23/05/2014

Indiferença

Ernest Hello
 
Muitas pessoas que a desconhecem, acusam a Verdade por ser intolerante. Isso merece uma explicação. 
 
Ao ouvi-los, pode-se dizer que a Verdade e o Erro são duas coisas com os mesmos direitos; duas rainhas, ambas legítimas, que devem viver em paz em seu próprio reino; duas divindades, que dividem entre elas a fidelidade do mundo, sem que uma tenha o direito de tomar os domínios da outra. E desse modo de pensar brota a indiferença, que é o triunfo de satã. O ódio lhe agrada, mas o ódio não é suficiente; ele deseja a indiferença. 
 
A indiferença é uma forma particular de ódio, um ódio frio e duradouro que se esconde dos outros – por trás do ar da tolerância. Pois a indiferença nunca é real. Ela é ódio combinado com falsidade.
 
Para continuar a produzir, dia após dia, uma torrente de ferozes invectivas contra a Verdade, os homens precisam de uma decisão de caráter que eles não possuem.
 
Consequentemente, a posição que eles tomam é não tomar posição. Todavia, um ódio ruidoso é muito mais facilmente explicável, desde que se considere o Pecado Original, que o ódio silencioso. O que me impressiona não é ouvir alguma blasfêmia dos lábios de um homem. O Pecado Original lá está; o livre-arbítrio lá está; a blasfêmia tem sua explicação. O que me precipita na mais absoluta estupefação é a neutralidade.
 
É uma questão acerca do futuro da raça humana, e do futuro eterno de tudo que no universo possua inteligência e liberdade. É certamente e necessariamente uma questão acerca de tu contigo mesmo, com todos e com todas as coisas. Então, a menos que não te interesses por ti mesmo, nem por ninguém ou nada, essa é certamente e necessariamente uma questão do mais sagrado interesse para você. Toma tua alma, e corra para o calor da batalha. Toma seus desejos, seus pensamentos, suas orações, seu amor. Pegue qualquer arma que possas possivelmente utilizar, e te lance de corpo e alma na batalha em que tudo está em jogo.
 
Coloque-se no campo de batalha entre os disparos daqueles que amam e os daqueles que odeiam, pois deves auxiliar a um ou a outro. Não te engane sobre isso. O clamor não é aos homens em geral; é a ti em particular; pois todos os dons morais, mentais, físicos e materiais à tua disposição são as tantas armas que Deus colocou em tuas mãos, e te deu a liberdade de usá-las por ou contra Ele. Tu deves lutar; tu és obrigado a lutar. Só podes escolher em que lado estás.
 
Jesus Cristo, quando veio a este mundo, pediu aos homens tudo que Ele precisava, pois Ele escolheu ser o mais pobre entre os pobres. Ele pediu um lugar onde nascer: isso Lhe foi negado. Todas as estalagens estavam cheias; a porta de um estábulo era a única que estava aberta. Ele pediu um lugar onde morar; isso Lhe foi negado. O Filho do homem não teve um lugar para recostar Sua cabeça. E quanto a sua morte, Ele não teve sete palmos de terra abaixo dos quais Se deitar. A Terra o rejeitou, e Ele foi pendurado entre a Terra e o Céu, numa Cruz.
 
Ora, Aquele Que então pedia, ainda o faz. Ele pede por um lugar para nascer. Os indivíduos que lotam as estalagens, e que não desocupam seus lugares, mas mandam embora Jesus, para nascer entre uma vaca e um burro, são um admirável símbolo daqueles que estão constantemente sacrificando seus futuros e a si mesmos em nome de ninharias inexpressivamente tediosas e vazias.
 
De todas as ideias malucas inspiradas pelo demônio, esta é a que é a mais digna dele: A VERDADE É TEDIOSA. A Verdade tediosa! mas é a posse da Verdade que constitui a beatitude. A verdade maçante! mas a Verdade é o fundamento da felicidade extática. Todo o esplendor que percebemos não é senão débeis símbolos da Verdade. Mesmos seus raios distantes causam um êxtase indescritível.
 
A alma humana é feita para pastagens divinas, não só na Eternidade mais no Tempo. Não há duas fontes da felicidade. Há apenas Uma; mas Ela nunca secará, e todos podem dela beber. Você está apaixonado pelo tédio? É na direção do não-existente que você deve olhar. Mas você ama a Vida, a Felicidade, o Amor? Então vire-se para AQUELE QUE É.
 
Satã é o Príncipe do Tédio, do desespero, da infelicidade.
 
Deus é o Mestre do Contentamento. Que os indiferentes se examinem e se repreendam.

 
 Traduzido da versão em inglês, por E.M. Walker, 1912 (Life, Science and art: Leaves form Ernest Hello).
 
 

11/05/2014

Lições da Missa de hoje: como nós católicos devemos ser e sofrer no mundo.

É o que Nosso Senhor e São Pedro, o primeiro Papa, nos ensinam na Missa Tridentina de hoje. São Pedro diz (negritos meus):

Tende um bom procedimento entre os pagãos, para que, em vez de detraírem de vós como de malfeitores, vendo as vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia de sua visita. Sede, pois, submissos a toda instituição humana, por amor de Deus; seja ao rei, como soberano, seja aos governadores, como enviados seus, para castigo dos malfeitores e para louvor dos bons. Porque esta é a vontade de Deus, que praticando o bem, façais emudecer a ignorância dos homens insensatos. Vivei como homens livres, mas não como fazendo da liberdade um véu da malícia, e sim como servos de Deus. Honrai a todos; amai a vossos irmãos; temei a Deus; respeitai o rei. Servos, sede obedientes com todo o temor a vossos senhores, não somente aos bons e moderados, como também aos geniosos. Porque isto é uma graça no Cristo Jesus, Senhor nosso.
 
