30/06/2012

Purgatório: Segunda visão - Parte II



Pe. Faber

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Perfeito amor a Jesus e Maria

Oh! quão solene e avassalador é o pensamento daquela região sagrada, daquele reino de dor. Não há choro, não há murmúrio; tudo é silente, silente como Jesus ante seus inimigos. Nunca saberemos o quanto amamos realmente Maria até que a olhemos daquelas profundezas, daquele vale repleto do temível e misterioso fogo. Ó bela região da Igreja de Deus! Ó amada hoste do rebanho de Maria! Que incrível cena é apresentada a nossos olhos quando contemplamos aquele consagrado império de impecabilidade, e mesmo assim do mais agudo sofrimento. Há a beleza daquelas almas imaculadas, e ademais há o encanto e a reverência de sua paciência, a majestade de seus dons, a dignidade de seus solenes e castos sofrimentos, a eloquência de seu silêncio; o luar do trono de Maria iluminando aquela região de dor e indizível expectativa; os anjos de asas prateadas viajando através das profundezas daquele reino misterioso; e acima de tudo, aquela invisível Face de Jesus, que é tão bem lembrada que parece quase visível! Que pureza imaculada de louvor existe aqui nessa liturgia de sagrada dor! Ó mundo, ó fatigado, ó clamoroso, ó mundo pecador! Quem não fugiria, se pudesse, como uma pomba libertada do cativeiro, dessa fadiga perigosa e peregrinação arriscada, e voaria alegremente para o lugar mais humilde daquela região tão pura, tão segura, tão santa de sofrimento e amor sem mácula?

Tratado sobre o Purgatório, de Santa Catarina de Genova

A publicação do tratado de Santa Catarina [Tratado sobre o Purgatório] é tão notável na história da doutrina e da devoção do Purgatório que pode ser útil uma breve descrição desse evento. O arcebispo de Paris, Mons. Hardouin Perefix, o mandou examinar pelos doutores da Sorbonne em 1666, e na sua aprovação, eles o descreveram como uma “rara efusão do Espírito de Deus sobre uma alma pura e amante, e um sinal maravilhoso de Sua solicitude para com Sua Igreja e Seu cuidado em iluminá-la e assistir-lhe segundo suas necessidades”; e a aprovação continua dizendo que os examinadores consideraram o Tratado como um socorro providencial para os católicos, justo quando as heresias de Lutero e Calvino, dentre outras heresias, começavam a atacar os mortos [pela proibição das orações e Missas para eles].

Em 1675, Martin d’Esparza, um jesuíta, apresentou sua censura [veredito] acerca do Tratado ao Cardeal Azolini, que era ponente [Postulador] na causa da beatificação da santa. Nesse documento ele diz que a doutrina do Tratado é “irrepreensível, muito salutar, e integralmente seráfica,” que ela foi “impressa em sua alma pelo Espírito Santo por meio de uma especial e secreta iluminação,” e essa doutrina, juntamente com aquela de seu Diálogo entre a Alma e o Corpo, é “a prova mais eficaz da santidade heroica da serva de Deus.” Maineri observou, na sua biografia da santa, como uma curiosa coincidência, que o nome de “Purgatório” foi dado oficialmente, e pela primeira vez, a esse estado intermediário, em 1254, por Inocêncio IV, que era da casa dos Fieschi, família de nossa santa.

Darei a seguir um resumo da doutrina de seu Tratado.

26/06/2012

Vortex em português volta a ser atualizado

Depois de muito tempo, meus filhos voltam a atualizar o Vortex em português. Abaixo o mais novo vídeo.


23/06/2012

Ah! agora eu entendi. Sustentabilidade é...


Segundo nos informa o G1, eis a definição precisa de SUSTENTABILIDADE. Será em nome deste termo inequívoco que nos roubarão rios de dinheiro para as tais políticas públicas sustentáveis, ou qualquer coisa equivalente. O número de imbecis inocentes e safados sabichões não tem limite. Abaixo aparecem só os imbecis, pois os safados não conseguem e nem precisam definir nada.

"A comunhão do mundo inteiro" -  Ikka Sipiläinen.

"Crianças saudáveis e felizes" - Shannon Or.

"Amar a natureza" -  Índios pataxós Ubiranan e Ubiraí.

"Vida plena e identidade cultural" - Tânia Sibeli Vargas.

"Cuidando da selva podemos viver melhor" - Callera Nacaim, da tribo Achuar, do Equador. 

"A comunhão de todas as energias da natureza" - o hare krishna Baladeva.

"Desenvolvimento genuíno com direitos humanos" - Maitet Ledesma Ibon.

"Equilíbrio" - polônesa Beata Jaczewska. 

"Equilíbrio entre economia, meio ambiente e serviços comunitários (educação, saúde...)" - Meshgar AlAwar, Emirados Árabes Unidos.

