB ficaria bem em qualquer estatuto de loja maçônica ou de partido comunista. Assim, os leigos não podemos deixar de denunciar esta farsa, este erro, esta heresia. Temos a obrigação de corrigir quem está em erro; esta é uma regra de caridade.

O leitor diz ainda que as ovelhas talvez estejam melhor fora, que dentro da Igreja. Ora, mas pensa isso só quem não entende que a Igreja é o Corpo Místico de Nosso Senhor; que é na Igreja, por meio de seus Sacramentos, que jorra a água que, tomada, matará a sede eternamente. Não há outro lugar onde esta Água Viva possa ser encontrada. Assim, ninguém estará melhor fora dela, só porque aqui há pessoas que erram, que propagam heresias, que têm de ser combatidas: extra Ecclesiam nulla salus.

Mais uma vez a metáfora da escolinha não funciona. Se você está numa escola ruim, basta que você mude de escola. Quando se está na Igreja verdadeira, não há opção de mudança. Melhor errar dentro da Igreja – e ser corrigido pelos irmãos católicos – que ter a veleidade de acertar fora dela, onde só há lisonja ao erro.

E só para terminar: quem lhe disse que é fácil ser católico?

06/10/2010

O ESBOÇO DA QUEDA

Do livro A Coisa, 1929
Gilbert Keith Chesterton

Tenho observado a curiosa ação ludibriosa de retaguarda que tem sido tomada para acobertar o recuo dos darwinistas. Um exemplo da mesma coisa surgiu em conexão com um famosíssimo nome; na verdade, com dois nomes famosos. O Sr. H.G. Wells respondeu ao Sr. Belloc, que escreveu uma crítica a Outline of History [Esboço da História],[1] principalmente a fim de protestar contra um certo tom de arbitrária generalização e simulado conhecimento do desconhecido. Um caso típico se encontrava no que o Sr. Wells dizia de homens que desenhavam renas nas cavernas: “Parecia não haver em tais vidas espaço para a especulação e a filosofia,” ao que o Sr. Belloc, como é natural, respondeu: “Por que não, em nome de Deus?” Mas os detalhes dos vários trabalhos em questão não me interessam imediatamente aqui; eles predominantemente dependem do hábito de falar como se cada pintura rupreste tivesse sua data gentilmente nela inscrita: ou cada machadinha de pedra polida pudesse trazer a inscrição 400.000 a.C., ou possivelmente, a.E.H., antes do Esboço da História. No momento, o único ponto de contato é aquele que se relaciona à nossa crítica anterior, a respeito do presente estado do darwinismo. E o que me impressiona é que mesmo o Sr. Wells, não raro um caloroso polemista, esteja relativa e realmente frio sobre o assunto; e sua defesa de Darwin é muito mais uma escusa do que uma apologia. De fato, como tantas outras apologias modernas, ela quase se resume em alegar que Darwin não era darwinista.

Os evolucionistas vitorianos se devotaram a declarar a grandeza da tese de Darwin. Os novos evolucionistas parecem devotados a explicar sua pequenez. Eles realmente parecem alegar, como na velha anedota, que ela pariu uma teoria, mas uma teoria muito pequena. Algumas das palavras do Sr. Wells podem, seguramente e sem injustiça, ser consideradas apologéticas. Ele não tenta, como o professor previamente mencionado, superar a palavra “origem” falando sobre “a causa da origem”. Então ele se concentra na palavra “espécies”, como se a evolução não tivesse sido apenas aplicada a uma sub-divisão. Ele acrescenta que Darwin não a aplicou, no início, nem mesmo ao homem. O que, fico a pensar, os darwinistas vitorianos teriam pensado tivessem eles ouvido, numa defesa do darwinismo, que este não se aplicava ao homem? Será que isto significa que apenas o primeiro livro de Darwin é divinamente inspirado? Novamente, o Sr. Wells diz que a seleção natural é senso comum. E sem dúvida, se ela apenas significar que o mais capaz de sobreviver sobrevive, ela é senso comum. Podemos também acrescentar que isto é conhecimento comum. Mas será só isso, que Darwin esteja sendo defendido porque ele apenas descobriu o que era conhecimento comum? A questão real, claro, é aquela proclamada pelo Sr. Belloc, quando disse que não é necessário contar para ninguém que numa enchente o peixe vive e o gado morre. A questão é: em quanto tempo o gado se transforma em peixe? Isto seria um exemplo da verdadeira teoria darwinista; e ela é agora minimizada, representada como apenas um elemento de evolução e sem nem mesmo os elementos de explicação. Imaginamos que haja um saudável preconceito por trás de tudo. O Sr. Wells, de forma indignada, repudia a blasfêmia pronunciada pelo Sr. Belloc, que o chamou de patriota. Mas é verdade; o profundo orgulho nacional inglês tem muito a ver com essa devoção. E ao invés de privar a Inglaterra de seu Darwin, eles privaram Darwin de sua descoberta.

