29/06/2013

BREVE LIÇÃO DE FILOSOFIA MORAL aplicada às “manifestações” públicas que têm convulsionado o Brasil.

Sidney Silveira
 
1. É moralmente lícito a alguém participar ordeiramente de uma ação cujos resultados presumíveis são o caos e a violência?
 
RESPOSTA:
 
Em sentido absoluto, não!
 
O ato humano pode ser especificado por dois vetores. O fim bom e as circunstâncias de realização desse fim. Como a circunstância dos atos humanos é acidental, e não essencial, muitas vezes ela não altera moralmente o fim bom ou mau do ato. Assim, por exemplo, se um professor qualquer dá uma aula de filosofia verdadeiramente magistral, não importa a circunstância de fazê-lo num luxuoso auditório, com microfones e ar-condicionado, ou numa sala velha em péssimo estado de conservação. Da mesma forma, matar uma pessoa pelas costas não retira o caráter nefasto da ação, seja esta realizada numa avenida ou num corredor estreito.
 
Noutras vezes, porém, as circunstâncias retiram do ato o seu fim bom, ou o degradam a ponto de eliminar a licitude da ação. Este é o caso de alguém realizar um ato imbuído de boas intenções, mas sabendo DE ANTEMÃO que ele acarretará (juntamente com os bens visados) males que podem pôr em risco a vida das pessoas e também as instituições públicas.
 
Ora, se as grandes manifestações nas capitais brasileiras e no interior, até agora, acabaram em destruição, vandalismo, desordem, crimes, etc. — e portanto se prevê com ELEVADÍSSIMO GRAU DE PROBABILIDADE que outras vultosas aglomerações reivindicadoras terminarão da mesma forma —, participar delas é MORALMENTE ILÍCITO e contrário ao bem comum e à paz social, seu sucedâneo imediato. Algo análogo a atirar contra um ladrão que está escondido atrás de uma multidão de inocentes.
 
Portanto, valorosos defensores da Pátria amada: manifestem-se participando da política, e não contribuindo, mesmo alegando boas intenções, para culpavelmente destruir as precondições materiais e institucionais de sua existência.
 
Simples assim.
 
 
P.S. Anteontem (quinta-feira, 27 de junho), vimos pelo país apenas pequenas aglomerações (pois parece que parte dos inocentes úteis da classe média começam a ver o caráter nefasto da coisa). E a violência drasticamente diminuiu, pois em multidões menores fica difícil dizer que se tratava de "vândalos infiltrados". 
 
Enfim, contribuir ordeiramente para a desordem é um mau em si, pelas razões acima alegadas.

27/06/2013

A volúpia cívica do escorpião

Sidney Silveira


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Quando se amontoa com motivações políticas, qualquer multidão superior a duzentas pessoas está imbuída da divina incumbência de estupidificar-se. Aglomerados humanos reivindicantes costumam fazer rumor proporcional à despersonalização que acarretam: animados por catarses coletivas, os indivíduos acabam por embotar-se, pois se vêem privados do elementar silêncio interior sem o qual é impossível raciocinar direito. Não por nada, historicamente todos os movimentos de massa geraram violência, porque esta é a sua natureza — desenfrear-se. Tais multidões desintegram o caráter, predispõem à indolência espiritual, reduzem o senso crítico das pessoas e incutem nelas o mais letal auto-engano: confundir com pensamento a débil autonomia de suas inteligências vencidas pelo instinto de revolta.

Se acreditássemos na hipótese metafísica da geração espontânea, poderíamos supor que, numa linda manhã ensolarada, os brasileiros subitamente acordaram da letargia multissecular modeladora das nossas mazelas sociais e políticas. E, de maneira mais extraordinária do que aconteceu com a criação divina “ex nihilo”, da noite para o dia beócios viraram Boécios. Viraram Platões, Aristóteles, Cíceros e Agostinhos, numa espécie de milagre em escala que iluminou as inteligências ao ponto de lhes propiciar espírito hipercrítico acerca de nossa atávica corrupção moral. O rumoroso exército de neopensadores políticos engajados resolveu então parar o país, do Oiapoque ao Chuí, e o mais surpreendente de tudo é a mágica intuição coletiva desses ativistas com relação a várias “demandas” sociais: estão irmanados em certezas cívicas sem jamais tê-las discutido entre si! Um fenômeno.
Mas não. Não acreditamos em geração espontânea e sabemos que — desde que o mundo é mundo — onde se juntam mais de três ou quatro pessoas para falar sobre política emergem divergências de todos os tipos possíveis e imagináveis. Ademais, hoje temos conhecimento histórico suficiente para saber que as grandes massas revoltosas, dos primórdios da modernidade até hoje, foram dirigidas por elites, pequenos grupos que lhes deram o vetor de ação e as bandeiras a hastear; o movimento inercial fez o resto do trabalho sujo.
Quanto ao atual quadro brasileiro, não é objetivo do presente texto mapear o conjunto de motores da revolta, pois isto em verdade levará anos de pesquisa investigativa historiográfica, não obstante tenhamos indícios eloqüentes quanto a algumas de suas principais fontes, financeiras e políticas. Ele apenas pretende servir de luz — por pálida que seja — para consciências não recalcitrantes perdidas em meio aos bois de piranha da revolução em curso, que acabou por abrir nos últimos anos um gigantesco fosso entre a coisa pública e os homens devotados às coisas do espírito — situação quase idêntica à descrita por Platão no “Fedro”.
Nesta obra-prima da filosofia política, o genial filósofo grego aponta-nos o seguinte: uma ordem política apodrecida, na qual avultam sofistas, tiranos e demagogos, não mais está em condições de absorver ou aproveitar a substância dos homens mais capazes. Nesta situação arquetípica, a tais almas só resta a heroicização (e o provável martírio), numa atmosfera de violência e cegueira mental em que os maus sequer têm clara noção de sua própria maldade, pois a ilusão em que jazem ultrapassou os umbrais da insanidade. Hábitos de embuste e cupidez carcomeram a alma dos que se ocupam da política, e em tal situação os amantes da beleza e do bem são tomados por homens ridículos e ingênuos aos olhos dos perversos que dominam o cenário.
O caso tupiniquim é particularmente dramático porque o remédio proposto pelas massas traz consigo o veneno que gerou a atual situação: o espírito libertário-filomarxista, produto de décadas de formação espiritual deformante, associado a um democratismo liberal difuso que sequer tem noção da hierarquia de bens a preservar, para não descambarmos numa situação pior, muitíssimo pior do que a atual.
À multidão de pessoas empapuçadas de boas intenções que têm contribuído para algo que as pode engolir em breve — sem nem de longe saberem os porquês —, vale dizer sem meias palavras nem temor de ferir a pruridos ou susceptibilidades: vocês não têm o monopólio do amor à pátria! Em hipótese alguma.
E, por servir de instrumento para atos totalmente contrários ao bem comum e à paz social, o seu brado retumbante é como o veneno do escorpião da fábula de La Fontaine: numa só picada, pode matar a vocês mesmos e às instituições que tornam possível a sua ira.
O verdadeiro amor à pátria pressupõe primordialmente o desejo de servir, que é anterior ao de protestar — de maneira análoga à anterioridade dos deveres com relação aos direitos.