"Saúde" - Bettina Menne, da OMS.

"Desenvolvimento para salvar o planeta" - Moussa Abou, da Nigéria.

"Floresta" - Taichen Chien, ONG de Taiwan.

"Reciprocidade com a natureza" - Luis Contento, indígena.

"Desenvolvimento para as pessoas, recursos sustentáveis, reciclagem e meio ambiente em geral" - Julius Ningu, Tanzânia.

"Vida" - Sanja Hyland, Irlanda.

"A solução" - Mathilda Aberg, Suécia.

"Pegar a sua parte e guardar para o futuro" - Idiatow Camara, Guiné.

20/06/2012

Todos os Caminhos Levam a Roma


A conversão de um grande homem é sempre um evento momentoso. A graça desta conversão é sentida por muita gente e durante muito tempo. Às vezes, a conversão muda a história do mundo, como aconteceu com a conversão de Paulo de Tarso e de Santo Agostinho, por exemplo. Toda a civilização ocidental dependeu destas duas conversões. Por trás delas, e de todas as outras, está Nosso Senhor Jesus Cristo, servindo-se dos homens que são feridos por seu amor, para atrair outros homens para o caminho da salvação.

O livro que agora a Editora Oratório lança contém ensaios de G. K. Chesterton sobre sua conversão à Igreja Católica. Eles foram publicados logo depois da sua chegada à Igreja de Cristo e foram publicados simultaneamente na Inglaterra e nos EUA, em revistas católicas. São ensaios inéditos em português. Eles contam a razão da conversão de um grande homem; de um intelectual do século XIX, que deveria ser ateu, evolucionista, cientificista e marxista. E por que Chesterton, não sendo nada disso, foi atraído pela Igreja Católica? Bem, isto é o que ele conta nos ensaios e de um modo, digamos assim... chestertoniano!

Fiz a tradução e assino a introdução da obra. Agradeço a Nossa Senhora - quem nos traz todas as graças, inclusive a da conversão -  a graça de ter conhecido Chesterton e de poder traduzi-lo para a minha língua. 

Sentenças de São Bernardo - II


1. Evitem sobretudo a murmuração, irmãos. Talvez alguns a consideram um pecado insignificante. Não pensava assim quem advertia que ninguém se envolve com ela à toa. Não o considerava leve aquele que declarava aos críticos: Não haveis murmurado contra nós, mas contra o Senhor; nós, porém, o que somos?[1] Nem aquele que disse: Nem murmureis como murmuraram alguns deles e foram mortos pelo exterminador.[2] O exterminador, colocado nas próprias portas daquela cidade para repelir as maldições e afastá-las de suas fronteiras. A ela, de fato, disse: Louva, ó Jerusalém, o Senhor; louva, ó Sião, o teu Deus. Foi ele que estabeleceu a paz nas tuas fronteiras.[3] Não há nada em comum entre a murmuração e a paz, a ação de graças e a detração, o zelo amargo e o elogio. Bastam estas três sugestões na boca destas três testemunhas notáveis para que aprendamos a evitar completamente a praga da murmuração.

2. Os homens se aplicam ao estudo por cinco razões: Há os que gostam de saber só por saber; e é curiosidade ignóbil. Outros há que desejam saber para serem conhecidos; e é indigna vaidade. E há também os que desejam saber para vender a sua ciência, por exemplo, por dinheiro, pelas honras; e é vergonhosa mercadoria. Mas há ainda os que querem saber, para edificar, e é caridade. E, finalmente, os que desejam saber para serem educados; e é prudência.

3. É comum duvidar-se se o amor a Deus precede no tempo o amor ao próximo, porque parece que não podemos amar ao próximo por Deus se antes não amamos a Deus. Ou que o amor a Deus supõe o amor ao próximo, como está escrito: Aquele que não ama seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê?[4] Devemos saber que o amor de Deus se pode conceber de dois modos: como algo inicial ou como algo já maduro. O homem começa a amar a Deus antes que ao próximo; mas já que este amor não pode amadurecer se não se alimenta e cresce por amor ao próximo, é necessário amar ao próximo. Portanto, o amor a Deus precede ao outro amor no início; mas é inseparável do amor ao próximo para dele se alimentar. Se alguma vez te confiarem a missão de governar, exija e repreenda com amor, com caridade, buscando a salvação eterna, para que, condescendendo com a fraqueza, não se malogre uma vida. Atue deste modo mesmo que tenhas de suportar a quem recusa toda disciplina, por desconhecer tua autoridade. Ordene e fique tranquilo; que o Senhor fará justiça e defenderá a todos os oprimidos. Se te mostras compassivo, Ele terá misericórdia contigo. Seja compassivo, pois não ficará impune a injúria que padeces. A mim me pertence a vingança, eu retribuirei, disse o Senhor.[5]

Obras Completas de San Bernardo, vol. VIII, BAC Editorial.



