23/12/2015

Mensagem de Natal

Que a Mãe Santíssima e seu Filho no estábulo de Belém nos abençoem a todos neste Natal. É no estábulo de Belém que já se encontra a promessa de nossa redenção, a Cruz de Nosso Senhor. Natal é tempo também de pensarmos na Cruz d'Ele e nas nossas e de procurarmos oferecer as nossas para aliviar as dores da d'Ele.

Um santo Natal a todos e um 2016 pleno de fé, caridade e esperança.

Ad Iesum per Mariam.

03/12/2015

Palestra de lançamento da Biografia de Santo Tomás, de Chesterton, neste domingo, após a Missa.

O lançamento do livro será feito após a Missa do dia 06 de dezembro, domingo, quando haverá uma PALESTRA proferida pelo tradutor.

Nessa ocasião serão postos a venda 20 exemplares do livro, ao preço unitário de R$35,00. A renda será revertida para pagamento dos estudos do Diácono Thiago Bonifácio. 

Mais detalhes sobre a paletra em http://missatridentinabh.blogspot.com.br/ .

19/11/2015

Chesterton sobre Santo Tomás


Acaba de sair publicado a extraordinária biografia que Chesterton escreveu sobre Santo Tomás. Chesterton escreveu grandes biografias, além de sua autobiografia. Mas a que ele dedicou a Santo Tomás receberia certamente a benção do Doutor Angélico.

Traduzi o livro e escrevi o prefácio, cujo último parágrafo reproduzo aqui:

"Este livro poderia ter muitos títulos, além do título singelo que lhe deu Chesterton. Talvez o melhor título alternativo seja a essência do tomismo. Isto porque este livro é, entre outras coisas, a melhor introdução à filosofia de Santo Tomás de Aquino. Todos os interessados na filosofia do santo, a filosofia do senso comum, na expressão de Chesterton, devem mergulhar no livro. Desse mergulho, os leitores sairão com muito mais que uma introdução ao pensamento de um santo, sairão com a compreensão do que seja santidade, do que seja sanidade."

14/11/2015

Estudos provam que...

Este é o título de duas crônicas de Thomas Sowell que traduzi para o Mídia Sem Máscara em 2006. Elas surgiram em minha memória quando li uma matéria na Veja online, acerca da descoberta de um risonho cientista que descobriu, assim parece, que “Pode parecer um milagre, mas, de acordo com pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos e da Universidade do Colorado, o movimento do vento descrito na Bíblia [que dividiu as águas sob o comando de Moisés] pode ter, de fato, afastado as águas sem quebrar nenhuma lei da física.

Bem, bem, bem! Lembro aqui o que disse Sowell. Diz ele:

Meu falecido orientador, economista prêmio Nobel George Stigler, costumava dizer que é muito instrutivo gastar algumas horas numa biblioteca, checando estudos que foram citados como fontes em outros trabalhos. Quando comecei a fazer isso, achei não só instrutivo mas decepcionante.

Uma nota de pé de página num texto sobre economia do trabalho citava seis estudos que apoiavam suas conclusões. Mas, depois que fui à biblioteca e consultei esses seis estudos, descobri que eles citavam um outro estudo – o mesmo em todos os seis.

Agora que os seis estudos tinham se reduzido a um, fui a ele – e descobri que era um estudo de uma situação muito diferente da discutida no texto sobre economia do trabalho.

As grandes redes de televisão e a mídia impressa têm amplos recursos financeiros para conferir as alegações, antes de apresentá-las ao público como “notícias”. Mas não espere muita preocupação com os fatos quando isso puder estragar uma grande história ou a distorção política ou religiosa que a acompanhe. Quando somente pessoas com determinadas visões podem conduzir certos estudos, não se surpreenda se “estudos provarem que” aquele conjunto de visões é verdadeiro.

A frase “pode parecer um milagre” já aponta qual a visão de quem conduziu o estudo. Visão contra o milagre e também uma ignorância a respeito do que seja um milagre. Deus usa a natureza, que Ele criou, para produzir prodígios; Ele não a contradiz! O milagre do Sol, ocorrido em Fátima, outro milagre que a “ciência” parece não aceitar, não contradiz os princípios fundamentais do Universo, apenas aquela parcela que a ciência tem acesso e que considera tudo que existe. Uma lei física é apenas um padrão de repetição que é identificado pelo homem. Desse padrão se pode deduzir um punhado de coisas e delas fazer uso para um punhado de outras coisas. Mas a identificação do padrão nada diz sobre a possibilidade de a natureza poder, eventualmente, agir de outra forma, quando sob a ação de forças que estão acima dela.

Aliás, Deus quando age, na maioria das vezes, é através de causas segundas, não só para produzir prodígios naturais, mas também para produzir prodígios humanos pessoais. Um santo é um prodígio tão espetacular quanto o milagre do Sol, talvez mais. Só em ocasiões muito especiais Deus age como causa primeira.