24/06/2013

Para um entendimento mínimo do que ocorre hoje na universidade brasileira - II: O estudante e o velho professor

Miguel Reale
 
Depois de ouvirmos tantos professores desfilando suas análises sobre as manifestações "pacíficas" nos canais de TV, ouçamos Miguel Reale sobre a realidade das universidades, sobretudo o ensino de História.
 
Consultando mais uma vez o relógio, o velho mestre de História Moderna e Contemporânea entrou apressado no anfiteatro que havia sido destinado pelo Diretório Acadêmico para a realização dos exames finais. A sala estava apinhada, como num dia de festa, pairando no ambiente a nervosa expectativa de uma representação teatral. Era a primeira vez que se realizavam provas segundo as disposições dos novos estatutos, baseados na fórmula salvadora: "A Universidade é do estudante", quando antes se pensara "erroneamente" que ela fosse do povo para os estudantes e os valores da ciência e da cultura.
 
– "Desculpem-me, mas um acidente de trânsito..."
– "Não se preocupe, professor, atalhou o presidente da banca examinadora, as providências todas já foram tomadas. A comissão de exames está aqui, pronta para proferir o julgamento com base nas respostas dadas às suas perguntas.
 
"Há uma comunicação prévia a fazer-lhe. Como sabe, temos andado absorvidos no estudo da reorganização universitária e da reformulação do currículo de História, razão pela qual bem reduzido foi o tempo disponível para o preparo da matéria. Diante dessa situação conjuntural, o Diretório Acadêmico houve por bem deferir o pedido feito pelos alunos, há dez dias, reduzindo à metade o programa dos exames. Ficou assente que a arguição de hoje versará sobre os pontos de número par."
 
– "Não compreendo como terão podido estudar a história assim, aos saltos, sem atender a certa linha de continuidade que, pelo menos sob dada perspectiva metodológica... "
 
Não o deixaram terminar a frase. Um dos examinadores, que parecia ser o líder intelectual da mesa diretora dos trabalhos, exclamou com ênfase:
– "É compreensível e até certo ponto justificável a sua perplexidade! A sua geração vê a história com o espírito do passado. Nós a vemos com os olhos do futuro. Qualquer episódio isolado vale na medida em que nos permite a intuição do amanhã que nos pertence!"
 
Uma salva de palmas acolheu essas palavras, enquanto nos lábios do velho professor brotava um sorriso, que parecia emergir da noite dos tempos, um misto da percuciente ironia socrática e da bonomia humanística de Montaigne.
 
– "Se essa é a conjuntura, sussurrou, passemos ao exame dos pares... Eis aqui um belo tema para o primeiro examinando: "O liberalismo econômico de Adam Smith". Que diz o colega sobre o assunto?"
 
O aluno, após um longo e estudado silêncio, respondeu:
– "Eis aí uma questão que nos permite compreender a grandiosidade da obra de Karl Marx, o gênio que soube desmascarar a ideologia dos economistas a serviço dos interesses da burguesia inglesa, que precisava da capa da liberdade econômica para impor salários de fome ao proletariado das tecelagens e das minas de carvão. Foi em O Capital que Marx, em 1848...”
– "Perdão, observou o professor, há aí um equívoco. O senhor está querendo se referir, naturalmente, ao Manifesto Comunista de Marx e Engels, pois O Capital só apareceu mais de vinte anos depois... "
– "E que importa? indagou abruptamente o presidente da banca. O seu reparo é bem o reflexo de uma mentalidade ultrapassada, para a qual o que interessa são os pormenores, os aspectos secundários dos fatos, e não o seu espírito, entendido em função do futuro!"
 
Nova explosão de aplausos acolheu essa proclamação, enquanto o líder intelectual da banca retomava a palavra, com o mesmo tom retórico:
– "Muito bem, presidente! Num exame o que interessa é verificar se o jovem está devidamente conscientizado e se é capaz de dar aos acontecimentos uma interpretação significativa para a práxis revolucionária. A meu ver, o examinando sabe, a respeito de liberalismo econômico, o essencial e indispensável, revelando uma clara tomada de posição perante o fato histórico, que só vale, repito, como intuição do futuro!"
 
Enquanto ainda ressoavam palmas e gritos de aplausos, levantou-se o velho mestre, tão sereno e altivo que parecia de redobrada estatura, os olhos fixos na assembleia tumultuante. Como por encanto fez-se silêncio, e o professor falou, com voz firme, mas repassada de emoção.
 
–"Não creio que haja necessidade de prosseguir nos exames. Os iluminados do futuro já escondem, misteriosamente, no fundo da consciência, os arcanos todos do passado. Não haverá mais necessidade de estudo, de vigílias, de dúvidas, de inquietações. Tudo será de antemão modelado e medido segundo uma intuitiva e desveladora imagem do futuro. Eu prefiro cultivar os meus mortos e as minhas lembranças, porque são eles que me auxiliam a compreender o presente e a construir com mais perspectiva e segurança os dias de amanhã."
 