[1] Ex 16, 8
[2] 1 Cor 10,10
[3] Sl 147, 12;14.
[4] 1Jo 4, 20.
[5] Rom 12, 19.

16/06/2012

A vida de São Bernardo


Segue abaixo o vídeo de palestra que proferi sobre a vida de São Bernardo, no Colégio Monte Calvário, em 27/05/2012.

A obra de São Bernardo está publicada em espanhol, numa edição bilíngue preparada pelos Monges Cistercenses da Espanha, a cargo da Editorial BAC. São oito volumes de uma muito bem cuidada publicação.

Em português, há alguns textos disponíveis na Internet. Por exemplo: O sermão sobre o conhecimento e a ignorância, traduzido pelo Prof. Jean Lauand. Há também textos traduzidos pelo Prof. Ricardo da Costa, que podem ser encontrados aqui.

Há ainda um projeto da Sétimo Selo de lançamento de uma obra de São Bernardo, As Heresias de Pedro Abelardo. Segundo Sidney Silveira, tal lançamento não demorará a ocorrer.

Finalmente, há um pequeno texto de São Bernardo, publicado pela Editora Vozes, De Delingo Deo: Deus há de ser amado.


Qualquer compilação da Vida dos Santos descreve a vida de São Bernardo, um dos maiores santos e doutores da Igreja.


Vale a pena ler, sobre o santo, a encíclica de Pio XII, Doctor Mellifluus.

Espero que gostem da palestra.




11/06/2012

As Sentenças de São Bernardo.


São Bernardo de Claraval deixou uma obra extensa em que constam 358 sentenças. Segundo Pe. Leclercq, esta é a parte mais modesta, mais desconcertante e menos conhecida de toda a obra do santo.[1]

As sentenças são um gênero literário muito usado na Idade Média na literatura sapiencial. Hugo de São Vitor, que era contemporâneo de São Bernardo, escreveu a Summa Sentenciarum, uma coletânea de sentenças de várias origens. As Sentenças de Pedro Lombardo ocupou lugar de destaque na educação do século XII e XIII, chamando a atenção de ninguém menos que Santo Tomás de Aquino, que escreveu comentários sobre tais sentenças.

Seguem abaixo quatro das sentenças de São Bernardo, o Doutor Melífluo, como lhe intitulou Pio XII, numa encíclica de mesmo nome, em comemoração aos oitocentos anos de morte do santo, em 1953. Elas nos dão o sabor da mística do santo que foi considerado o último dos Padres da Igreja. Dão-nos também o sabor da literatura católica medieval, plena do imaginário católico que atingirá seu apogeu no século seguinte ao de São Bernardo, o século de Santo Tomás de Aquino, de São Boaventura, de Santo Alberto Magno, de São Francisco de Assis.

Traduzo a partir do texto em espanhol da edição bilíngue da BAC Editorial, vol. III, das Obras Completas de San Bernardo.
______________________________
1.  Há três testemunhas no céu: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Três na terra: o espírito, a água e o sangue. E três nos abismos. Lemos em Isaías: Seu verme não morrerá e o seu fogo não se extinguirá.[2] Dois são os males: o verme e o fogo. O verme corrói a consciência; o fogo incinera os corpos. E acima de tudo, o desespero, subentendido nas palavras não morrerá e nem se extinguirá. É assegurado um testemunho de felicidade aos moradores do céu, de perdão aos habitantes da terra e de condenação a quem habita os abismos. O primeiro testemunho é de glória, o segundo de graça e o terceiro de violência.

2.  A morte dos pecadores é péssima.[3] É desgraçada porque abandonam o mundo e não podem separar-se sem dor daquilo que amam. É mais desgraçada ainda pela decomposição do corpo, porque os espíritos malignos o arrancam da alma. É horrorosa pelos tormentos do Inferno. Ali, corpo e alma são jogados no fogo eterno. Ao contrário, a morte dos bons é ditosa, porque é descanso das fadigas, gozo de delícias desconhecidas e segurança pela eternidade.

3. A missão do pastor é vigiar as ovelhas em três aspectos: na disciplina, na defesa e na oração. Na disciplina, devido à corrupção dos costumes, para que o rebanho que lhe é confiado não sofra por sua própria inquietude. Na defesa, por causa dos ataques diabólicos, para que não caia nas ciladas do inimigo. Na oração, por suas contínuas tentações, para que não se encolha de medo. Que o rigor da justiça brilhe na disciplina, o espírito de conselho, na defesa, e na oração, o afeto da compaixão.