Mas eu tenho uma listinha de milagres para a ciência desvendar: as ressurreições empreendidas por Nosso Senhor e pelos seus mais destacados santos, ao longo da história; as centenas de corpos incorruptos que existem atualmente no mundo, Hóstias que atualmente sangram permanentemente e que estão espalhadas em vários lugares da Terra (tome como exemplo a Hóstia de Lanciano, que sangra desde o século VIII); os estigmas de Padre Pio, que o vitimaram durante 50 anos, sangrando permanentemente, sem infeccionar, sem matar o santo. Para por aqui, só para não sobrecarregar muito a “ciência”.


10/11/2015

Oração segundo Santo Afonso: parte I

Palestra proferida no dia 06/09/2015, no Colégio Santa Maria em Belo Horizonte.

04/11/2015

Palestra próximo domingo. Oração segundo Santo Afonso: Como e o que pedir a Deus?

Darei uma palestra no próximo domingo, depois da Santa Missa no Rito Tridentino, por volta das 10h (com aproximadamente 1h de duração), no colégio Santa Maria (endereço abaixo). A palestra será sobre "como e o que pedir a Deus" e eu me basearei no livro de Santo Afonso Maria de Ligório, intitulado Oração. É a segunda palestra sobre o tema. Estão todos convidados. Tentarei gravar a palestra e depois a publicarei aqui.

Local: Capela Nossa Senhora do Líbano (Colégio Santa Maria - Floresta)
Endereço: Rua Pouso Alegre, 659 - Floresta - Belo Horizonte, MG.

O que os leigos podemos fazer atualmente, dada a crise da Igreja?


Fica difícil fazer a devoção em lugares como aquele onde moro que não possuem padre da Tradição todos os dias (só uma vez por mês) e quando apelar à Igreja conciliar para receber a comunhão está fora de opção (pela incerteza na validade da transubstanciação).

Respondi o comentário brevemente, mas desejo fazer alguns comentários mais gerais.
Em primeiro lugar, todo católico consciente está perplexo com tudo o que está ocorrendo com a Igreja. Os católicos antigos contavam com a lentidão ou a inexistência da tecnologia para desconhecerem muito do que estava acontecendo em Roma. As crises chegavam ao conhecimento muito lentamente, quando chegavam e, às vezes, num momento em que já estavam resolvidas. Os fiéis leigos continuavam sua vida de fé, de oração, de devoção, sem saberem o que estava acontecendo nas altas esferas eclesiásticas. Hoje, infelizmente, isso não é mais possível. Qualquer respiro papal nos é informado imediatamente. O espírito católico nos recomenda nunca sermos rápidos em nossas respostas a qualquer estímulo externo, sobretudo no que diz respeito à doutrina e fé católicas. É São Tiago que nos recomenda: Sit autem omnis homo velox ad audiendum, tardus autem ad loquendum et tardus ad iram. Devemos ser rápidos no ouvir, mas lentos no falar e no reagir com ira.

Então, quando falamos do Sacramento da Ordem e de tudo que ouvimos acerca do que está acontecendo nos seminários católicos, devemos ser cautelosos. Não podemos ser rápidos ao afirmar, o que seria uma temeridade, que tal Sacramento é inválido. Quem somos nós para afirmar isso? A invalidade ou validade de um Sacramento é assunto que está fora da esfera de decisão de qualquer leigo e só os mais experientes devem entreter alguma pretensão até mesmo de discutir o assunto. O mesmo, e em nível muito superior, se deve dizer da validade ou não da Consagração da Hóstia. Não seremos nós, leigos, que iremos supor, sem conhecimento algum, que tal ou qual Consagração seja inválida. Isso é assunto de uma complexidade teológica que foge completamente da esfera dos leigos e não devemos tratar desse assunto com leviandade, quanto mais tomar decisões baseadas em fofoca. É bastante conhecida a técnica do demônio de nos afastar dos Sacramentos, colocando em nossas cabeças dúvidas sobre eles. Os escrúpulos, que ocuparam tantos santos e diretores espirituais, não são nada mais que técnicas demoníacas para afastar católicos da Comunhão. Lembremos que a crise atual é de natureza demoníaca e é o príncipe do mundo que está no comando. Não nos deixemos cair em suas redes!

Fala-se muito atualmente sobre um possível cisma na Igreja, com o Sínodo da Família. O que devemos pensar sobre isso. Ora, nada. Primeiro porque cisma se dá na esfera eclesiástica, não na massa dos leigos. Em segundo lugar, o que podemos fazer na situação de cisma? Exatamente nada! Devemos nos manter católicos, com nossas orações, com nossas devoções. Como será resolvido, no futuro, tal cisma, se ocorrer? Não sabemos, não temos como saber. Vale a pena colocar em risco a salvação de nossas almas tentando tomar posições que não nos competem?