E retirou-se, cruzando corpos e olhos inquietos de estudantes. Uma voz ressoou no anfiteatro: "Fora, reacionário!", mas ficou sem eco.
 
Os moços seguiram-no, com os olhos, até a porta, e sentiram que algo deles mesmos se perdia, a linha do horizonte que lhes possibilitava a determinação da própria juventude.

_____________________
Querem saber como age um verdadeiro e atual professor de História Moderna e Contemporânea, de uma das maiores universidades do país? Vejam aqui. Este professor parece ter sido o presidente da banca examinadora descrita no texto profético acima. 
 

22/06/2013

O que fazer? Olavo de Carvalho tem a receita! E não é de hoje!

Toda vez que o blog menciona Olavo de Carvalho, recebo mensagens de católicos, ditos tradicionais, me espinafrando porque estou citando esse "fulano". Bem, cito Olavo porque ele é essencial para se compreender o Brasil de hoje. Cito-o porque ele me tirou do abismo da imbecilidade esquerdista.Se não fosse ele, eu e meus filhos estaríamos participando das manifestações que infestam o Brasil. Se não fosse ele, eu estaria lendo o blog do José Dirceu, como colegas meus aqui da universidade fazem; um deles me disse inclusive que as manifestações são coisa da extrema direita. Vivo num antro, mas consigo pensar, graças ao Olavo de Carvalho.

Assim, vou continuar a recomendá-lo, a citá-lo, a compartilhá-lo. A propósito, o vídeo abaixo.

 

20/06/2013

INDOLÊNCIA SELVAGEM EM MARCHA PARA O REINO DO NADA

Por Sidney Silveira

Meu amigo Sidney Silveira me envia um texto e me autoriza publicá-lo. Ele serve para nos instruir e para matar um pouco de nossa saudade do Contra Impugnantes. O blog, honrado, agradece a distinção!

Foto: INDOLÊNCIA SELVAGEM EM MARCHA PARA O REINO DO NADA

“A ânsia de autoglorificar-se, de se agitar, é típica de todos os ilegítimos”.
Jacob Burckhardt


Sidney Silveira
Qualquer fabricação de heróis políticos é um fenômeno de ordem estética e de autoglorificação moral, a um só tempo. Primeiro embelezam-se artificiosamente os ideais — porque ninguém há de seguir o que é, por si, repugnante —, e depois se arregimentam pessoas cuja credulidade na própria capacidade de mudar os rumos da história revela, para os espíritos mais atentos, uma nota distintiva da vaidade: enxergar-se como protagonista, como alguém que se distingue dos demais pela ação política, mesmo não sabendo sequer definir “o que é” a política. A propósito, as grandes demagogias da história sempre se valeram do fascínio carismático que os ideais fabricados têm sobre os idiotas, aqui tomados como pessoas espiritualmente indolentes que precisam de guias para deliberar acerca de suas decisões mais importantes. A estes Aristóteles chamava de “escravos”, no tocante ao estado da psique.

A diferença com relação ao passado é que hoje as demagogias políticas não mais precisam dos grandes demagogos. Estes se tornaram desnecessários, pois as sociedades já se idiotizaram ao ponto de dar novas cores a uma conhecida frase de Nietzsche: o fanatismo é a única forma de vontade que pode ser incutida nos fracos. Ora, o neofanático político é justamente o sujeito tíbio cujo cérebro foi programado para dizer “amém” a um conjunto de falsos princípios libertários, sob a bandeira da democracia, palavra mágica capaz de significar tudo e nada ao mesmo tempo, mas que habitualmente serve para ele convencer-se de que a sua opinião, reproduzida em larga escala, é um deus habitante no hiperurânio das formas arquetípicas, e possui direitos inalienáveis. Isto ocorre quando o neofanático político — por meio de uma infernal alquimia semântica — transforma arremedos de idéias em “ideais”, com o auxílio indispensável das técnicas de engenharia social que delimitaram o seu “status mentis”.

Hitler escrevera a certa altura de seu “Mein Kampf” que não se deve incutir nas massas mais de um inimigo por vez — sobretudo no começo, quando se trabalha para forjar a nova massa de revoltosos. Ensinava o catecismo do líder nazista, em tom professoral: é preciso canalizar a insatisfação coletiva a partir de um slogan comum, para não dispersar as mentes. Essa velha lição da demagogia universal, adaptada de encomenda para a era das multidões, foi seguida à risca pelos responsáveis das passeatas que tomaram as ruas das capitais brasileiras nos últimos dez dias, em meio às quais foram vistas cenas de terrorismo típicas dos mais ferozes movimentos revolucionários. O pólo arregimentador da aglomeração heterogênea de almas insatisfeitas, no princípio, foi um só, exatamente como na pedagogia de “Mein Kampf”: o aumento de R$ 0,20 nas tarifas dos ônibus! Que depois outras bandeiras se desfraldassem a partir desta — em si mesma desproporcional em relação ao tamanho do barulho que os profissionais do protesto, remunerados há tempos pelo próprio governo, via Lei Rouanet, programavam fazer —, era algo não apenas natural, como previsível e obviamente desejado pelos comandantes da coisa.

Hordas de pessoas vaidosamente convencidas de sua própria boa-fé política juntaram-se em clima de festividade cidadã, com carinhas pintadas e roupas de cores combinadas, para protestar com cânticos cívicos entoados como se fossem arcanos das mais elevadas verdades eternas, em nome da tal democracia. O frenesi dessas criaturas, em geral despreparadas para objeções de qualquer natureza ao seu movimento, era patente — análogo ao êxtase psicofísico de um gozo erótico. É o que normalmente faz a propaganda política, quando se transforma numa tortuosa espécie de ato de fé: vira o molde a partir do qual se produz o sugestionamento coletivo que induz as pessoas a não divisarem bem as diferenças entre a imaginação e a realidade. Elas passam a ser narcoticamente arrebanhadas por mantras, mas sem perder a sensação da livre escolha.

