21/01/2010

Lições das missas dominicais pós-Vaticano II– Parte XXVIII

Comento aqui o artigo do Sr. Domingos Zamagna intitulado “Catequese e Ecumenismo”, n’O DOMINGO de 27/09/2009.

Este artigo é muito explícito em pontos que foram apenas anunciados nos artigos anteriores. O que o Sr. Zamagna prega é má doutrina. Não é má doutrina segundo minha opinião, que, neste caso, merece tanta atenção quanto à do próprio articulista. É má doutrina segundo a verdadeira e tradicional Doutrina Católica.

Já no início do artigo, o Sr. Zamagna, citando um grande pensador do século XX, que ele não declina o nome, diz que esse século foi o século do ateísmo e do ecumenismo. Cita na maior inocência sem se dar conta de que este é causa daquele. O ecumenismo leva à apostasia e depois ao ateísmo. Se algum indivíduo minimamente inteligente acredita que em todas as religiões há meios de salvação, logo ele se desvincula da Igreja e procura algum culto que lhe seja menos exigente. De religião em religião, passando pelas religiões orientais, que não são outra coisa senão um materialismo disfarçado, ele chega facilmente ao cientificismo rasteiro, alardeado incessantemente pela mídia, e daí ao ateísmo. Isto é a conclusão lógica do ecumenismo. Ele começa negando que a Verdade esteja somente na Igreja Católica e acaba negando que exista Verdade. Este é o caminho da grande apostasia que existe hoje na Igreja.

Na sua inocência ou inconsciência, o Sr. Zamagna declara sua esperança de que o século XXI seja o século de um “reavivamento da fé e um incremento do movimento ecumênico”. Uma coisa não leva à outra, pois se estamos falando da Fé, aquela cujo depósito se encontra única e exclusivamente com a Igreja Católica, é claro que seu reavivamento significará um decremento do “movimento ecumênico”. Feliz expressão “movimento ecumênico”! Ela desnuda exatamente o que é o ecumenismo: um movimento. Como o foi, e ainda o é, o movimento comunista, o movimento fascista, o movimento ambientalista, etc. Colocamos assim o ecumenismo com seus irmãos siameses. São movimentos políticos, ao estilo de Judas Iscariotes. São heresias, no sentido em que elas são entendidas pela tradição católica.

Chama a atenção do leitor a seguinte frase do Sr. Zamagna: “a busca da unidade entre os cristãos, certamente um movimento moderno inspirado pelo Espírito Santo ...” Meu Deus! Esses pregadores pós CVII consideram que o primeiro papa foi João XXIII. Quando é que a Igreja desistiu de converter os hereges? Quando é que a Igreja deixou de rezar pela conversão dos hereges? Quando é que pregadores do talante de São Francisco de Sales deixaram de pregar aos protestantes com o intuito de sua conversão? O que é novo, e o que não é em absoluto inspirado pelo Espírito Santo, é a idéia herética de que a união dos cristãos seja feita, não a partir da conversão à Igreja Católica, mas a partir da conversão dos católicos a uma religião comum, que contenha elementos comuns aos dois (ou três, quatro, etc.) lados. Chesterton chamava esta religião de “Religião da Irmandade Universal”, cujo fundamento seria o que ele chama de “Fé Progressista”. E com quem irmanaríamos? Quem seriam nossos irmãos nesta ampla e progressista religião? Chesterton nos diz: “O deão da Catedral de São Paulo [da Igreja Anglicana] que se permite alegremente chamar a Igreja Católica de uma corporação traidora e sangrenta; o Sr. H.G. Wells que se permite comparar a Santíssima Trindade a uma dança indigna; o Bispo de Birmingham [bispo da Igreja Anglicana] que se permite comparar o Santíssimo Sacramento a uma bárbara festa de sangue.”

Diz ainda, perigosamente, o Sr. Zamagna: “A Igreja sempre nos ensinou que permanece nela a plenitude das verdades reveladas e dos meios de salvação instituídos por Jesus Cristo; mas essa convicção deve ser acolhida com humildade e no respeito às demais religiões ...” É-me impossível não lembrar novamente de Chesterton. Diz este escritor em sua obra-prima Ortodoxia: “O mundo moderno está repleto de antigas virtudes cristãs que enlouqueceram. Essas virtudes enlouqueceram porque ficaram isoladas umas das outras e vagueiam por aí sozinhas. (...) Acontece, porém, que a humildade está no lugar errado. A modéstia afastou-se do órgão da ambição e estabeleceu-se no órgão da convicção, onde nunca deveria estar. O homem podia duvidar de si, mas não duvidava da verdade. Agora se dá exatamente o contrário.” A convicção do Sr. Zamagna é humilde, pois ele relativiza a verdade, e sua ambição monstruosa: nada mais do que fundar a “Religião da Irmandade Universal”.