Outro assunto que reverbera nos meios católicos são as recentes canonizações. O que dizer? Nada, exceto que devoções particulares a qualquer santo não é obrigatória. A única devoção obrigatória é a Nossa Senhora. Ah, mas e se determinado canonizado o tiver sido de modo inválido? Se tiver sido o caso, nada podemos fazer, exceto, em particular, recusar a devoção a tal santo. No futuro, se tal assunto tiver solução, esta virá das autoridades eclesiásticas, de Roma, do Papa.

Ah, na minha cidade não tem Missa Antiga! Então vá na Missa Nova e escolha a menos barulhenta, o padre mais piedoso. Não duvide dos Sacramentos, pois Nosso Senhor está no comando dessa área; a distribuição de Suas graças é tarefa d’Ele e de Nossa Senhora. Nunca deixe de rezar, inclusive e principalmente, pelo clero.

Tardus ad loquendum, tardus ad iram! São Tiago está falando para nós, católicos do século XX, mergulhados em toda a atual crise da Igreja. Não esqueçamos desse conselho do grande Apóstolo. Rezemos pelo clero, rezemos pelo Papa! 

31/10/2015

O Sínodo sobre a família é consequência lógica do CVII. É complementação do silogismo conciliar.

Depois do Concílio Vaticano II, com seus documentos escritos em linguagem dúbia, com afirmações inaceitáveis segundo a Tradição da Igreja, com todos os hoje conhecidos golpes políticos durante o desenrolar das reuniões conciliares, golpes de corte marxista e que eram e são comuns em qualquer congressozinho de agremiações de esquerda mundo afora, o que os católicos esperávamos do Sínodo da Família, sob o reinado do Papa Francisco?

O CVII mudou a Missa e, portanto, a prática católica tradicional. Foi a destruição do principal Sacramento: a Eucaristia. A Confissão, nos anos posteriores, foi destruída e se transformou num bate-papo entre um padre de camiseta e o fiel, isso quando os padres aceitam ouvir confissões. O Sacramento da Ordem foi destruído por meio da destruição dos Seminários, que se tornaram antro de esquerdismos, filosofismos e, dolorosamente, de homossexualismos. O Sacramento da Crisma, bem, que conhece, hoje, este Sacramento? Qual moribundo católico sente a necessidade de solicitar a presença de um padre no momento mais crítico de sua vida, de pedir a Extrema-Unção? Todo o rito do Sacramento do Batismo foi mudado depois do CVII, amenizando a linguagem e despachando o Demônio para o confortável lugar da inexistência. Por que algo diferente aconteceria ao Sacramento do Matrimônio? Que esperávamos nós católicos?

A vida de Nosso Senhor Jesus Cristo jorra em sua Igreja através dos Sacramentos. Somos uma Igreja Sacramental porque Igreja de Cristo. Não apenas seguimos Seus amargos e doloridos passos, mas recebemos Sua Vida. Sem isso não há Graça e não há vida eterna. Acabem com isso, e iremos todos para o Inferno. A corrupção prática dos Sacramentos é um movimento contra a salvação das almas, contra a obra de Nosso Senhor; uma obra a favor de Satã, que quer fazer perder todas as almas. Esta obra satânica está em operação vigorosa no interior da Igreja, que sangra como Nosso Senhor na Cruz.


Somos, na expressão do grande criador da Fraternidade São Pio X, os católicos perplexos. Embora eu creia que hoje há muito menos perplexidade entre os católicos já anestesiados, já divorciados da Vida Sacramental, já sem acesso a esse prenúncio de Vida Eterna. Aos que ainda conseguem ver a realidade, um conselho: voltem os olhos para Fátima. Nossa Senhora deu a receita para os fiéis, embora também tenha dado à hierarquia da Igreja, que não deu bola para o que Nossa Mãe disse. Mas nós, fiéis, não podemos desconhecer os conselhos de tão boa Mãe: a reza do Rosário e a Devoção dos cinco primeiros sábados. Se há alguma tábua de salvação nesse naufrágio, Deus, por meio de Sua Mãe, está nos oferecendo esta. Não somos hierarquia da Igreja, mas somos seus fiéis e temos de dar um testemunho que há ainda Fé neste mundo e responder àquela dolorosa pergunta de Nosso Senhor, que duvidava que em Sua volta encontraria alguém com alguma fé.

18/10/2015

O dia que Santo Tomás visitou Belo Horizonte.

