31/12/2012

Leitor, com "sentimento cristão", discorda do blog!


Recebo um comentário para encerrar o ano civil de 2012. Embora o blog esteja num pequeno recesso (que ainda continuará um tempo) e o blogueiro em viagem, não podemos deixar nosso leitor, Airton Barros, repleto de “sentimento cristão”, sem uma resposta ao seu comentário ao post Belloc em português, pela primeira vez.

Ele reclama de minha frase: “Lutamos contra os cátaros que desejavam destruir a humanidade.” Parece que feri mortalmente o sentimento cristão do senhor Barros. Ele diz: “Meu Deus, quanta falta de sentimento cristão ao colocar esta frase com relação ao seu livro.”

Primeiramente, devo informar ao senhor Barros que o livro não é meu, eu apenas o traduzi. O livro é de Hilaire Belloc, um grande historiador inglês e também grande católico.

Eu sei exatamente o que este senhor quer dizer com sentimento cristão: os cristãos são todos uns bananas, que não devem reagir a nenhuma agressão, mesmo que seja uma agressão mortal a sua fé, com a dos cátaros. Sei que ele pensa que devemos responder a toda a agressão com palavras de “amor”. Sei disso, porque conheço cristãos como ele e também porque ele me lembra que está escrito: “Quem viver pela espada, pela espada também morrerá.” São palavras de Nosso Senhor, quando Pedro arrancou com a espada a orelha de um soldado que estava prendendo Cristo e dando início à Sua Paixão.

Que memória seletiva tem o senhor Barros. A mesma memória seletiva que tem os protestantes! Ele esquece que em outra oportunidade, Nosso Senhor também disse a Pedro: “Quem não tem uma espada, que venda seu manto e compre uma.” Note que é o mesmo Cristo que afirma as duas coisas. Ora, é preciso ser um pouco mais perspicaz que o senhor Barros para entender o que Cristo quer dizer. Numa oportunidade, Pedro estava lutando contra a realização da Paixão de Cristo, Sua Obra de Redenção. Por isso, Nosso Senhor o condenou. Na outra oportunidade, Cristo quis lembrar que a vida do cristão é uma luta permanente, não só contra si mesmo, mas contra o mundo e o demônio.

E lutar contra o mundo, por mais que isso desagrade o senhor Barros, muitas vezes envolve usar a espada contra nossos inimigos, contra os inimigos de Cristo. Isso a Igreja fez gloriosamente ao longo da história, inclusive contra os cátaros.

Mas o senhor Barros ainda demonstra uma visão avantajada de si mesmo, pois diz: “E não adianta blasfemar contra mim”. Ora, senhor Barros, a gente blasfema contra Deus. O máximo que posso dizer com relação ao senhor é que o senhor não sabe ler. Não soube ler meu texto, pois entendeu que o livro que eu introduzia era meu, e não de Belloc. Não sabe ler as palavras de Nosso Senhor, e se comporta ao modo dos protestantes, escolhendo as passagens que mais confortem seu coraçãozinho, numa interpretação água-com-açúcar e boboca do catolicismo. Não blasfemo, senhor Barros, apenas constato.

23/12/2012

Blog entrevista Chesterton: Natal com Chesterton – Parte IV


Graças à Sra. Chesterton, tivemos acesso a algumas observações do gênio inglês sobre o Natal, escritas aqui e ali e coletadas por sua secretária, Dorothy Collins. O Sr. Chesterton está muito ocupado para dar qualquer declaração no momento. A Sra. Chesterton nos enviou os pequenos textos, quatro no total, a tempo de os publicarmos durante o Advento de 2012. Agradecemos a gentileza e a confiança.

Com este texto, o blog aproveita para desejar a todos os seus leitores um feliz e santo Natal. Que celebrando a primeira vinda de Salvador não esqueçamos de Sua segunda vinda e nos preparemos para ela!