Ao ver essas massas compactas de gente — em sua imensa maioria, abaixo dos 30 anos — a bradar com notável ímpeto, não pude deixar de pensar em duas coisas: primeira, há um egocentrismo teatral em toda multidão com intenções políticas; segunda, como dizia o velho Aristóteles, o lugar dos jovens jamais pode ser a política, porque o exercício virtuoso desta pressupõe o conhecimento arquitetônico dos meios que se devem ordenar em vista do bem comum, e a juventude é a época dos arroubos, dos experimentalismos existenciais, das paixões mais violentas, dos idealismos ardorosos que não se deixam vencer por argumentos. Em verdade, não os suportam, sobretudo quando os jovens têm a cabeça feita por teorias de matiz revolucionário.

O gigante brasileiro não está apenas adormecido, mas em hibernação perene. E hoje mais do que nunca, pois a agitação estampada nas manchetes dos últimos dias é apenas mais uma forma de manter as coisas exatamente como estão: distantes dos valores civilizacionais. Na melhor das hipóteses, na prática poderemos trocar seis por meia dúzia.

Por fim, não é ocioso salientar o seguinte: se a indolência espiritual é a pior selvageria que um homem pode fazer contra si mesmo, podemos dizer que, ao tornar-se torna coletiva, ela impede formalmente os verdadeiros bens políticos, sem os quais não se espere a paz social, mas o crescimento geométrico do caos.

“A ânsia de autoglorificar-se, de se agitar, é típica de todos os ilegítimos”.
Jacob Burckhardt


Qualquer fabricação de heróis políticos é um fenômeno de ordem estética e de autoglorificação moral, a um só tempo. Primeiro embelezam-se artificiosamente os ideais — porque ninguém há de seguir o que é, por si, repugnante —, e depois se arregimentam pessoas cuja credulidade na própria capacidade de mudar os rumos da história revela, para os espíritos mais atentos, uma nota distintiva da vaidade: enxergar-se como protagonista, como alguém que se distingue dos demais pela ação política, mesmo não sabendo sequer definir “o que é” a política. A propósito, as grandes demagogias da história sempre se valeram do fascínio carismático que os ideais fabricados têm sobre os idiotas, aqui tomados como pessoas espiritualmente indolentes que precisam de guias para deliberar acerca de suas decisões mais importantes. A estes Aristóteles chamava de “escravos”, no tocante ao estado da psique.

A diferença com relação ao passado é que hoje as demagogias políticas não mais precisam dos grandes demagogos. Estes se tornaram desnecessários, pois as sociedades já se idiotizaram ao ponto de dar novas cores a uma conhecida frase de Nietzsche: o fanatismo é a única forma de vontade que pode ser incutida nos fracos. Ora, o neofanático político é justamente o sujeito tíbio cujo cérebro foi programado para dizer “amém” a um conjunto de falsos princípios libertários, sob a bandeira da democracia, palavra mágica capaz de significar tudo e nada ao mesmo tempo, mas que habitualmente serve para ele convencer-se de que a sua opinião, reproduzida em larga escala, é um deus habitante no hiperurânio das formas arquetípicas, e possui direitos inalienáveis. Isto ocorre quando o neofanático político — por meio de uma infernal alquimia semântica — transforma arremedos de idéias em “ideais”, com o auxílio indispensável das técnicas de engenharia social que delimitaram o seu “status mentis”.

Hitler escrevera a certa altura de seu “Mein Kampf” que não se deve incutir nas massas mais de um inimigo por vez — sobretudo no começo, quando se trabalha para forjar a nova massa de revoltosos. Ensinava o catecismo do líder nazista, em tom professoral: é preciso canalizar a insatisfação coletiva a partir de um slogan comum, para não dispersar as mentes. Essa velha lição da demagogia universal, adaptada de encomenda para a era das multidões, foi seguida à risca pelos responsáveis das passeatas que tomaram as ruas das capitais brasileiras nos últimos dez dias, em meio às quais foram vistas cenas de terrorismo típicas dos mais ferozes movimentos revolucionários. O pólo arregimentador da aglomeração heterogênea de almas insatisfeitas, no princípio, foi um só, exatamente como na pedagogia de “Mein Kampf”: o aumento de R$ 0,20 nas tarifas dos ônibus! Que depois outras bandeiras se desfraldassem a partir desta — em si mesma desproporcional em relação ao tamanho do barulho que os profissionais do protesto, remunerados há tempos pelo próprio governo, via Lei Rouanet, programavam fazer —, era algo não apenas natural, como previsível e obviamente desejado pelos comandantes da coisa.

Hordas de pessoas vaidosamente convencidas de sua própria boa-fé política juntaram-se em clima de festividade cidadã, com carinhas pintadas e roupas de cores combinadas, para protestar com cânticos cívicos entoados como se fossem arcanos das mais elevadas verdades eternas, em nome da tal democracia. O frenesi dessas criaturas, em geral despreparadas para objeções de qualquer natureza ao seu movimento, era patente — análogo ao êxtase psicofísico de um gozo erótico. É o que normalmente faz a propaganda política, quando se transforma numa tortuosa espécie de ato de fé: vira o molde a partir do qual se produz o sugestionamento coletivo que induz as pessoas a não divisarem bem as diferenças entre a imaginação e a realidade. Elas passam a ser narcoticamente arrebanhadas por mantras, mas sem perder a sensação da livre escolha.

Ao ver essas massas compactas de gente — em sua imensa maioria, abaixo dos 30 anos — a bradar com notável ímpeto, não pude deixar de pensar em duas coisas: primeira, há um egocentrismo teatral em toda multidão com intenções políticas; segunda, como dizia o velho Aristóteles, o lugar dos jovens jamais pode ser a política, porque o exercício virtuoso desta pressupõe o conhecimento arquitetônico dos meios que se devem ordenar em vista do bem comum, e a juventude é a época dos arroubos, dos experimentalismos existenciais, das paixões mais violentas, dos idealismos ardorosos que não se deixam vencer por argumentos. Em verdade, não os suportam, sobretudo quando os jovens têm a cabeça feita por teorias de matiz revolucionário.