Foi dia 17 de outubro, sábado passado, que Santo Tomás esteve entre nós. Estávamos sob a proteção de Santa Margarida Maria Alacoque, a santa do Sagrado Coração, a quem Nosso Senhor permitiu que recostasse em Seu Sagrado Peito e sentisse o fogo de Seu Divino Amor, como fez tantas vezes São João Apóstolo. Estávamos sob a proteção de uma santa do século XVII, mas sob a ação do Doutor Comum do século XIII.

Estávamos sob a ação das definições escolásticas precisas, das intuições santíssimas de Santo Tomás. Pudemos sentir em nosso coração a sutilíssima tese da primeira questão da Suma: a filosofia é serva da teologia. E se unimos a teologia com a devoção, experimentamos um pedacinho do Céu. Não é exagero dizer que estivemos na antessala do Paraíso.

Estava muito calor, éramos quase cinquenta pessoas numa sala não muito grande. Quem nos conduzia era o prof. Sidney Silveira. E ficamos sabendo sobre as quatro virtudes cardeais: Prudência, Temperança, Justiça e Fortaleza. Sem elas não há vida feliz, não há vida que viver, não há razão de viver. São virtudes que o paganismo conheceu e o alto paganismo viveu. São virtudes que foram abrasadas pelo amor de Nosso Senhor e com o cristianismo ganhou a dimensão certa quando conjugadas com as virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade. Sem estas três, o máximo que o homem atingiria, o ponto mais elevado possível, seria o estoicismo. Mas com a Encarnação, tudo se divinizou, inclusive as virtudes cardeais.

Neste sábado calorento de Belo Horizonte, o que sentimos foi o fogo do amor de Santo Tomás, do amor de Nosso Senhor, tudo sob a proteção de Santa Margarida Maria Alacoque.

Deus lhe pague, meu amigo e irmão Sidney Silveira, por trazer Santo Tomás a Belo Horizonte.

Santo Tomás, rogai por nós.

Santa Margarida Maria Alacoque, rogai por nós.

03/09/2015

Palestra no próximo domingo: Oração, primeira obrigação de todo católico!

Darei uma palestra no próximo domingo, depois da Santa Missa no Rito Tridentino, por volta das 10h (com aproximadamente 1h de duração), no colégio Santa Maria (endereço abaixo). A palestra será sobre a Oração e eu me basearei no livro de Santo Afonso Maria de Ligório, intitulado Oração. Farei umas três palestras sobre o livro, sendo que a primeira abordará o tema a Necessidade da Oração. Estão todos convidados. Tentarei gravar a palestra e depois a publicarei aqui.

Local: Capela Nossa Senhora do Líbano (Colégio Santa Maria - Floresta)
Endereço: Rua Pouso Alegre, 659 - Floresta - Belo Horizonte, MG.


Em 12/11/2015 - Para o vídeo da palestra clique aqui.

20/08/2015

Saibam procurar os que desejam autoajuda.

A pequena introdução ao romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, contém mais sabedoria que todos os livros do acadêmico Paulo Coelho (lamentavelmente, membro da Academia que Machado fundou e que, como tudo o mais no Brasil, desceu a ladeira da mediocridade), se é que eles contêm alguma. Este romance é considerado por Sidney Silveira o maior romance já escrito no Brasil. Aliás, Sidney está ministrando, com o prof. Sérgio Pachá, um extraordinário e imperdível curso sobre Machado.

A introdução vale também como uma aula de como escrever, de como expressar, com pouquíssimas linhas, todo um modo de ser, de ver o mundo, de interpretar as relações humanas e sociais, de, enfim, se colocar no mundo como observador e crítico. Vamos ao texto, então. Divirtam-se! Os negritos são meus. Não os pude evitar!

Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará, é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez.. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião. 

 Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
Brás Cubas


14/08/2015

Assunção segundo Corção: é rima e é solução

O dogma da Assunção

A 15 de agosto, como todo o povo católico sabe, a Igreja comemora a Assunção de Nossa Senhora. Esta festividade litúrgica se situa, no ano eclesiástico, na grande planície que fica entre as grandes festas do Cristo e do Espírito Santo. De Pentecostes até natal há uma espécie de campo juncado de santos mortos que um dia ressuscitarão e terão um corpo de glória. Ora, o que a Igreja ensina cantando, neste dia 15 de agosto, é que a Mãe de Deus, por favor especial, pelo fato de ter sido escolhida para a consumação do mistério da encarnação, e pelo fato de ter sido isenta do pecado original, mereceu entrar na glória, de corpo e alma, antes do grande dia em que todos os santos verão Deus com sua carne e seus ossos, como reclamava o paciente e impaciente Jô.