Há por aí algumas contradições sobre o Natal – e, de fato, sobre as tradições cristãs em geral. Elas são aparentes em indivíduos que nos afirmam, em jornais e outros lugares, que se emanciparam de dogmas, e agora se propõem a viver o espírito do cristianismo. A que eu respondo: “Ok. Vá em frente,” ou palavras similares. Mas então sempre me encontro confrontado com este fato extraordinário. Eles começam a viver o espírito do cristianismo, e lançam-se freneticamente a impedir as pessoas pobres de beberem cerveja, impedir as nações oprimidas de se defenderem contra os tiranos (porque isso pode levar à guerra), a tirar crianças deficientes de seus pais e trancá-las em algum tipo de sanatório materialista, etc. E então eles ficam surpresos quanto digo-lhes que eles tem muito menos o espírito do que a letra do cristianismo, do que suas palavras,  do que a terminologia de seus dogmas. De fato, eles mantiveram algumas das palavras e terminologia, palavras como paz, justiça e amor; mas fazem essas palavras significarem uma atmosfera completamente estranha ao cristianismo; eles mantiveram a letra e perderam o espírito.

E tal como acontece com o cristianismo, assim também com o Natal. Se os homens soubessem exatamente o que querem dizer com Natal, e então começassem a criar novos símbolos, novas cerimônias, novas brincadeiras, isso poderia ser uma coisa boa. Algo do tipo pode acontecer, muito provavelmente, naquele mundo dos homens modernos que sabem o que o Natal significa. Mas a maior parte das modificações que são discutidas nas revistas e em outros lugares são o exato reverso disso. Elas são realmente modos por meio dos quais os homens podem manter o nome de Natal, e uns poucos esmaecidos símbolos natalinos, enquanto fazem algo totalmente diferente.


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21/12/2012

Missas Tridentinas dos dias 22 e 23 canceladas!

Um problema de saúde da irmã do Pe. Tarciso impediu que ele viesse celebrar as Missas programadas para dia 22 e 23. No dia 23, haverá Missa do Colégio Monte Calvário, celebrada pelo Pe. Iris. 

Rezemos pela irmã do piedoso Pe. Tarciso.

19/12/2012

Missa Tridentina em BH nos dias 21, 22 e 23.


   Padre Tarciso celebrará a Santa Missa segundo o Rito de São Pio V, como ela sempre foi celebrada por 1500 anos em todo o mundo, nos seguintes dias e horários:
- dia 21, sexta-feira, 19h30;
- dia 22, sábado, 16h;
- dia 23, 4o. Domingo do Advento, 9h30.
  Todas as celebrações serão na Capela Nossa Senhora da Sabedoria, que é a capela da Polícia Militar, que fica à rua Diabase 320, no Prado.

Padre Tarciso é um padre muito piedoso que segue todas as rubricas da Missa no Rito de São Pio V. Recomendo muitíssimo suas Missas. Além do mais, estamos no Advento, preparando a vinda do Senhor, nada mais indicado que Missas tradicionais bem rezadas, com sermões que nos inflame!


18/12/2012

Blog entrevista Chesterton: Natal com Chesterton – Parte III


Graças à Sra. Chesterton, tivemos acesso a algumas observações do gênio inglês sobre o Natal, escritas aqui e ali e coletadas por sua secretária, Dorothy Collins. O Sr. Chesterton está muito ocupado para dar qualquer declaração no momento. A Sra. Chesterton nos enviou os pequenos textos, quatro no total, a tempo de os publicarmos durante o Advento de 2012. Agradecemos a gentileza e a confiança. Dois dos textos já foram publicados (veja abaixo). Até o Natal, publicaremos o último deles.