O gigante brasileiro não está apenas adormecido, mas em hibernação perene. E hoje mais do que nunca, pois a agitação estampada nas manchetes dos últimos dias é apenas mais uma forma de manter as coisas exatamente como estão: distantes dos valores civilizacionais. Na melhor das hipóteses, na prática poderemos trocar seis por meia dúzia.

Por fim, não é ocioso salientar o seguinte: se a indolência espiritual é a pior selvageria que um homem pode fazer contra si mesmo, podemos dizer que, ao tornar-se coletiva, ela impede formalmente os verdadeiros bens políticos, sem os quais não se espere a paz social, mas o crescimento geométrico do caos.

Nossos inimigos, suas ideias e suas ações. Eles não brincam em serviço!

De um lado, o Ministro da Educação da França, diz: "Nós nunca poderemos construir um país de liberdade com a Religião Católica". Ele prega a religião laica: "O ponto de partida da laicidade é o respeito absoluto da liberdade de consciência. Para dar a liberdade de escolha, é preciso ser capaz de arrancar o aluno de todo determinismo: familiar, étnico, social, intelectual …"  É preciso transformar o aluno num animal irracional, num homem sem família, sem moral, sem convívio social, sem referências intelectuais. Todo político ímpio (para usar um termo bíblico) sonha com isso, com um ser amorfo a quem manipular.

Por outro lado, os budistas, que gostam de posar de pacifistas, simplesmente atearam fogo no Tabernáculo da Igreja de São Francisco Xavier, na diocese de Colombo, no Sri Lanka. Este ato mostra que os budistas acreditam na Presença Real, ao contrário de muitos católicos modernistas! Mas as Hóstias Consagradas ficaram intactas, num claríssimo milagre de Nosso Senhor.

19/06/2013

Para um entendimento mínimo do que ocorre hoje na universidade brasileira.

A casca e a banana ou D. Débora e a "personalidade jurídica das convicções", ou ainda a forma e o formato da burrice de uma "cientista séria".

Se quiserem ver a foto de D. Débora, a seríssima cientista da UnB, com um belo texto de Reinaldo Azevedo, veja aqui.

18/06/2013

Para um entendimento mínimo do que ocorre hoje no Brasil.

Não leiam jornal e nem assistam TV. São todos uns enganadores e puxa-sacos de baderneiros. Para entender a situação das manifestações pelo Brasil afora, leiam, pelo menos o que vai abaixo.



14/06/2013

Missa Tridentina em BH: amanhã, 15 de junho.

Reverendíssimo Pe. Tarciso celebrará Missa no Rito de São Pio V, na Capela do Monte Calvário.

 
Data: 15/06/2013
Horário: 19h30
Local:  Av. do Contorno, 9384 (perto do hospital Felício Rocho) - Barro Preto
 



 
 

11/06/2013

Editoras católicas são raras, mas existem.

Falo de uma nova editora, a Castela Editorial, de Gabriel Galeffi Barreiro, que além de editor é um excelente tradutor. A editora lançou três livros muito bons. Na ordem de lançamento temos: Sete mentiras sobre a Igreja Católica (já na 2a. edição), Dez datas que todo católico deveria conhecer e A Confissão.  
 
Os três livros são traduzidos, e muito bem, por Gabriel Galeffi. Os dois primeiros são de Diane Moczar, professora de História da Northern Virginia Community College, nos EUA. Sim pessoal, existem professores de História católicos; o espécime é raro, mas com paciência conseguimos achar alguns.  
 
Quais são as sete mentiras? Os títulos dos capítulos já dizem o essencial: Idade Média, “idade das trevas”; Igreja Católica, inimiga do progresso; Uma cruzada contra a verdade; A sinistra Inquisição; A ciência no tribunal, a Igreja Católica versus Galileu; Uma Igreja corrompida até o topo; e A oportuna Lenda Negra. Há muito mais mentiras que estas, mas a escolha de Moczar é muito boa. Seu texto é simples, direto e muito claro. A historiadora é porém muito compreensiva com nossos inimigos; senti falta de um espírito mais belloquiano, por assim dizer. Senti falta de um ataque mais direto na jugular de nossos inimigos. Contudo, é um livro para se ler com prazer e proveito. 
 
As dez datas foram, do mesmo modo, muito bem escolhidas: 313 d.C., O Edito de Milão; 452 d.C., São Leão Magno impede a invasão dos hunos; 496 d.C., O batismo de Clóvis e o nascimento da França católica; 800 d.C., A coroação de Carlos Magno, pai da cristandade; 910 d.C., A fundação da Abadia de Cluny e o renascimento da vida religiosa; 1000 d.C., Início da era mais gloriosa da Igreja; 1517 d.C., A catástrofe protestante; 1571 d.C., A Batalha de Lepanto, a vitória naval de Nossa Senhora; 1789 d.C., A era da Revolução; 1917 d.C., Fátima e o século XX. Peço a atenção dos leitores para três capítulos em especial: sobre o protestantismo, sobre a Revolução Francesa e sobre Fátima; eles são muito bons. Todo católico tem obrigação de conhecer estas datas escolhidas por Moczar. 
 
O terceiro livro da Editorial Castela é um clássico da literatura católica: A Confissão, de Mons. de Ségur. O livrinho desse grande apologista do século XIX é tão essencial quanto o que ele escreveu sobre o Inferno, também lançado recentemente no Brasil, pela Editora Ecclesiae. Quem tem alguma dúvida sobre o Sacramento da Penitência ou deseja algumas ideias de como abordar o assunto de modo apologético, não pode deixar de ler esta pérola. Chamo a atenção dos leitores para duas coisas no livro. Primeiramente, destaco o prefácio da edição do livro; é um prefácio muito esclarecedor, assinado por um “sacerdote católico”. Esse padre, que não quis se identificar, comenta a calamidade em que se transformou a Confissão hoje no Brasil, com os padres transformando este Sacramento em verdadeiras “salas de terapia”. Há exceções, é claro, e o padre ensina como identifica-las, como encontrar os padres piedosos que nos possam confessar. Em segundo lugar, destaco a deliciosa história ouvida por Mons. de Ségur, narrada diretamente por ninguém menos que São João Maria Vianney, sobre um importante cavalheiro que foi procurá-lo para “uma conversa” em sua paróquia. O cavalheiro não queria se confessar, só conversar. O que Santo Cura d’Ars faz com esse homem é espetacular e eu não vou atrapalhar a surpresa do final do livro.