Desde 1o. de novembro de 1950, a crença na Assunção da Virgem Santíssima está incorporada à dogmática católica. Embora tenha sido sempre um hábito difundido, uma convicção digamos assim oficiosa da tradição católica, foi naquela data que o Papa Pio XII definiu o dogma da Assunção, e proclamou que a crença na subida de Maria aos céus, em corpo e alma, tem fundamento na revelação e portanto na fé divina. O Papa absteve-se de determinar o modo, as circunstâncias, os pormenores de tão misterioso e importante acontecimento, limitando-se a proclamar o dogma da Assunção no seu aspecto central e principal. A Sagrada Congregação dos Ritos, na mesma data, deu ao dogma, à verdade teológica que constitui o enunciado do dogma, uma roupagem de sinais litúrgicos, de referência escriturísticas, de imagens que formam o atual texto da festa máxima que glorifica a Rainha dos Céus e da Terra. A Mulher glorificada pelo Apocalipse, a Filha do Rei vestida de ouro do salmo 44, a Mãe que com seu Filho será inimiga vitoriosa do Demônio segundo o Gênesis, a cantora do Magnificat, todas essas imagens que se aplicam semelhantemente à Virgem Santíssima e à Igreja, esposa de Cristo, procuram tornar visível, na luz da fé, (que é um começo, um lampejo da luz da Glória), esse mistério que passa a medida de nossa inteligência natural.

O mundo descrente, diante da proclamação do dogma, que foi um dos mais belos atos do grande Papa Pio XII, mostrou-se escandalizado e houve até manifestações grosseiras de homens tidos por muito inteligentes. Parecia-lhes que a Igreja, com essa proclamação que se lhes afigurava inteiramente inoportuna, lançava um desafio às modernas luzes da moderníssima cultura.

E agora permitam-me dizer uma coisa. Eu acho que eles tiveram razão de se escandalizarem. Realmente, para o mundo que anda entretido com as coisas da hora que passa, com as idéias em voga, com os problemas efêmeros, respeitáveis uns, menos respeitáveis outros, para o mundo que só é mundo, que só cuida do que não permanecerá, que só pensa em fumaça, que só ama o que é inconsistente e frágil – para esse mundo a palavra da Igreja, interpretação e tradução da palavra de Deus, deve ter uma estranha dureza. Todos os dogmas são duros; mesmo o dogma que é pão teve para os ouvidos descrentes dureza de pedra. “Essas são palavras duras...” murmuraram os fariseus no dia em que Jesus lhes ensinou que Ele era comida, que Ele era pão.

E nós mesmos, em nossa imperfeitíssima fé, freqüentemente achamos esquisita a palavra de Deus e freqüentemente temos medo de encarar de frente um de nossos artigos de fé. E é por isso que a Igreja nos incita a estudarmos a doutrina revelada e a meditarmos sobre as suas conclusões. A teologia, sob certo ponto de vista, é uma especialidade para os doutos; mas, tomada no sentido mais amplo, deve ser estudada por todos; e o estudo do dogma é gerador de piedade, isto é, tonificador da alma; é fortificante espiritual e, sobretudo, integrador intelectual. Que quer dizer isto? Que sentido vital terá essa palavra? Como devemos fazer para pensarmos no dogma da Assunção, com as luzes da fé, mas também com as luzes naturais da razão, e não apenas com a inclinação afetiva que é boa, mas que só é boa quando estiver submetida à razão e à fé? Se o leitor tiver um pouquinho de paciência, já lhe darei um resumo da idéia contida naquela expressão.

O estudo teológico da sagrada doutrina é diferente do estudo do puro catecismo por ser mais desenvolvido e mais orgânico. Enquanto o catecismo nos dá uma lista, por assim dizer, de artigos de fé, a teologia nos ensina a ligar, a tomar como conexos os ditos artigos, a contemplar o grande corpo luminoso da dogmática conjunta e global. E quem estudar a doutrina com tal orientação verá uma coisa maravilhosa: os artigos que pareciam estranhos e dificilmente aceitáveis enquanto vistos isolados, destacados, tornam-se luminosos, claros, belos, invencíveis, inevitáveis, inegáveis, quando são vistos no grande conjunto, no grande corpo que é uma das formas do próprio Corpo de Deus.

É certo que mesmo assim não temos ainda, no que concerne aos mistérios de Deus, a luz plena que só teremos no dia da Glória. Por enquanto vivemos de fé, do lumen Christi, que tem algo de noturno, e vemos tudo em sinais e enigmas; depois, no céu, teremos o lumen gloriae, que é o fulgor do próprio Deus desvendado e visto face a face. Antes disso, estamos um pouco no escuro, no deserto, no mundo cuja figura passará. Mas aqui mesmo, na caminhada e na obscuridade, já teremos uma estrela de Belém, com luz mais viva, se estudarmos e meditarmos nas verdades religiosas, e se pouco a pouco conseguirmos descobrir os lineamentos, os contornos, do grande conjunto doutrinal. Então teremos uma estranha, uma curiosa sensação: antes do estudo e da meditação, cada artigo de fé era esquisito em seu isolamento, cada palavra do catecismo era uma palavra disciplinar e dura; depois do estudo, o conjunto se impõe de tal forma, com tal força, com tal remuneração para as aflições do espírito, que agora o que nos parece esquisito, estranhíssimo, bizarro, é o fato de existirem pessoas que não crêem em Cristo Jesus, nos seus mistérios, na sua Igreja, nos seus dogmas, na Assunção da Maria Virgem.