4. O Criador de todas as coisas criou duas criaturas com capacidade de conhecê-Lo: o homem e o anjo. A fé e a memória fazem justo o homem. A inteligência e a presença fazem ditoso o anjo. Porque o homem será um dia como o anjo, é necessário que agora ele se santifique mediante a fé. E que pela fé fortaleça sua inteligência. Pois está escrito: Se não crerdes, não entendereis.[4] A fé se orienta à inteligência. Pela fé se purifica o coração para que a inteligência veja Deus. Igualmente, a recordação de Deus se abre à Sua presença. Quem aqui recorda e pratica os mandamentos de Deus, ali merece também gozar um dia a Sua presença. Que gozem os anjos no céu a presença e o conhecimento de Deus. E que também nós conservemos a fé e Sua recordação nesta vida.


[1] Talante Sapiencial de las Sentencias Bernadianas a la Luz de la Escatologia, Juan Maria de la Torre, introdução do Vol. III das Obras Completas de San Bernardo, BAC Editorial, 1993.
[2] Is 66,24.
[3] Sl 33, 22.
[4] Is 7, 9.

07/06/2012

Carta aberta aos bispos Fellay, de Galaretta, Tissier de Mallerais e Williamson


The Remnant Newspaper - 31/05/2012
Tradução autorizada

Roma, 15 de maio de 2012: Vossas Excelências: como leigo católico, humildemente vos escrevo neste momento crítico da história de nossa Igreja, que pode parecer, em retrospecto, ter sido o maior dos desafios ao trabalho do grande Arcebispo Lefebvre. O bem-estar de minha família se encontra nas mãos dos padres de vossa Fraternidade, e me dirijo a vós como um filho deve se dirigir ao pai – com devoção e súplica urgente.

Até agora não escrevi publicamente sobre as negociações em andamento entre a FSSPX e o Vaticano. Acredito ser prudente seguir o princípio de dizer pouco sobre questões sobre as quais se sabe menos ainda. Embora Vossas Excelências divulgassem, em termos gerais, a essência das discussões doutrinais e as propostas práticas da Santa Sé ao longo dos últimos oito meses, os detalhes permanecem todavia desconhecidos. O que foi tornado público recentemente, lamentavelmente, foi uma séria divisão entre os senhores acerca da resposta oficial da Fraternidade às propostas apresentadas pelas autoridades romanas. Escrevo, portanto, estas palavras para implorar a cada um de vós para que use todos os vossos dons naturais e espirituais para evitar qualquer desacordo pessoal que possa causar uma divisão pública da FSSPX.

A Fraternidade e seus fiéis têm sofrido muita perseguição injusta e traição interna nas últimas quatro décadas. Ainda assim, apesar disto tudo, ela tem sempre dado bons frutos e permanecido na vinha do Senhor. Quando Deus me colocou em circunstâncias que me demandaram uma decisão pública e firme acerca da relação entre a Fraternidade e o Vaticano – não obstante todos os argumentos legais, teológicos e filosóficos – foi precisamente o teste dado por Nosso Senhor que importava: Por seus frutos os conhecerão. Por mais de quarenta anos os frutos têm sido bons. Para minha família, os frutos têm sido superabundantes.

A unidade da Fraternidade fundada pelo Arcebispo Marcel Lefebvre foi confiada não só a um conselho geral similar aos de outras sociedades religiosas, mas, depois de 1988, também aos senhores quatro, como bispos da Igreja. Permitir que essa unidade seja rompida neste momento crítico da história seria um mal inimaginável à confiança dos fiéis e ao elemento humano da Santa Madre Igreja em geral, ela que sofre agora de uma desunião escandalosa e jamais vista em todo o mundo.

Lendo por entre as linhas, parece que a estratégia dos inimigos da Fraternidade (inclusive do Inimigo) tem sido cinzelar sua unidade fraternal, de corte em corte, começando pela Sociedade de São Pedro, vindo depois os padres de Campos, os Redentoristas, o Instituto Bom Pastor, etc. Contudo, a perda desse pequeno número de padres, embora doloroso, não seria nada comparado à divisão entre os senhores. Uma guerra civil fratricida dentro da Fraternidade fará um mal incalculável às almas e servirá aos objetivos daqueles que procuram a total aniquilação da Fraternidade.

Pode ser que a vazada correspondência pessoal entre os senhores represente apenas a troca de francas opiniões sobre a decisão a seguir, parecida com aquela ocorrida no encontro que o próprio arcebispo convocou antes das consagrações episcopais em 1988. Mas o resultado infeliz dessas cartas se tornarem públicas é que o laicato, e mesmo padres da Fraternidade, começam a usá-las para proclamar a necessidade geral de todos “escolherem um partido”.