Quando um homem é um gênio tão grande quanto o Sr. Wells, admito que soa provocativo chamá-lo de provinciano. Mas se ele desejar saber porque alguém o faria, será suficiente apontar silenciosamente para o título de uma de suas páginas: “Onde fica o Jardim do Éden?” Descer a uma coisa dessas, e considerá-la significativa ao conversar com um católico inteligente sobre a Queda, isto é provincianismo; caro e orgulhoso provincianismo. Os camponeses franceses, de quem o Sr. Wells fala, não são provincianos neste sentido. Como o próprio Sr. Wells admite, eles nada sabem sobre Darwin e evolução. Eles não sabem e não ligam; é onde eles são muito melhores filósofos que o Sr. Wells. Eles guardam a filosofia da Queda, na forma de uma simples história que pode ser histórica ou simbólica, mas, de qualquer forma, não pode ser mais importante do que o que ela simboliza. Em comparação com essa verdade, não vale sequer um centavo o fato de alguma teoria da evolução ser verdadeira ou não. Quer o jardim seja ou não uma alegoria, a verdade em si mesma pode muito bem ser simbolizada por um jardim. E a questão é que o Homem, seja o que for, não é meramente uma das plantas do jardim que desatolou suas raízes do solo e perambulou com elas, como se fossem pernas, ou, ao modo de uma dália dupla, tenha desenvolvido olhos e ouvidos duplicados. Ele é algo mais, algo estranho e solitário; é mais parecido com a estátua que foi anteriormente o deus do jardim; mas a estátua caiu de seu pedestal e permanece quebrada por entre plantas e ervas daninhas. Essa concepção não tem nada a ver com o materialismo quando se refere aos materiais. A imagem pode ser feita de madeira; a madeira pode ter vindo do jardim; o escultor pode presumivelmente, e provavelmente, permitir a sensação de crescimento e textura da madeira em que ele esculpiu e se expressou. Mas minha fábula preserva as duas verdades da verdadeira escritura. A primeira é que a madeira foi esculpida ou estampada com uma imagem, deliberadamente, e desde fora; neste caso a imagem de Deus. A segunda é que esta imagem foi danificada e desfigurada, de modo que ela está agora ao mesmo tempo melhor e pior que as meras plantas do jardim, que estão perfeitas segundo seus próprios planos. Há espaço para muita especulação sobre a história da árvore antes de ter se tornado uma imagem; há espaço para muita dúvida e mistério sobre o que realmente aconteceu quando ela se tornou uma imagem; há espaço para muita esperança e imaginação sobre o que ela se tornará quando for recomposta e transformada numa estátua perfeita que nunca vimos. Mas há duas coisas imutáveis: que o homem foi elevado inicialmente e caiu; e responder a isso dizendo, “Onde está o Jardim do Éden?” é como responder a um filósofo budista dizendo, “Quando você foi um macaco pela última vez?”.