A caridade do Natal pode, em certo sentido, cobrir todos os homens, mas não pode, de nenhum modo, cobrir todos os princípios, senão ela cobriria o princípio da falta de caridade. É autoevidente à primeira vista que o Natal é tanto conservador quanto liberal, desde que evitemos letras maiúsculas em ambas as palavras. O Natal não seria nada se não conservasse as tradições de nossos pais; não seria nada se não desse com liberalidade aos nossos irmãos. Conservar o Natal envolve a admissão de que o mundo já possui tradições valorosas e honoráveis de um tipo local e doméstico. Ajudar os pobres no Natal envolve em si mesmo a admissão de que o mundo não possui uma distribuição econômica satisfatória, que nem tudo no mundo está bem, ou próximo do bem. Em outras palavras, o Natal, sendo uma instituição cristã, já contem em si as duas ações alternativas em relação à sociedade: a preservação do que foi bom no passado e a remoção do que é ruim no presente. Em épocas mais simples, essas coisas poderiam ter tomado formas mais simples: a primeira na forma de brinde e a segunda na forma de generosidade. Mas em qualquer forma, ou em qualquer grau, elas envolvem logicamente duas verdades que se equilibram, verdades que se complementam, embora não raro pareçam contraditórias: que, em certo sentido, as coisas devem ser como são, enquanto que em outro sentido elas não são como deveriam ser.

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13/12/2012

Blog entrevista Chesterton: Natal com Chesterton – Parte II


Graças à Sra. Chesterton, tivemos acesso a algumas observações do gênio inglês sobre o Natal, escritas aqui e ali e coletadas por sua secretária, Dorothy Collins. O Sr. Chesterton está muito ocupado para dar qualquer declaração no momento. A Sra. Chesterton nos enviou os pequenos textos, quatro no total, a tempo de os publicarmos durante o Advento de 2012.  Agradecemos a gentileza e a confiança. Um dos textos já foi publicado (veja abaixo). Até o Natal, publicaremos os outros dois textos.



Toda cerimônia depende de um símbolo; e todos os símbolos têm sido vulgarizados e apodrecidos pelas condições comerciais de nosso tempo. Isso é especialmente verdade desde que sentimos a infecção comercial americana, e o progresso tornou Londres uma cidade não superior a si mesma, mas inferior a Nova York. De todos os símbolos falsificados e esmaecidos, o mais melancólico exemplo é o antigo símbolo da chama. Em todas as épocas e países civilizados, foi sempre natural falar de um grande festival em que “a cidade era iluminada.” Não há sentido atualmente em se falar que a cidade foi iluminada. Não há propósito em iluminá-la por qualquer entusiasmo normal ou nobre, tal como o sair-se vencedor numa batalha. Toda a cidade está já iluminada, mas não por coisas nobres. Está iluminada somente com o propósito de se insistir na imensa importância de coisas triviais e materiais, adornadas por motivos inteiramente mercenários. O significado de tais cores e tais luzes foi, portanto, inteiramente aniquilado. Não adianta lançar um foguete dourado ou púrpuro para a glória do Rei ou do País, ou acender uma imensa fogueira vermelha no dia de São George, quando todos estão acostumados a ver o mesmo alfabeto ardente proclamando uma pasta de dentes ou uma goma de mascar. A nova iluminação não fez a pasta de dentes ou a goma de mascar tão importantes quanto São George ou o Rei George; porque nada poderia. Mas ela fez as pessoas se cansarem do modo de proclamar grandes coisas, por seu eterno uso para proclamar pequenas coisas. A nova iluminação não destruiu a diferença entre a luz e a escuridão, mas permitiu a luz menor ofuscar a maior.

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11/12/2012

Missa Tridentina em BH nos dias 12, 15 e 16.




Padre Tarciso celebrará a Santa Missa segundo o Rito de São Pio V, como ela sempre foi celebrada por 1500 anos em todo o mundo, nos seguintes dias, horários e locais:
- dia 12, quarta-feira, 19h30 - Capela Nossa Senhora da Sabedoria;
- dia 15, sábado, 16h - Capela Nossa Senhora da Sabedoria;
- dia 16, domingo, 9h30 - Capela do Monte Calvário.