Portanto, pelo bem da Fraternidade e de seus fiéis, eu vos imploro que os senhores se encontrem pessoalmente, bispo a bispo, cara a cara, e usem todas as vossas forças para encontrar um modo de permanecerem unidos. Se vossas diferenças envolverem escolhas prudenciais de ações contingentes, eu suplico que os senhores encontrem princípios católicos por meio dos quais possam alcançar um consenso. Não posso, obviamente, oferecer nenhuma assistência a este respeito, exceto minhas mais fervorosas orações, uma vez que não conheço os detalhes da decisão que os senhores devem enfrentar. Mas o simples anúncio público de que os senhores de fato se encontrarão como irmãos bispos – com o pedido de que os fiéis e padres rezem e cessem as agitações adicionais no ínterim – terá, sem dúvida, um grande efeito calmante nos fiéis que vos olham à procura de guiamento, de esperança e perseverança, durante esses dias de grande apostasia.

Peço perdão pela ousadia de me dirigir a vós deste modo, mas eu suplico que aceitem minhas palavras como o cri de cœur de uma criança ao seu pai, pois elas assim o são. Os fiéis seguirão o caminho da Verdade; mas se até os pastores tradicionalistas são atingidos, a confusão subsequente confundirá as ovelhas e, eu temo, as deixará ainda mais indefesas frente aos lobos.

De joelhos, eu suplico-vos que façam as pazes. O bem da Fraternidade, das almas e da própria Igreja parecem não demandar nada menos que isto. Que Deus esteja convosco e que Maria guie vossas decisões.

In Christo per Mariam.

Professor Brian M. McCall.

05/06/2012

A FORÇA PARA O SACRIFÍCIO


Em 1901, começou, na França, o fechamento de todos os conventos e a expulsão dos religiosos. Foi nesse ano que se deu, em Reims, o caso seguinte, contado pelo Cardeal Langenieux, arcebispo daquela cidade. Havia em Reims, entre outros, um hospital que abrigava somente os doentes atacados de doenças contagiosas, que não encontravam alhures nenhum enfermeiro que quisesse cuidar deles.

Em tais hospitais sòmente as Irmãs de caridade costumam tratar dos doentes e era essa a razão por que ainda não haviam expulsado as religiosas daquela casa.

Um dia, porém, chegou ao hospital um grupo de conselheiros municipais (vereadores), dizendo à Superiora que precisavam visitar todas as salas e quartos do estabelecimento, porque tinham de enviar um relatório ao Governo. A Superiora conduziu atenciosamente aqueles senhores à primeira sala, em que se achavam doentes cujos rostos estavam devorados pelo cancro. Os conselheiros fizeram uma visita apressada, deixando perceber em suas fisionomias quanto lhes repugnava demorar-se ali.

Passaram logo à segunda sala; mas ai encontraram doentes atacados de doenças piores, vendo-se obrigados a puxar logo de seus lenços, pois não podiam suportar o mau cheiro.

A passos rápidos percorreram as outras salas e, ao deixarem o hospital, aqueles homens estavam pálidos e visìvelmente comovidos.

Um deles, ao despedir-se, perguntou à Irmã que os acompanhara:
- Quantos anos faz que a Sra. trabalha aqui?
- Senhor, já faz quarenta anos.
- Quarenta anos! exclamou outro cheio de pasmo. De onde hauris tanta coragem?
- Da santa comunhão que recebo diàriamente, respondeu a Superiora. E eu lhes digo, senhores, que no dia em que o Santíssimo Sacramento cessar de estar aqui, ninguém mais terá força de ficar nesta casa.

______________
Tesouro de Exemplos, Pe. Francisco Alves, Editora Vozes (quando ainda católica).

01/06/2012

50 anos de Vaticano II: Pe. Dominique Bourmaud nos ajuda a entender a confusão.


Nota do blog:  Não conheço texto curto tão claro quanto o que vai abaixo. Se há poucas pessoas a quem devemos responsabilizar pela monstruosa crise da Igreja, estas são exatamente os três mosqueteiros modernistas. Em séculos anteriores, estes senhores seriam calados pela Igreja, excomungados ou até condenados com a pena de morte. Na Igreja conciliar eles foram homenageados, paparicados, elogiados, incensados, purpurados, etc. Leiam e entendam um pouco mais a confusão atual.


Os Três Mosqueteiros Modernistas


Pe. Dominique Bourmaud, FSSPX
Angelus Magazine, Jan/Fev 2012
Tradução autorizada


É impossível falar sobre a gênese do Concílio Vaticano II sem mencionar as figuras principais de todo o movimento. Mencionemos três nomes, que evidenciam claramente como pessoas de tão diferentes culturas e formações chegaram a conclusões similares: Henri de Lubac, Yves Congar e Karl Rahner.