08/06/2013

Guia Prático de Teologia: o no. 3 já nas bancas.

GUIA PRATICO DE TEOLOGIA 003

Nesta edição os leitores encontrarão textos sobre a defesa da vida, o relativismo, a existência de Deus, sobre nossa Mãe Santíssima e sobre o Magistério de Bento XVI. O editorial da revista é sobre o fim do pontificado de Bento XVI e contém um pungente agradeci-mento: "Obrigado, Santo Padre, por seu edificante pontificado; obrigado, Bento XVI, pelo amor que dedicou à Igreja e a todos nós."

07/06/2013

Festa do Sagrado Coração de Jesus: revelação a Santa Margarida Alacoque.

Estando uma vez diante do SS. Sacramento, num dia de sua oitava [provavelmente, em 16/06/1675], recebi graças muito grandes de Deus, e senti-me impelida pelo desejo de corresponder-lhe de algum modo de de pagar-lhe amor com amor. Ele disse-me: 

"Não podes corresponder melhor do que fazendo o que já tantas vezes te pedi. Eis aqui este Coração que tanto tem amado os homens, que a nada se tem poupado até se esgotar e consumir para lhes testemunhar seu amor; e em reconhecimento não recebo, da maior parte deles, senão ingratidões por meio das irreverências e sacrilégios, tibiezas e desdéns que usam para comigo neste Sacramento de amor. E o que muito mais me custa é tratar-se de corações a mim consagrados os que assim me tratam. Por isso peço-te que seja constituída uma festa especial para honrar meu Coração na primeira sexta-feira depois da oitava do Corpo de Deus. Comungue-se, nesse dia, e seja feita a devida reparação por meio de um ato de desagravo, para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo que esteve exposto sobre os altares. E eu te prometo que meu Coração se dilatará, para derramar com abundância os benefícios de seu divino amor sobre os que lhe tributarem esta honra e procurarem que outros a tributem"

06/06/2013

Fim do "Contra Impugnantes": o que fazer?

Aceitando a sugestão de um leitor do blog, segue a conta bancária do meu amigo Sidney Silveira. Esta é mais uma forma de exercermos a caridade. Nosso amigo está precisando muitíssimo!

Ag. Caixa Econômica Federal: 3106
Opção: 001 (conta corrente)
Conta: 749-0
CPF: 002.655.647-27



04/06/2013

Fim do "Contra Impugnantes": o que dizer?

As coisas boas também se acabam; é o ciclo da vida. Mas é de lascar ver um trabalho tão bom findar assim. 

O que temos a fazer é agradecer; primeiro a Deus, depois a Sidney Silveira. Obrigado amigo, Deus lhe pague tudo o que você fez por nós. Ver Santo Tomás se levantar do empoeirado séc. XIII e analisar a conjuntura atual foi muito bom.

O objetivo do blog -- "combater a insidiosa e multiforme cultura liberal" -- lembra-me um trecho inesquecível de Hereges, de Chesterton, em que ele justifica a luta que trava no livro com seus oponentes. Diz o gênio inglês (negritos meus):

“Volto-me para os métodos doutrinais do século XIII, inspirado pela esperança de conseguir alguma coisa. Suponha que uma grande comoção surja numa rua a respeito de alguma coisa, digamos um poste de iluminação a gás, que muitas pessoas influentes desejam derrubar. Um monge de batina cinza, que é o espírito da Idade Média, começa a fazer algumas considerações sobre o assunto, dizendo à maneira árida da Escolástica: “Consideremos primeiro, meus irmãos, o valor da Luz. Se a Luz for em si mesma boa ...”. Nesta altura, ele é, compreensivelmente, derrubado. Todo mundo corre para o poste e o põe abaixo em dez minutos, cumprimentando-se mutuamente em sua praticidade nada medieval. Mas, com o passar do tempo, as coisas não funcionam tão facilmente. Alguns derrubaram o poste porque queriam a luz elétrica; alguns outros, porque queriam o ferro do poste; alguns mais, porque queriam a escuridão, pois, seus objetivos eram maus. Alguns se interessavam pouco pelo poste, outros muito; alguns agiram porque queriam destruir os equipamentos municipais; alguns outros porque queriam destruir alguma coisa. E acontece uma guerra noturna, ninguém sabendo a quem atinge. Então, gradualmente, hoje, amanhã, ou depois de amanhã, forma-se a convicção de que o monge estava certo, afinal, e que tudo depende de qual é a filosofia da Luz. Mas o que poderíamos ter discutido sob a lâmpada a gás, agora tínhamos de discutir no escuro.”

Nunca deixei de considerar que o monge de batina cinza fosse Santo Tomás, homem síntese dos métodos doutrinais do séc. XIII. E hoje, sim, hoje estamos discutindo no escuro. Mas por algum tempo houve a luz do Contra Impugnantes a nos iluminar. Ela agora se apaga, e voltamos, por ora, para a escuridão. Rezemos para que “algo muito excepcional aconteça em breve” e nos restitua a luz do séc. XIII.


Conte, caro Sidney, com este ingrato amigo das Minas Gerais, e com este modestíssimo blog. Estamos à sua inteira disposição. Até breve, se Deus quiser!

03/06/2013

Reverendíssimo Pe. Anderson discorda do blog: Papa Francisco não errou!