A Capela Nossa Senhora da Sabedoria é a capela da Polícia Militar, que fica à rua Diabase 320, no Prado. A Capela do Monte Calvário fica no Colégio do Monte Calvário, situado na Av. do Contorno, 9384 (perto do hospital Felicio Rocho), no Barro Preto.

Padre Tarciso é um padre muito piedoso que segue todas as rubricas da Missa no Rito de São Pio V. Recomendo muitíssimo suas Missas. Além do mais, estamos no Advento, preparando a vinda do Senhor, nada mais indicado que Missas tradicionais bem rezadas, com sermões que nos inflame!



10/12/2012

Blog entrevista Chesterton: Natal com Chesterton – Parte I


Graças à Sra. Chesterton, tivemos acesso a algumas observações do gênio inglês sobre o Natal, escritas aqui e ali e coletadas por sua secretária, Dorothy Collins. O Sr. Chesterton está muito ocupado para dar qualquer declaração no momento. A Sra. Chesterton nos enviou os pequenos textos, quatro no total, a tempo de os publicarmos durante o Advento de 2012. Agradecemos a gentileza e a confiança. Até o Natal, publicaremos os outros três textos.
  
A antiga frase “o Natal está chegando” é especialmente apropriada para uma época em que esta é quase a única coisa a respeito da qual sabemos algo: que ela está chegando. Pode ser verdade, num sentido mais amplo, que o Natal esteja chegando: no sentido de que o Natal está voltando. O Natal pertence a uma ordem de ideias que nunca realmente pereceu, e seu desaparecimento é agora pouco provável. Ele teve de início uma espécie de glamour de uma causa perdida; foi como um por do sol eterno. São as coisas que nunca morrem que ganham a reputação de estarem moribundas. 

Somos constantemente lembrados, especialmente por aqueles céticos empedernidos que parecem nunca ser capazes de dar um passo além em suas concepções, que muitos costumes do Natal são coisas pagãs. O que essas pessoas não veem é um fato muito interessante: que se essas coisas são pagãs, elas sobreviveram o paganismo. Se essas tradições foram tão fortes que sobreviveram a tão tremenda insurreição, como foi a mudança de toda a religião da Europa, a queda do império universal e o surgimento da Igreja universal, não parece impossível que elas possam sobreviver a alguns poucos mecanismos elétricos e a tateantes e ineficientes leis educacionais.

07/12/2012

Unidade e Trindade de Deus


Pergunta: Existe apenas um Deus?
Resposta: Sim; há apenas um Deus.

Quem criou os demônios?

Um grupo de hereges, chamados maniqueus, ensinava que há dois deuses: um é o criador do bem, o outro o criador do mal. Um padre, numa aula de catecismo, perguntou: “Quem criou os anjos?” “Deus,” responderam as crianças imediatamente. “E quem criou dos demônios?” ele prosseguiu. Ninguém queria dizer que Deus tinha criado os demônios, então todos se olharam uns para os outros e ficaram em silêncio. Finalmente, uma menina ousou dizer: “Padre, Deus criou os anjos, e alguns deles se fizeram demônios.” Ela estava muito certa; tudo que é bom vem do Criador, mas todo o mal vem das criaturas.

Pergunta: O Filho é Deus?
Resposta: O Filho é Deus e a segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

A morte de Ário

Por volta de trezentos anos depois do nascimento de Nosso Senhor, Ário, um padre de Constantinopla, começou a ensinar que Cristo não era Deus. Ele angariou muitos seguidores, mas ele e sua heresia foram condenados no Concílio de Niceia. Mais tarde, contudo, o Imperador Constantino esposou sua causa e ordenou ao Bispo de Constantinopla que o recebesse na comunhão da Igreja. O bispo ficou indefeso e só podia suplicar a Deus que evitasse tal escândalo. Deus não deixou de ouvir sua oração. Quando Ário, com seus seguidores, chegou numa procissão festiva às portas da catedral, o herege foi subitamente atacado por espasmos horrorosos, e tendo sido levado para uma sala para se recuperar, lá permaneceu por tanto tempo que seus seguidores foram à sua procura. Eles o encontraram lívido e morto, como seu sangue e intestinos espalhados pelo chão do aposento. Seu corpo se despedaçou como o do traidor Judas. 