O dogma da Assunção, na verdade, não tem nada de especialmente repugnante ao bom senso, como andaram dizendo. Para começo de argumentação devo dizer que devia repugnar ao bom senso a idéia mesquinha que pretende reduzir toda a Realidade aos fenômenos sensíveis e à rotina dos dias que passam diante de nossa observação. E o resto? E as origens de tudo? E o fim de tudo? Será sensato não pensar nessas coisas? Não creio que alguém se possa gabar de ter na vida a famosa atitude do avestruz. Além disso, o dogma da Assunção não é tão bizarro, tão novo, tão incôngruo como parece a quem só tem notícia da doutrina católica por alguns boatos esparsos. Não. O dogma da Assunção se prende teologicamente ao dogma do pecado original, e ainda mais diretamente, ao dogma da encarnação. A descida de Deus à humana condição pôs no mundo da Carne um princípio de levitação divina com todas as suas numerosas conseqüências. Uma delas é a própria Ascensão do Senhor. Outra, que vem com a super-lógica dos divinos mistérios, é a Assunção de Maria. Prende-se a Assunção a Pentecostes, à vida da Igreja com sua coroa de sacramentos, que são por assim dizer estilhaços da divina explosão, ou que são o Cristo socializado; e prende-se à estrutura psíquica sobrenatural da piedade individual, pela qual imitamos Maria sendo gruta para o Cristo que nasce em nós, e sendo um corpo que sobe de claridade em claridade, como dizia o apóstolo. Prende-se à Liturgia, que é uma espécie de assunção, todos os dias e horas realizadas na missa e no ofício divino. E finalmente se prende a Assunção de Maria ao grande dogma da Ressurreição da Carne. Maria é uma antecipação, e todos nós sabemos que nas coisas eternas uma antecipação no tempo não traz modificação profunda. Se já era crença nossa a ressurreição da carne, porque se admira alguém do fato de proclamarmos uma ressurreição da carne? No fundo, a esperança do mundo descrente, do mundo que só é mundo, a esperança dos desesperados é que nossa religião seja apenas um hábito de falar e de gesticular. E um hábito de falar palavras vazias e inconseqüentes. Enquanto falamos na ressurreição em termos vagos, e ainda não verificados, o mundo nos deixa falar com complacência. Mas quando o dogma recentemente definido e proclamado, ou melhor, quando o dogma que já existia implícito, adormecido como a bela do bosque no castelo das verdades de Deus, se torna explícito, concreto, referindo-se a um fato ocorrido com uma pessoa... então o mundo se irrita, ou descobre espantado que não eram tão inconseqüentes e tão estéreis e tão estéreis como pensavam os outros artigos já conhecidos.

Assunção de Maria e ressurreição dos mortos são verdade articuladas como a mão no pulso e no braço, e ambas se prendem à encarnação como o braço se prende no tronco, e todas se nutrem do mesmo sangue e do mesmo sacratíssimo coração de Jesus. Quando se diz que a Igreja é Una, Santa, Católica, também se diz que é Una, Santa, Católica, a doutrina composta de muitos artigos de Fé. A divisão deles, a tendência e o perigo do despedaçamento, vem de nossa fraqueza mental, de nossa condição carnal. Por causa da natureza humana ser o que é, temos de aprender a doutrina ponto por ponto, andando, caminhando, somando, colecionando; mas só aprendemos bem e só começamos a tirar forças do dogma, quando começamos a aprender a grande lição da unidade. E então, maravilhosamente, a inteligência se alegra com a proclamação de um dogma que vem completar, que vem tornar explícito o que já estava implícito. E então a alma agradece a Deus que a engrandeceu, como engrandeceu Maria. O Magnificat torna-se nosso, oração nossa; e a Assunção de Maria torna-se nossa, assunção nossa. Já no Cristo tínhamos no céu a nossa pobre e amada carne. Agora temo-la de um modo que, por ser menos divino, se torna mais próximo de nós, resultando em nos tornar por isso mais divinos.

Assumpta est Maria in caelum. Os anjos alegram-se e bendizem o Senhor. E o salmo cantado nas Vésperas acrescenta: “Iremos atrás de ti levados pela recendência de teus aromas...”