Nota do blog: O Reverendíssimo Pe. Anderson Alves, da diocese de Petrópolis, escreve ao blog sobre o Papa Francisco, o “pro multis” e o “pro omnibus”. Suas palavras esclarecedoras são de um pastor de almas, que agradeço muitíssimo. Deus lhe pague, padre!
Ref.: Papa Francisco erra ao confundir “pro multis” com “pro omnibus”!O Papa errou: tornando menos “incompreensível” a opinião do blog.

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Primeira coisa: o Papa não estava se referindo à tradução da Oração eucarística, ao tema do pro multis o pro omnibus. Mas fez sua homilia recordando que todos os homens, por serem imagem e semelhança de Deus tem na sua consciência o princípio que diz que deve-se fazer o bem e evitar o mau. E isso faz parte da natureza humana, não é algo revelado somente aos católicos. Por isso, todos são obrigados a fazer o bem que conhecem e a ninguém é licito matar, nem mesmo em nome de Deus.

Segundo: “O Senhor redimiu a todos com o seu sangue. A todos, não só os católicos. Também os ateus”. “Isso por obra do seu sangue, que nos faz filhos de Deus”.

Isso significa a “heresia da salvação universal” ou a reafirmação do dogma da redenção universal por obra de Cristo? É herético dizer que Cristo veio para redimir a todos? É errado dizer que “o Sangue Preciosíssimo de Nosso Senhor foi derramado por todos”.

Deus entregou seu Filho por todos (Rm 8, 32).

«Um só morreu por todos»: (2 Cor 5, 14).

Jesus entregou-Se a Si mesmo como resgate por todos (1 Tm 2, 6).

(Concílio de Arles, 475. Denzinger 160b): «Confieso también que Cristo Dios y Salvador, por lo que toca a las ri-quezas de su bondad, ofreció por todos el precio de su muerte y no quiere que nadie se pierda, El, que es salvador de todos, sobre todo de los fieles, rico para con todos los que le invocan [Rom. 10,  12]... Ahora, empero, por la autoridad de los sagrados testimonios que copiosamente se hallan en las divinas Escrituras, por la doctrina de los antiguos, puesta de manifiesto por la razón, de buena gana confieso que Cristo vino también por los hombres perdidos que contra la voluntad de El se han perdido. No es lícito, en efecto, limitar las riquezas de su bondad inmensa y los beneficios divinos a solos aquellos que al parecer se han salvado. Porque si decimos que Cristo sólo trajo remedios para los que han sido redimidos, parecerá que absolvemos a los no redimidos, los que consta han de ser castigados por haber despreciado la redención. Afirmo también que se han salvado, según la razón y el orden de los siglos, unos por la ley de la gracia, otros por la ley de Moisés, otros por la ley de la naturaleza, que Dios escribió en los corazones de todos, en la esperanza del advenimiento de Cristo; sin embargo, desde el principio del mundo, no se vieron libres de la atadura original, sino por intercesión de la sagrada sangre».

Redenção objetiva ou subjetiva? Em ato ou em potência? Nos Concílios não encontramos nenhuma das duas terminologias, que são filosóficas. O que aparece claro é a afirmação de que Cristo padeceu por todos. Os que não são redimidos, não o são por causa da insuficiência da obra de Cristo (sua obra é real, fonte de uma redenção “objetiva”, independente do sujeito para todos os que a aceitam), mas sim por causa dos que não creem na fé que obra pela caridade. Evidentemente, para se crer, é necessário que tenha anunciado a obra da redenção a todos. Quem vive na ignorância, ou viveu antes de Cristo, pode ser salvo pelo sangue de Cristo, se busca de viver segundo a lei de Moisés ou segundo a lei da natureza (lei natural), como diz no cânon anteriormente citado.

CONCILIO DE QUIERSY, 853, Dez. 319, Cap. 4: «Como no hay, hubo o habrá hombre alguno cuya naturaleza no fuera asumida en él; así no hay, hubo o habrá hombre alguno por quien no haya padecido Cristo Jesús Señor nuestro, aunque no todos sean re-dimidos por el misterio de su pasión. Ahora bien, que no todos sean re-dimidos por el misterio de su pasión, no mira a la magnitud y copiosidad del precio, sino a la parte de los infieles y de los que no creen con aquella fe que obra por la caridad [Gal. 5, 6]; porque la bebida de la humana salud, que está compuesta de nuestra flaqueza y de la virtud divina, tiene, ciertamente, en sí misma, virtud para aprovechar a todos, pero si no se bebe, no cura».

D-318 Cap. 3. Dios omnipotente quiere que todos los hombres sin excepción se salven [1 Tim. 2, 4], aunque no todos se salvan. Ahora bien, que algunos se salven, es don del que salva; pero que algunos se pierdan, es merecimiento de los que se pierden.

CONCILIO DE ARLES, 475, D-160a «Vuestra corrección es pública salvación y vuestra sentencia medicina. De ahí que también yo tengo por sumo remedio, excusar los pasados errores acusándolos, y por saludable confesión purificarme. Por tanto, de acuerdo con los recientes decretos del Concilio venerable, condeno juntamente con vosotros aquella sentencia que dice que no ha de juntarse a la gracia divina el trabajo de la obediencia humana; que dice que después de la caída del primer hombre, quedó totalmente extinguido el albedrío de la voluntad; que dice que Cristo Señor y Salvador nuestro no sufrió la muerte por la salvación de todos; que dice que la presciencia de Dios empuja violentamente al hombre a la muerte, o que por voluntad de Dios perecen los que perecen; que dice que después de recibido legítimamente el bautismo, muere en Adán cualquiera que peca; que dice que unos están destinados a la muerte y, otros predestinados a la vida; que dice que desde Adán hasta Cristo nadie de entre los gentiles se salvó con miras al advenimientode Cristo por medio de la gracia de Dios, es decir, por la ley de la naturaleza, y que perdieron el libre albedrío en el primer padre; que dice que los patriarcas y profetas y los más grandes santos, vivieron dentro del paraíso aun antes del tiempo de la redención. Todo esto lo condeno como impío y lleno de sacrilegios. De tal modo, empero, afirmo la gracia de Dios que siempre añado a la gracia el esfuerzo y empeño del hombre, y proclamo que la libertad de la voluntad humana no está extinguida, sino atenuada Y debilitada, que está en peligro quien se ha salvado, y que el que se ha perdido, hubiera podido sal-varse.