In Anecdotes and Examples Illustrating the Catechism, Rev. Francis Spirago, Roman Catholic Books, 1903.

04/12/2012

Purgatório: Segunda visão - Parte IV


Pe. Faber

Leia também:



PENA DOS SENTIDOS

Santa Catarina compara a alma que sofre a pena dos sentidos com o ouro no crisol. “Vede o ouro; quanto mais ele derrete, melhor fica, e ele é derretido até que todas as impurezas sejam aniquiladas. Esse é o efeito do fogo nas coisas materiais. Mas a alma não pode se aniquilar em Deus, mas pode se aniquilar em si mesma; e quanto mais é purificada, mais se aniquila em si mesma, até que finalmente ela descanse em Deus, completamente pura. Quando o ouro, segundo a expressão dos ourives, é purificado a vinte e quatro quilates, não mais se reduz, qualquer que seja o fogo que lhe seja aplicado, porque, na realidade, nada é consumido senão as imperfeições. O fogo divino age da mesma forma na alma. Deus a mantém no fogo até cada imperfeição ser consumida, e até que Ele a reduza a uma pureza de vinte e quatro quilates; cada um, contudo, segundo seu próprio grau. Quando a alma é purificada, descansa completamente em Deus, sem reter nada em si mesma. Deus é a sua vida. E quando Ele traz a Si a alma assim purificada, ela se torna impassível, pois nada mais há a ser purificado; e se ela fosse mantida purificada desta forma no fogo, ele não a causaria dor; não, pois seria o fogo do Amor Divino, a própria vida eterna, no qual a alma já não poderia experimentar mais contradições.”

A ALEGRIA NO PURGATÓRIO
  
Tal é o primeiro objeto que surge ante os olhos da alma: um sofrimento extremo. Agora, examinemos outro objeto: a extrema alegria. Como a alma ama Deus com a mais pura afeição, e sabe que seus sofrimentos são a Vontade de Deus para operar sua purificação, ela se conforma perfeitamente ao divino decreto. Durante sua estada no purgatório, ela nada vê senão o que agrada a Deus; ela não pensa outra coisa senão na Sua Vontade; nada lhe é mais claro que a conveniência de sua purificação, a fim de se apresentar bela e radiosa diante de tão suprema Majestade. Assim fala Santa Catarina: “Se uma alma, a ser ainda purificada, fosse apresentada à visão de Deus, ela se consideraria gravemente ferida, e seus sofrimentos seriam piores que os de dez purgatórios; pois ela seria inteiramente incapaz de suportar aquela excessiva Bondade e aquela suprema Justiça.” Por isso é que a alma sofredora está inteiramente resignada à Vontade de seu Criador. Ama suas próprias dores, e nelas se regozija, porque elas são a única Vontade de Deus. Assim, no meio de ardente calor, ela desfruta de um contentamento tão completo que excede ao entendimento da inteligência humana. “Não acredito,” diz Santa Catarina, “que seja possível encontrar um contentamento comparável ao das almas no Purgatório, a menos que seja o contentamento dos santos no Paraíso. Esse contentamento cresce diariamente por meio do influxo de Deus nessas almas, e esse influxo cresce na proporção em que os obstáculos vão se desvanecendo. De fato, com relação à vontade, dificilmente podemos dizer que as penas sejam realmente penas, tal é o contentamento com que as almas descansam na Vontade de Deus, à qual estão unidas pelo mais puro amor.”