Além disso, o dogma da Assunção, com toda a sua aparente incongruência, responde aos instintos mais profundos gravados em nossa natureza. Deus não nos fez para a morte e para a corrupção. Não só o espírito, mas a própria carne humana grita por vida eterna e clama contra a morte. Maria é a mulher vitoriosa. É a mãe que se debruça em nosso sonho de angústia, em nossas insônias de desespero, e nos diz, como quando éramos pequeninos e tínhamos medo do escuro: “Sou eu...” repetindo a palavra de seu Filho naquela noite em que os discípulos se assustaram quando o viram chegar por sobre as águas. Maria repete Jesus. “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que guardam as minhas palavras” disse Jesus aos discípulos e ao povo que queria reduzir a maternidade de Maria ao nível das coisas naturais, e, por conseguinte, queria esquecer a transcendência de sua divina missão. Mas é a própria Maria quem melhor guarda as palavras de seu Filho. Repete Jesus nas palavras de verdade, nas palavras de misericórdia. E repete Jesus na subida aos céus.

Alegremo-nos, porque o nosso mais profundo susto, o nosso mais terrível medo, o nosso mais angustiado anseio é atendido por esse sinal maravilhoso que apareceu no céu: Signum magnum apparuit in coelo. Uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés, e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Cantai um cântico novo.

Cantemos. Alegremo-nos. A humanidade geme sob a ameaça da morte. Nem sempre se fala nisso. Na maior parte das vezes a gente acha melhor desconversar, fingir que ela não existe, esquecer. De repente ela aparece e rouba uma pessoa amada, e então a gente grita, como Jó, que não quer morrer, que quer ver Deus estando em sua carne e seus ossos; ou chora como o bom pai que quer ver de novo, belo, jovem, resplandecente, o filho que um dia lhe trouxeram frio e despedaçado...

Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria, dos que a morte e a frágil vida separaram, consolai os aflitos, intercedei pelos que sofrem injustiças, abrigai os pecadores. Rainha assunta ao céu, rogai, rogai por nós!

Roguemos também à Santa Mãe de Deus que interceda pela sorte do mundo e pela sorte de nosso infortunado país. Roguemos que a Misericórdia Suplicante obtenha de Deus a confusão de seus inimigos e a purificação de nossos costumes, de nossas instituições, e de nossos homens públicos. Há muito sofrimento nestas terras maltratadas, Santa Mãe de Deus; rogai por nós, vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

(revista A ORDEM, out. 1960)

Fonte: Permanência

16/07/2015

Primeiro Congresso Monfort de Minas Gerais: OS CATÓLICOS E O FALSO DILEMA ENTRE DIREITA E ESQUERDA.

Segue a programação do primeiro Congresso Montfort em Belo Horizonte, conforme:
 
 
TEMA:
 
“OS CATÓLICOS E O FALSO DILEMA ENTRE DIREITA E ESQUERDA”
 
 
Data e horário:
Dia 1º de agosto de 2015 (sábado)
Início às 9 horas da manhã e término com a Santa Missa que começa às 17 horas.
 
Local:
Colégio Santa Maria – Unidade Nova Suíça.
Rua Lindolfo de Azevedo, 345 – Nova Suíça – Belo Horizonte. (ônibus 9202, 4150, 8203, S21) *
Referência: 4 quarteirões atrás do Cefet da Av. Amazonas
O estacionamento interno está liberado para os participantes do evento.
 
 
 
PROGRAMAÇÃO:
 
1.ª AULA: 9:00 às 10:30
DIREITA E ESQUERDA: DUAS FACES DA MESMA MOEDA
Palestrante: Prof. Dr. Antonio Emílio Angueth de Araújo
 
CAFÉ: 10:30 às 10:45
 
2.ª AULA: 10:45 às 12:15
A IMPORTÂNCIA DA QUESTÃO DOUTRINAL NA LUTA DA REVOLUÇÃO CONTRA A IGREJA CATÓLICA
Palestrante: Prof. Dr. Alberto Zucchi
 
 
ALMOÇO – 12:15 – 13:45 (Restaurante “self service” ao lado do colégio)
 
 
3.ª AULA: 13:45 às 15:15
LIBERALISMO COMO AGENTE DESAGREGADOR DA SOCIEDADE CIVIL E DA IGREJA
Palestrante: Subdiácono Thiago Bonifácio, IBP
 
CAFÉ: 15:15 às 15:30
 
4ª. AULA: 15:30 às 17:00
A ILUSÃO DA REVOLUÇÃO DE 64
Palestrante: Prof. Marcelo Andrade
 
 
Ao final do Congresso, às 17:00h, será celebrada a Santa Missa na Capela do Colégio.
 
 
 
INSCRIÇÃO:
 
Enviar e-mail para: cartas@montfort.org.br ou respostacatolica1@gmail.com, com o título CONGRESSO MONTFORT MINAS GERAIS, contendo as seguintes informações:
 
  1. Nome Completo
  2. E-mail
  3. Cidade / UF
  4. Telefone para contato
  5. Se fizer parte do clero ou ordem religiosa, informar qual sua Diocese e a qual Ordem/Congregação pertence.
 