Muitas coisas unem estes três homens. Todos eles tiveram uma longa história como professores universitários; todos estiverem sob escrutínio teológico por suas ideias modernistas, no pontificado de Pio XII; todos foram de algum modo disciplinados ou retirados de seus cargos. Todos foram, então, miraculosamente reintegrados como periti conciliares às vésperas do Concílio. Suas ideias e ensinamentos passaram a ser conhecidos com o nome genérico de “a nova teologia” e influenciaram os princípios do magistério conciliar. Todos eles se tornaram expertos dos papas subsequentes e muitas honras e louvores lhes foi tributados pela Igreja pós-conciliar.

Pio XII dedicou pouco tempo à nova teologia e seus avançados professores. Eles representavam para ele a cauda atrasada da antiga onda modernista, tão vigorosamente condenada por São Pio X em sua Pascendi de 1907. O papa reiterou a condenação da nova – antiga – tendência na encíclica Humani Generis: “Outros [de Lubac] destroem a gratuidade da ordem sobrenatural, pois Deus, eles dizem, não pode criar seres intelectuais sem ordená-los e orientá-los à visão beatífica...[1] Alguns [de Lubac, Congar] reduzem a uma fórmula sem sentido a necessidade de pertencer à verdadeira Igreja a fim de obter a salvação eterna. Outros finalmente depreciam o caráter razoável de credibilidade da fé cristã.”

Os Herdeiros dos Modernistas

De Lubac, em suas Mémoires,[2] explica que ele devorou apaixonadamente a estranha filosofia do filomodernista Blodel, mas também a do mais abertamente modernista Lachelier. “Naquele tempo, tais leituras constituíam, em geral, um fruto proibido. Mas graças a professores indulgentes, estas não eram nunca consideradas atividades clandestinas.”[3] Como professor, de Lubac devotava maior parte do seu tempo ensinando e escrevendo a uma distância segura de polêmicas, evitando habilmente qualquer censura.

Congar não teve a mesma sorte. Menos contido, ele era repetidamente exilado em Jerusalém, então chamado a Roma e Cambridge novamente, terminando o período pré-conciliar em Estrasburgo. De Roma, ele podia escrever com toda a impunidade: “O curso que ofereço atualmente, De Ecclesia, apesar do tom ingênuo, é minha resposta real; é minha dinamite real sob os assentos dos escribas! Aguardo e aproveito as ocasiões que surgem para expressar publicamente minha recusa às mentiras do sistema.”[4]

Dos anos iniciais de Rahner pouco é conhecido. Ainda assim, parece que a duplicidade de seus confrades não lhe é totalmente desconhecida. Se não, como pode ele citar Santo Tomás em cada página de sua filosofia, que é o oposto do tomismo? Como pode ele pretender ser um teólogo católico explicando os mistérios fundamentais de nossa fé como uma espécie de panteísmo? O italiano Fabro o acusa, com justiça, de ser um deformador sistemático, chocando-se ruidosamente com teses tomistas, como um homem surdo num concerto musical.[5]

A “Nova Teologia”

O termo “nova teologia” foi cunhado para descrever a escola de pensamento organizada em torno de de Lubac, que atraiu muitos amigos dentre os jesuítas de Fourvière, sua residência no período que lecionava na universidade de teologia de Lion. Esse grupo poderoso incluía os futuros cardeais Danélou e von Balthasar. Eles exerceram alguma influência também sobre o jesuíta Teilhard de Chardim e sobre os dominicanos Chenu e Congar. Uma mente brilhante e um escritor competente, a cultura de de Lubac era universal; todavia, sua preferência se direcionou para a crítica histórica e da patrística, com profusas citações do dúbio Orígenes, ainda mais prontamente por sua aversão à teologia escolástica.

A nova teologia é também caracterizada por sua rejeição a uma autoridade soberana do magistério – que pavimenta o caminho que leva à tradição viva, a uma definição da Revelação como a Pessoa de Cristo vivente – e sua rejeição da ordem sobrenatural que leva ao louvor da dignidade do homem enquanto simplesmente homem. A exaltação do homem e a desvalorização do magistério da Igreja abrem as portas para o diálogo universal tanto com cristãos quanto com não cristãos. Uma fórmula, que condensa todo o espírito lubaquiano, consagraria sua fama no Concílio: “Ao revelar o Pai e por ser revelado por Ele, Cristo completa a revelação do homem a si mesmo... É por meio de Cristo que a pessoa alcança a maturidade, que o homem emerge definitivamente do universo...”[6] O cardeal Siri descreveu certa vez todo o trabalho de Pe. de Lubac como “evasivo”, porque ele efetivamente nega todos os primeiros princípios da filosofia. Pio XII também condenou a Nova Teologia em setembro de 1946, e protestou acerca a duplicidade dos jesuítas de Lion.[7] Nesta curta exposição, só podemos oferecer um relance da principal doutrina que cada mosqueteiro trouxe ao magistério do Concílio. De Lubac poda a essência da verdade; Congar adota um ecumenismo amplo e Rahner ataca o papado.