Em outro lugar, Santa Catarina diz que esse inexplicável júbilo da alma enquanto submetida ao Purgatório se origina da força e pureza de seu amor a Deus. “Esse amor dá à alma um contentamento que não pode ser expresso. Mas esse contentamento não alivia nem uma pequena parte do sofrimento; não, é a demora que o amor experimenta antes de tomar posse do objeto amado que causa o sofrimento; e o sofrimento é maior na proporção da perfeição do amor que Deus tornou a alma capaz de Lhe devotar. Assim, as almas no Purgatório têm, ao mesmo tempo, o maior contentamento e o maior sofrimento; e um não obstrui o outro.” Quanto às orações, esmolas e Missas, Santa Catarina afirma que as almas experimentam com elas grande consolação; mas que, nessas e em outras coisas, a principal solicitude das almas é que tudo se deve “pesar na justa balança da Vontade Divina, deixando Deus seguir Seu próprio curso em tudo, satisfazendo a Si mesmo e à Sua Justiça, como Lhe aprouver.”

FALSA CONFIANÇA

A Santa conclui seu Tratado lançando seu olhar ao seu próximo e a si mesma. Ao próximo, ela diz: “Ah! se eu pudesse elevar minha voz tão alto para assustar todos os homens sobre a terra e dizer-lhes: Ó homens miseráveis! Por que se deixaram cegar por este mundo de modo a não fazer nenhuma provisão para aquelas imperiosas necessidades que encontrarão no momento da morte? Vós, todos vós, esperais encontrar abrigo sob a esperança da misericórdia de Deus. Mas não vedes que a própria bondade de Deus testemunhará contra vós por terdes se rebelado contra a Vontade de Senhor tão bom? Não descanseis numa falsa confiança, dizendo: Quanto chegar a hora de minha morte, farei uma boa confissão, e então, eu ganharei a indulgência plenária, e assim, naquele último momento, eu serei limpo de todos os meus pecados, e então serei salvo. Confissão e contrição (perfeita) são necessárias para uma indulgência plenária; e (essa) contrição é coisa tão difícil de conseguir que se soubésseis da dificuldade, tremeríeis de tanto temor, não ousando crer que tal graça vos possa jamais ser concedida, em vez de a esperardes com uma confiança temerária, como agora fazeis.”

Quando se examinava a si própria com a luz da iluminação sobrenatural, ela via que Deus a escolhera para ser na Igreja a expressão e a imagem viva do Purgatório. Ela diz: “Essa forma de purificação, que observo nas almas no Purgatório, eu a percebo agora em minha própria alma. Vejo que minha alma habita em seu corpo num purgatório inteiramente conforme ao verdadeiro Purgatório, com a diferença de que meu corpo pode suportar sem morrer. Não obstante, os sofrimentos estão pouco a pouco aumentando, até que alcancem um ponto em que meu corpo realmente morrerá.”

A doutora do Purgatório

Sua morte foi verdadeiramente maravilhosa, e tem sido sempre considerada um martírio do Amor Divino. A missão da santa, como a grande Doutora do Purgatório, foi tão verdadeiramente apreciada, desde o princípio, que na sua antiga vida, a vita antica, que foi examinada por teólogos em 1670 e aprovada no processo de sua Canonização, processo este composto por Marabotto, seu confessor, e Vernazza, seu filho espiritual, está dito: “Verdadeiramente, parece que Deus escolheu Sua criatura como um espelho e um exemplo das dores da outra vida, que as almas sofrem no Purgatório. É como se Ele a tivesse colocado num alto muro a dividir esta da outra vida; de modo que ao ver qual sofrimento nos espera na vida além tumulo, ela pudesse manifestar-nos, ainda nesta vida, o que devemos esperar quando cruzarmos a fronteira.” Este é um simples resumo de seu maravilhoso e superlativamente belo Tratado, que colocou Santa Catarina dentre os teólogos da Igreja.