São Pedro nos dá a chave contra o liberalismo: Vivei como homens livres, mas não como fazendo da liberdade um véu da malícia. Aqui, é impossível não complementar tais conselhos com os de São Paulo, aos cristãos de Coríntios, e a todos nós. É uma lição de desprendimento do mundo: Isto, portanto, vos digo, irmãos: o tempo é reduzido; os que choram, sejam como se não chorassem, os que andam alegres, como se não andassem, os que compram, como se não possuíssem, os que se servem do mundo, como se dele não usufruíssem; porque passa o cenário deste mundo. 
 
Nosso Senhor ensina que os católicos nunca teremos o mesmo humor que o mundo, mas que isso é uma graça, pois no fim, quando estivermos com Ele, tudo será alegria:
 
Em verdade, em verdade eu vos digo: haveis de chorar e vos lamentar, enquanto o mundo há de se alegrar; vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em gozo. U'a mulher, quando dá à luz, tem tristeza, porque veio a sua hora, mas logo que a criança nasce, já não se lembra da aflição, pela alegria por haver nascido ao mundo um homem. Assim vós outros, agora estais tristes, mas outra vez vos verei; então alegrar-se-á o vosso coração; e ninguém vos há de tirar a vossa alegria.
 
Para terminar, hoje é dia de São Filipe e São Tiago. Cito aqui o texto do Missal de d. Beda Keckeisen, OSB: Filipe de Betsaida foi um dos primeiros Apóstolos de Nosso Senhor. Pregou o Evangelho na Frígia, onde foi crucificado e apedrejado. S. Tiago menor, primo de Nosso Senhor, foi o primeiro Bispo de Jerusalém. Homem de oração e de austera penitência, foi precipitado do pináculo do Templo. Ele é o autor de uma Epístola canônica.
 
São Filipe rogai por nós. São Tiago rogai por nós.

04/05/2014

Como vou convencer a minha esposa a se converter?

 Um leitor escreve ao blog perguntando (ver comentário ao post Lição de um Cura Medieval):
Como vou convencer a minha esposa a se converter se os padres aqui do Gutierrez pouco estão a serviço dos fiéis? Ela aprendeu desde pequena a não gostar da Igreja e cada vez que um fato desse ocorre ela me olha com cara de "não disse?"
 
Faço algumas sugestões, em ordem de importância.
 
1. Reze, reze e reze a Nossa Senhora para a conversão de sua esposa. Hoje é dia de Santa Mônica, que converteu o marido e o filho, o grande Santo Agostinho, com suas orações. Assim, repito, reze, reze e reze, pois a graça da conversão nos é trazida pela Mãe de Deus.
 
2. Você tem de conhecer a Igreja, sua história principalmente, para ensinar à sua esposa. Só se ama aquilo que se conhece e você tem de apresentar à sua esposa, pelo menos estar preparado para apresentar, a verdadeira Igreja de Cristo, cujo Magistério atual, numa frase de Roberto de Mattei [1] "cessou de reafirmar com clareza a verdade católica", muitas vezes confundindo todo o seu ensinamento. Ninguém que deixe de perceber a profundidade da crise atual da Igreja terá algo a dizer sobre a Igreja Verdadeira. Portanto, estude, estude e estude.
 
3. Você deve apresentar a Igreja à sua esposa através de você mesmo; seja um católico verdadeiro. Demonstre que você tem as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Demonstre a ela o quão doce é viver ao lado de um católico verdadeiro, cheio de pecados, mas pronto "para uma resposta vitoriosa a todo aquele que vos perguntar acerca da esperança que vos anima", como nos ensina São Pedro, nosso primeiro Papa. Torne conhecidos dela seus períodos de orações diárias. Quando você for confessar, avise a ela. Em seus períodos de penitências e jejuns, comente com ela o que você está fazendo. Nos dias dos santos de sua devoção, comente com ela sobre a vida deles. Quando discutindo problemas cotidianos, apresente-lhe o ponto de vista católico.
 
4. Você tem de dizer à sua esposa que, exceto em momentos muito breves da história da Igreja, se colocarmos a condição de um clero santo para nos convertermos, nunca o faremos. O que você deve dizer à sua esposa é que apesar do clero pecador (pecador público, pois particular qualquer um de nós o é), a Igreja é Santa, pois sua cabeça é Nosso Senhor, e por isso ela tem mais de dois milênios de vida. Tem uma história que conto de memória, para você reconta-la à sua esposa. Um cardeal da Igreja quando ficou sabendo que Napoleão tinha planos de destruir a Igreja, mandou-lhe um recado: se toda a sucessão de bispos e papas não conseguiu destruir a Igreja, não seria ele que conseguiria.
 
Que Santa Mônica rogue por todos nós!
 
 
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[1] Apologia da Tradição, trad. Celso Vidigal e Paulo Henrique Chaves, ed. Ambientes & Costumes, São Paulo, 2013.