A Queda é uma visão de vida. Ela não é apenas a única visão esclarecedora da vida, mas a única encorajadora. Ela afirma, contra as únicas filosofias alternativas reais, aquelas dos budistas, dos pessimistas e dos prometéicos, que nós usamos impropriamente um mundo bom, e não simplesmente que estamos presos num mundo mau. Ela remete o mal ao uso errado da vontade, e assim declara que ele pode eventualmente ser corrigido pelo correto uso da vontade. Qualquer outro credo, exceto este, é uma forma de rendição ao destino. Um homem que guarda esta visão de vida descobrirá que ela ilumina milhares de coisas; sobre as quais, as éticas evolucionárias não têm nada a dizer. Por exemplo, sobre o colossal contraste entre a inteireza da máquina humana e a contínua corrupção de seus motivos; sobre o fato de que nenhum progresso social parece nos livrar do egoísmo; sobre o fato de que os primeiros, e não o últimos, homens de qualquer escola ou revolução são geralmente os melhores e os mais puros; tal como William Penn foi melhor que um quacker milionário ou Washington melhor do que um magnata americano do petróleo; sobre aquele provérbio que diz: “O preço da liberdade é a eterna vigilância,”[2] que é propriamente apenas um modo de declarar a verdade do pecado original; sobre aqueles extremos de bem e mal em que o homem excede a todos os animais pelos padrões do céu e do inferno; sobre aquele sentido de perda sublime que está em cada verso de toda grande poesia, e em nenhum outro lugar em maior quantidade do que na poesia dos pagãos e céticos: “Miramos o antes e o depois, e nos consumimos pelo que não é”;[3] que clama contra todos os arrogantes e progressistas, das profundezas e abismos do coração partido do homem, de que a felicidade não é somente uma esperança, mas também, em certo estranho sentido, uma memória; e que somos todos reis no exílio.

Para o indivíduo que sente que esta visão de vida é mais real, mais radical, mais universal que as simplificações baratas que se opõem a ela, é um choque de trivialidade perceber que alguém, quanto mais um homem como o Sr. Wells, possa supor que tudo dependa de algum detalhe a respeito de um jardim na Mesopotâmia, como aquele identificado pelo general Gordon. É difícil encontrar algum paralelo de tal incongruência; pois não há similaridade real entre os acontecimentos e eventos mortais e confusos que se passaram conosco, que foram divinos, embora misteriosos, e as escrituras que são sagradas, embora simbólicas. Mas alguma sombra de comparação poderia ser feita com os mitos modernos. Digo mitos em que homens como o Sr. Wells geralmente acreditam; o Mito da Carta Magna ou o Mito do Mayflower. Ora, muitos historiadores sustentarão que a Carta Magna é algo insignificante; que foi, em grande medida, um item do privilégio medieval. Mas suponha que um dos historiadores que tem esta visão começasse a discutir entusiasticamente conosco sobre a fabulosa natureza de nossa imagem da Carta Magna. Suponha que ele produzisse um mapa e documentos para provar que a Carta Magna não fora assinada em Runnymede, mas em algum outro lugar; como acredito que alguns eruditos assim consideram. Suponha que ele criticasse a heráldica falsa e as vestimentas fantasiosas que aparecem nos museus de cera. Poderíamos pensar que ele estivesse indevidamente entusiasmado com um detalhe da história medieval. Mas com que assombro percebemos finalmente que o homem realmente considerava que todas as modernas tentativas de estabelecer a democracia estão erradas, que todos os parlamentos teriam de ser dissolvidos e todos os direitos políticos destruídos, uma vez que fosse admitido que Rei João não assinou aquele documento especial, naquela pequena ilha no Thames! O que pensaríamos dele, se ele realmente pensasse que não temos nenhuma razão para gostar da lei e da liberdade, a não ser a autenticidade daquela amada assinatura real? Isto é, em grande medida, como eu sinto quando descubro que o Sr. Wells realmente imagina que a luminosa e profunda filosofia da Queda apenas significa que o Éden se localizava em algum lugar da Mesopotâmia. Ora, a única explicação para um grande homem como o Sr. Wells ter um pequeno preconceito, como este sobre a serpente, é que ele vem de uma tradição religiosa que considerava o texto da Escritura dos Hebreus como a única autoridade e esquecera tudo sobre a grande metafísica medieval e sua discussão das idéias fundamentais.

O homem que faz isso é provinciano; e não há mal em dizê-lo, mesmo quando ele é um dos maiores homens de letras e uma glória da Inglaterra.

[1] No Brasil, esta obra teve várias edições na década de 1950 com o título História Universal. (N. do T.)
[2] Esta citação é de um discurso feito em 1790 por John Philpot Curran (1750-1817), advogado irlandês, orador e patriota. (Nota da edição da Ignatius Press.)
[3] We look before and after, and pine for what is not, do poema To a Skylark, de Shelley. (N. do T.)