O Historicismo de de Lubac

Historicismo é a teoria que afirma que a verdade da fé varia segundo a época. A teologia, para permanecer viva, deve evoluir com os tempos. É uma forma mitigada de ceticismo aplicada à Fé. Eis alguns aspectos em que de Lubac se mostra um teólogo historicista: ele rejeita qualquer imposição da fé desde fora. “Nada é mais inadequado à verdade do que doutrinas extrínsecas que mantêm na Igreja apenas a unidade da repressão, a menos que seja a unidade da indiferença... Elas transformam a obediência da fé na fé da pura obediência.”[8]

A verdade nunca é adequadamente definida: “Tal como ontem, quando no estado pré-teológico, não estamos hoje e nem estaremos no futuro de posse de uma perfeita teologia da Igreja... Tal Utopia não se adéqua à natureza nem da verdade revelada nem da inteligência humana...”[9] De fato, a verdade consiste no poder da inclusão, independente do que seja isto! “Esse espírito, que dá o tom e a orientação de todo o seu trabalho, é o da plenitude, da totalidade, a ponto de o poder de inclusão se tornar o caráter primordial da verdade.”[10]

A unidade é obtida por meio da tradição, que é completamente redefinida. Ela é uma entidade “concreta e vivente... que se torna real em conformidade com as necessidades de cada época e que também preserva a verdade revelada.”[11]

“O rio da Tradição não pode nos alcançar se seu leito não é perpetuamente limpo da velha lama e areia.”[12] A “Tradição viva” de de Lubac, que ele descobriu em Blondel, é um retorno à “lei da vida” de Loisy, pela qual a Igreja é deformada e transformada para se tornar sua própria e mais perfeita contradição. A Tradição viva hoje rotula como falsa a verdade de ontem, e a verdade de hoje é o que então era falsidade.[13]
  
O Ecumenismo e a Igreja Ampla de Congar

A Congar devemos a maior parte do esquema da Lumen Gentium. A identidade entre o Corpo Místico e Igreja visível e hierárquica é mencionada de modo positivo, mas isso de forma nenhuma implica o sentido exclusivo que é encontrado em Pe. Tromp: “isso permite a inclusão do famoso ‘subsistit in’ no item 8, descoberta modesta mas decisiva que constitui a substância deste item.”[14] Congar, por exemplo, alega que as igrejas separadas pertencem à Igreja de Cristo – heresia pura.[15]

Onde o magistério tradicional tratou da natureza da Igreja, Congar fala, ao contrário, de mistério e sacramento da Igreja;[16] onde Pio XII define a noção de adesão ao Corpo Místico de Cristo, Congar inseriu a vaga noção tyrreliana[17] de “comunhão do Povo de Deus.” Por quê? Porque alguém é ou não é membro de um corpo, mas é possível estar em mais ou menos comunhão.[18] Em outras palavras, Congar reinterpretou o conceito absoluto de Igreja para que ele se tornasse um termo “um-número-que-serve-a-todos” que pudesse ser aplicado a qualquer grupo religioso. “A Igreja sempre existiu como uma instituição e coisa feita a partir de cima, desde Cristo e os apóstolos. Ela precisava ser refeita e, para isto, precisava ser reinventada como um povo.”[19] Há uma necessidade de reforma para evitar a tentação de se tornar “Sinagoga”, porque “O corpo da Igreja cresceu, mas não sua pele. Então, poderia haver um rompimento. O que são questionáveis são certas características do aspecto temporal que o cristianismo recebeu de um outro momento histórico.”[20] Curioso é que Congar está usando a mesma imagem de 40 anos atrás, criada pelo modernista inglês Tyrrell.[21] Entre a ampla Igreja de Cristo e a salvação universal há apenas um pequeno passo. “Hoje ninguém pode alegar que a razão das missões seja salvar alguma alma do Inferno. Deus as salva sem que elas conheçam o Evangelho. Do contrário, todos teremos de ir para a China.”[22]
  
Rahner e a Colegialidade da Igreja

Colegialidade era outro emblema dos modernistas. Era uma ideia lançada por Rahner, que tinha o apoio da onipotente coalizão do Reno. Este tipo de governo, como entendido pelos esquerdistas, teria feito o papa igual os bispos – primus inter pares, segundo uma tese formalmente condenada. Rahner definira a colegialidade como o destronamento do papa e a democratização da Igreja. Incidentalmente, ele era membro de uma subcomissão que rejeitou sumariamente o legítimo desiderato dos padres conservadores. E, apesar da Nota Explicativa Praevia que excluía a interpretação herética, os esquerdistas estavam jubilantes. Congar declarou que a Igreja teria vencido sua Revolução de Outubro! De fato, parece que depois do Vaticano II, o papado tem sido vítima de esclerose múltipla, virtualmente à mercê de superpoderes de algumas conferências episcopais, que determinam a agenda de Roma Urbi et Orbi.