Além disso, a eficácia universal da morte de Cristo é o fundamento do batismo das crianças, que não têm ainda o uso da razão e não podem escolher por viver em Cristo:
De la Constitución De Summa Trinitate et fide catholical, Denzinger 483: «Mas como respecto al efecto del bautismo en los niños pequeños se halla que algunos doctores teólogos han tenido opiniones contrarias, diciendo algunos de ellos que por la virtud del bautismo ciertamente se perdona a los párvulos la culpa, pero no se les confiere la gracia, mientras afirman otros que no sólo se les perdona la culpa en el bautismo, sino que se les infunden las virtudes y la gracia informante en cuanto al hábito [v. 140], aunque por entonces no en cuanto al uso; nosotros, empero, en atención a la universal eficacia de la muerte de Cristo que por el bautismo se aplica igualmente a todos los bautizados, con aprobación del sagrado Concilio, hemos creído que debe elegirse como más probable y más en armonía y conforme con los dichos de los Santos y de los modernos doctores de teología la segunda opinión que afirma conferirse en el bautismo la gracia informante y las virtudes tanto a los niños como a los adultos».

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Em nossa troca de e-mail, Pe. Anderson acrescenta a seguinte nota final.

Eu acrescentaria mais uma coisa: aquela homilia é uma das homilias diárias do Papa, feita antes das 07:00, em menos de 5 minutos e não é totalmente preparada. Não é um texto lido, mas uma pregação oral. Por isso, não é nem pode ser um tratado de Teologia sobre a salvação, mas era uma exortação moral aos cristãos. Por isso, temos que ser compreensivos, não podemos dar a todos os textos ou palavras do Papa o mesmo valor. Uma homilia de 5 minutos não é uma Encíclica, nem menos uma aula de Teologia.

Outra coisa, temos que ler o magistério do Papa no seu conjunto e não criando oposição dele com outros Papas (como fazem certos jornalistas). Ele está fazendo catequeses belíssimas sobre o mistério da Igreja. Na última semana ele disse claramente que não se pode dizer "Cristo sim, Igreja não". Veja esses textos e complete a questão. http://www.vatican.va/holy_father/francesco/audiences/2013/index_it.htm


01/06/2013

Missa de Sempre na Polícia Militar de Minas Gerais: por intenção da alma dos que tombaram em defesa da sociedade.

Retransmito a seguir um convite do Tenente-Coronel Gilberto Protásio.



A Polícia Militar de Minas Gerais e a Associação Cultural "Padre Luiz De Marco Filho" convidam para o Santo Sacrifício da Missa, no Rito de São Pio V (Missa em Latim), com Coral Gregoriano e material bilíngue para acompanhamento, em homenagem aos Fundadores da Polícia Militar de Minas Gerais e por intenção da alma dos que tombaram em defesa da sociedade.
 

Local: Capela da Academia de Polícia Militar (Capela Nossa Senhora da Sabedoria);
Rua Diábase, 320, bairro Prado, Belo Horizonte - MG.


Dia: 05 de junho de 2013, quarta-feira.


Horário: 19h30min.

Traje: A2 para Militares (Uniforme de Cerimônia Marrom);
Civis: Paletó, terno ou camisa de mangas compridas, para homens;
Vestido longo ou saia abaixo dos joelhos, com ombros cobertos e sem decotes, para mulheres.
 
Observações:
- Serão atendidas confissões a partir das 18h30min, no Confessionário da Capela, para os que desejarem comungar. Serão fornecidos véus, para uso das mulheres.
- Haverá o Santo Terço, a partir das 18h30min.

Amparo e a fé dos católicos.

Lendo a história de Amparo me lembrei de Hilaire Belloc e de seu magistral As Grandes Heresias. Qualquer um que tenha lido o depoimento dessa moça, certamente fará a seguinte pergunta: por que a fé dos católicos? Ou seja, por que não a fé dos luteranos, dos calvinistas, dos membros das mais de 30.000 seitas protestantes espalhadas pelo mundo? 
 
Belloc já respondeu isto há mais de meio século: porque este tal de cristianismo não existe; só existe a Igreja Católica e seus inimigos! A luta é tremenda. Belloc tenta descrevê-la no último capítulo do livro mencionado, intitulado A Fase Moderna. O primeiro parágrafo deste capítulo é muito sugestivo em função da história de Amparo. 
 
“A Fé está agora na presença, não de uma particular heresia como no passado – a ariana, a maniqueísta, a albigense, a dos muçulmanos – nem tampouco na presença de certa heresia generalizada, como foi a revolução protestante de três ou quatro séculos atrás. O inimigo que a Fé tem agora de enfrentar, e que pode ser chamado “O Ataque Moderno,” é um assalto integral aos fundamentos da Fé – à existência mesma da Fé. E o inimigo que agora avança contra nós está cada vez mais consciente do fato de que não pode haver neutralidade na luta. As forças agora se opõem à Fé para destruí-la. A batalha se dá, daqui em diante, segundo uma linha de clivagem bem definida, envolvendo a sobrevivência ou a destruição da Igreja Católica. E toda – não apenas uma parte – de sua filosofia.” 
 
Mais à frente o grande católico inglês adverte: “a luta é entre a Igreja e a anti-Igreja – a Igreja de Deus e a do anti-Deus – a de Cristo e a do anti-Cristo. (...) O ataque moderno não nos tolerará. Tentará nos destruir. Tampouco podemos tolerá-lo. Devemos destruí-lo como sendo o inimigo ardente e totalmente armado da Verdade pela qual o homem vive. O duelo é até a morte.” 
 
Quem quer que queira entender sobre o que Amparo está falando tem de ler o livro de Belloc e, sobretudo, seu último capítulo. O ataque é mortal e nossos inimigos estão absolutamente decididos!