No final do artigo, o Sr. Zamagna declara sua concepção de catequese: “Daí a importância de, ao lado da exposição correta da fé cristã e católica, fazermos também verdadeira exposição sobre as outras religiões, sem caricaturas.” Note a expressão “fé cristã e católica”! Que significa isto? Há uma fé cristã e outra católica? Ora! se existe de início tal dúvida, como catequizar alguém? Além disso, o Sr. Zamagna está confundindo catecismo com estudo comparado de religiões.

Mas o articulista continua: “Essa mesma lealdade devemos esperar de quem não professa nenhuma crença ou segue uma religião diferente da nossa, o que não nos impede de valorizar os pontos de convergência doutrinária e ultrapassar as barreiras do preconceito para realizarmos a prática comum da justiça e do amor.” Este é um exemplo prático da humildade enlouquecida, da humildade localizada no “órgão da convicção”. A religião do Sr. Zamagna é aquela que é tão ampla que inclui, não só os inimigos declarados da Fé Católica, mas até os ateus. Inclui não só o deão da Catedral de São Paulo ou o Bispo de Birmingham, mas também H.G. Wells. Catequese para ele é a pregação do vale tudo doutrinário, do quem quiser pode entrar, do amor à criatura e não ao Criador.

1. Para fazer DOWNLOAD DO LIVRO com os primeiros 28 posts sobre a Missa de Paulo VI (e algumas coisas mais) clique aqui.

2. Para ver outros comentários sobre a Missa nova, clique: Parte XX, Parte XXI, Parte XXII, Parte XXIII, Parte XXIV, A dissolução da catequese: Romano Amério conta como foi, Parte XXV, Parte XXVI, Parte XXVII

2 comentários:

Gederson disse...

Prezado Prof. Angueth,
Viva Cristo Rei! Salve Maria!

Embora tenha um posicionamento tradicionalista, não posso deixar de ver também na litúrgia, o reflexo particular da hermenêutica da ruptura. Onde não existem abusos litúrgicos, mas efetivamente, um processo de corrupção da própria litúrgia.

Talvez se começassemos a falar em uma litúrgia da continuidade e uma litúrgia da ruptura, poderíamos pelo menos minimizar os males decorrentes da reforma litúrgica. Além disso, embora não concorde com a interpretação do Concílio a luz da tradição, ainda não posso discordar de um pedido direcionado aos Padres, para que celebrem a Missa, a luz da tradição. Isto embora não seje o ideal, seria um mal menor, na atual conjuntura, principalmente se considerarmos, o ensinamento de Pio XI, na Quas primas:

(“(…) as pessoas são instruídas nas verdades da fé…com muito maior eficácia pela celebração anual dos nossos sagrados mistérios do que por qualquer pronunciamento autorizado do Magistério da Igreja”. Quas Primas - Pio XI

Fique com Deus.

Abraço

P.S.: Os folhetins "O domingo", são meios de difusão da hermenêutica da ruptura.

Christiano disse...

Os folhetins de "O Domingo" é uma falta de vergonha descarada. É uma grande desobediência para com o Santo Padre que condenou a teologia da libertação enquanto cardeal e Papa. Também é de uma falta de vergonha sem precedentes para com a doutrina tradicional da Igreja Católica feita por esses Eminentíssimos Bispos de Fidel Castro. Esses Senhores Bispos da CNBB eram para tomar conta das ovelhas católicas mas o que eles fazem é deturpar a mensagem evangélica e transformá-la em marxismo puro. De Católicos eles não tem mais nada a não ser a vestimenta, porém o coração é profundamente marxista e anti-católico. Desobedientes ao Papa. São cloacas de doutrinas impuras e condenadas pelo Santo Padre.
Viva o Papa!
Que a Santíssima Virgem proteja o Santo Padre dos lobos vermelhos!