O Impacto dos Três Teólogos

Há poucas dúvidas de que os três teólogos formularam os princípios teológicos da Igreja conciliar. João Paulo II louvou de Lubac ao fazê-lo cardeal “pelo longo e fiel serviço que este teólogo prestou, usando o melhor da tradição católica em sua meditação acerca das Escrituras, a Igreja, e o mundo moderno [sua Gaudium et Spes].”[23] Congar foi também premiado com a púrpura cardinalícia. E uma das principais surpresas do Reno se Lança sobre o Tibres é que o autor considera Rahner como a autoridade mais influente, talvez a decisiva, por trás de muitas das inovações do Vaticano II. Segundo o próprio Congar, “A atmosfera era a de que: ‘Rahner dixit, ergo verum est.’ ”[24] Que os Céus nos ajudem a encontrar um caminho cristão que nos liberte do presente labirinto, armado por tão poderosas mentes.


[1] O sobrenatural é  “absolutamente impossível e absolutamente necessário ao homem.” (Blondel, Action, p. 357. Cf. Wagner, Henri de Lubac, p. 87). De Lubac, como Blondel, alegava que Deus não poderia ter criado a natureza sem ordená-la ao sobrenatural (in The Angelus, Dec. 1993, p.18).
[2] De Lubac, in Mémoires autour de mes œuvres (Milan: Jaca Books, p. 10) citado in The Angelus, Dec. 1993, p.18.
[3] Ibid, p. 192
[4] In Leprieur, Quand Rome Condamne (Paris: Plon-Cerf, 1989), in One Hundred Years of Modernism (Kansas City: Angelus Press, 2006), p. 243.
[5] Fabro, La Svolta Antroplogica de K. Rahner, textos escolhidos por Innocenti, Influssi Gnostici nella Chiesa d’Oggi, p. 48.
[6] De Lubac, Cathlicism, p. 189; cf. Courrier de Rome, La nouvelle Théologie, p. 103; João Paulo II, Redemptor Hominis, 8, 2. Ver também Théologies d’Occasion, p. 68; Gudium et Spes 22,1; “L’Ahtéisme e Le Sens de l’Homme”m o. 96-112, in Wagner, Henri de Lubac, p. 92.
[7] “O problema é que nós nunca sabemos se o que ele fala ou escreve corresponde ao que ele pensa.” Cf. Mémoires, p. 70 e 296.
[8] La foi Chrétienne, Paria, Aubier-Montaigne, 1969; in Wagner, Henri de Lubac, Cerf 2001, p. 55.
[9] Méditation sur l’Église, tradução para o inglês de Michael Mason, The Splendor of the Church (San Francisco, CA: Ignatius Press, 1986), p. 27; cf. Wagner, Henri de Lubac, p. 166.
[10] V. Carraud, in Wagner, Théologie fondamentale, Cerf 1997, p. 157.
[11] La révélation divine, Cerf. 1983, p. 173.
[12] Paradoxes (Paris, 1959), in Wagner, Henri de Lubac, p. 139.
[13] Ratzinger, Osservatore Romano, 2 de julho de 1990, p. 5. “Seu núcleo permanece válido, mas os detalhes individuais afetados pelas circunstâncias do tempo podem precisar de retificações adicionais.”
[14] Le Concile de Vatican II, Beauchène, Paria, p. 134 e 18.
[15] Tal é a opinião do Cardeal Ottaviani, in Courrier de Rome, Église e Contre-Église, p. 123. Sobre a oposição entre os cadeais Ottaviani e Bea antes do Concílio, ver Courrier de Rome, Église e Contre-Église, p. 122-123.
[16] Lumen Gentium n. 1.
[17] Tyrrell foi um renomado modernista inglês.
[18] Congar, Une Vie pour la Vérité, p. 149.
[19] Jalons pour une Théologie du laïcat, Unam Sanctam 23 (Paris, Cerf, 1952), p. 81.
[20] Vraie et Fausse Réforme dans l’Église, Unam Sanctam 23 (Paris, Cerf, 1953), p. 186.
[21] “O catolicismo é o paganismo cristianizado ou religião mundial, e não o judaísmo cristianizado do Novo Testamento... Isso é uma completa libertação e um ganho espiritual – uma troca de uma roupa apertada para uma elástica.” In One Hundred Years of Modernism, p. 140-41.
[22] Jean Puyo, Jean Puyo Interroge Le Père Congar: Une Vie pour la Vérité (Paris: Centurion, 1975), p. 175.
[23] João Paulo II na morte de Henri de Lubac, Osservatore Romano, edição inglesa, 9 de setembro de 1991, p. 16.
[24] “Rhaner falou, então é verdade.”