A mesma visão do Purgatório de Santa Catarina é exposta brevemente, embora de modo tocante, por Dante, naquela bela cena em que ele e Virgílio vagueiam pelos arredores do Purgatório. O poeta se torna subitamente fascinado pela luz brilhante de um Anjo que desliza pelo mar, empurrando um barco repleto de novas almas para o Purgatório; e ele descreve o barco deslizando na direção das margens tão suavemente que não produz nenhuma onda na água, enquanto as almas que deixaram a vida, a terra, e o julgamento há poucos minutos, penosa e, ao mesmo tempo, alegremente cantam o salmo In exitu Israel de Egypto. Foi, certamente, uma bela concepção de Dante; e como ele era tanto teólogo quanto poeta, julguei oportuno mencioná-la aqui como prova da visão que tinham os intelectuais no tempo de Dante.

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02/12/2012

Começa o Advento: “preparai, pois os caminhos do Senhor, porque o Reino de Deus está próximo.”


O tempo de preparação de 3 a 4 semanas, que precede a festa de Natal é chamado de Advento. Isto quer dizer que o Redentor do gênero humano está, por assim dizer, em caminho para vir até nós, enquanto nós nos preparamos para recebê-lo. A consciência dos nossos pecados nos faz desejar ardentemente e esperar a vinda do Redentor e Salvador do mundo.

1. Significação deste Tempo. Estas quatro semanas recordam-nos a primeira vinda do Salvador, em carne, e levam-nos a pensar numa segunda vinda, no fim do mundo.

As partes próprias das Missas destes quatro domingos põem esses pensamentos diante dos nossos olhos. Vemos o Salvador que há de vir, como O viram em espírito os Patriarcas: Salus mundi, o Salvador do mundo. Como O anunciaram os Profetas: Lux mundi, a Luz do mundo que dissipa as trevas e ilumina as nações. Como O designou S. João Batista, o precursor: Agnus Dei qui tollit pecata mundi, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. Como, finalmente, Maria Santíssima contemplou, durante meses, o seu Filho, criança pequenina e meiga que será chamada: Filius Altissimi, Filho do Altíssimo.

Este Tempo diz-nos ainda que Ele virá novamente no fim do mundo (Evangelho do primeiro domingo do Advento). Virá não mais como em Belém, com as mãos cheias de misericórdias, mas como Juiz dos vivos e dos mortos, no furor dos elementos desencadeados e num aparato tão terrível que os homens ficarão mirrados de susto. Hora incerta que devemos temer e para a qual, segundo o aviso do Senhor, cumpre estarmos preparados. E como nos prepararemos? Lembrando-nos da primeira vinda do Senhor e aproveitando-lhe os frutos.

2. Como devemos celebrar o Advento. Tenhamos, em primeiro lugar, um grande desejo do Salvador, desejo esse que nasce da convicção firme da necessidade absoluta da Redenção, não somente para a nossa pessoa, mas, acima de tudo, para toda a santa Igreja, a Comunhão dos fiéis. Isaías, profeta do Antigo Testamento, coloca em nossa boca as palavras: “Enviai, ó céus, o Justo”. E a santa Igreja faz-nos exclamar nas orações: Veni, Domine, et noli tardare. Vinde, Senhor, e não tardeis.

Em segundo lugar, devemos manter em nós o espírito de penitência. S. João Batista exorta-nos: “Fazei dignos frutos de penitência”. A salvação só se aproximará de nós, se afastarmos o pecado e o apego ao pecado, se fizermos penitências pelas faltas cometidas. Preparai, pois os caminhos do Senhor, porque o Reino de Deus está próximo. Passemos, por fim, este tempo, em doce expectação com Maria, Mãe de Jesus. A Santa Igreja, de maneira toda especial, lembra-se dela neste tempo, festejando, logo nos primeiros dias, a sua Imaculada Conceição. Felizes somos nós, porque com a Mãe de Deus, já nos podemos preparar para a festa do Natal. Cada uma das Missas é uma Encarnação do Filho de Deus, e cada uma das santas Comunhões que fazemos neste tempo, faz nascer o Filho de Deus em nós, auxiliando-nos para que possamos dignamente celebrar a festa de Natal.

In Missal Quotidiano, D. Beda Keckeisen, O.S.B., Tipografia Beneditina, LTDA, Bahia, junho de 1957.