 
Será enviado e-mail de retorno confirmando a inscrição.
 
O valor da inscrição é de R$20,00. Nesta taxa estão incluídos o material do Congresso além dos dois ‘coffee-breaks’.
 
O almoço não está incluso no valor da inscrição. Será indicado um restaurante bem próximo ao local do Congresso.
 
Clérigos e Religiosos são isentos de taxa de inscrição.
 

03/05/2015

Libido Dominandi: o projeto de dominação do homem por meio da luxúria.

Muito se beneficiarão aqueles que, ao lerem o livro de Mons. Delassus, que indiquei no blog, lerem concomitante ou sequencialmente o livro de E. Michael Jones, Libido Dominandi: Sexual liberation and Political Control. O blog já fez algumas alusões a este livro (aqui, aqui, aqui e aqui).

Abaixo, traduzo alguns trechos da introdução do livro. Observo, mais uma vez, que este livro fundamental ainda não encontrou tradução para o português, em nosso pobre país.

(...) Não é segredo que a luxúria é também uma forma de vício. Minha questão aqui é que o sistema atual sabe disso e explora a situação em seu próprio benefício. Em outras palavras, “liberdade” sexual é realmente uma forma de controle social. O que queremos realmente dizer é que isto é um sistema gnóstico de duas verdades. A verdade exotérica, aquela propagada pelo sistema por meio da propaganda, da educação sexual, dos filmes de Hollywood e do sistema universitário – a verdade, em outras palavras, para consumo geral – é que a liberação sexual é liberdade. A verdade esotérica, aquela que permeia as operações manuais do sistema – em outras palavras, as pessoas que se beneficiam da “liberdade” – é o exato oposto, isto é, que a liberação sexual é uma forma de controle, um modo de manter o sistema no poder pela exploração das paixões do ingênuo, que se identifica com suas paixões, como se elas fossem ele mesmo, e com o sistema que lhe possibilita identificar-se como tais paixões. Às pessoas que sucumbem a suas paixões desordenadas são disponibilizadas, então, racionalizações do tipo que infestam páginas pornográficas da Internet e que são, com isso, transformadas numa poderosa força política por aqueles que são os mais especializados em manipular o fluxo de imagens e racionalizações.

(...) A revolução sexual não foi um levante social; não foi um coalescer de “partículas de revolta e iluminação”; ela foi, ao contrário, uma decisão da classe dirigente da França, Rússia, Alemanha e dos EUA, em vários momentos, durante os últimos 200 anos, no sentido de tolerar o comportamento sexual fora do casamento como uma forma de insurreição e, então, como uma forma de controle político.

(...) O que se segue é a história de uma ideia. A ideia de que a liberação sexual poderia ser usada como uma forma de controle não é uma nova ideia. Ela é o centro da história de Sansão e Dalila. A ideia de que o pecado é uma forma de escravidão é central nos escritos de São Paulo. Santo Agostinho, em sua magnum opus em defesa do cristianismo contra as acusações dos pagãos (de que o cristianismo teria contribuído para a queda de Roma), dividia o mundo em duas cidades, a Cidade de Deus, que amava Deus ao ponto da extinção de si mesma, e a Cidade do Homem, que amava a si mesma ao ponto da extinção de Deus. Agostinho descreve a Cidade do Homem como “ansiando por dominar o mundo”, mas ao mesmo tempo se via “ela própria dominada por seu domínio”. Libido Dominandi, paixão por domínio, então, é um projeto paradoxal, praticado invariavelmente por pessoas que são, elas mesmas, escravos das mesmas paixões que incitam nos outros para dominá-los.

A dicotomia que Agostinho descreve é eterna; existirá enquanto o homem existir. Os revolucionários do Iluminismo não criaram nenhum novo mundo, nem criaram um novo homem para habitar esse admirável novo mundo. O que fizeram foi adotar a visão de mundo de Agostinho e, então, reverter seus valores. “O estado do homem moral é aquele de tranquilidade e paz, o estado do homem imoral é aquele de perpétuo desassossego”. O autor dessa afirmação não foi Santo Agostinho (embora ele teria concordado incondicionalmente com ela); o autor foi Marques de Sade. Menciono isso para mostrar que ambos, Agostinho e Sade, compartilhavam a mesma antropologia e a mesma psicologia racional, se quiserem. Onde diferiam era nos valores que atribuíam às verdades dessas ciências. Para Agostinho, o movimento era mau; para Sade, o revolucionário, o movimento perpétuo causado pelas paixões incontroladas era bom porque perpetuava “a necessária insurreição em que o republicano deve sempre manter o governo do qual é membro.”

O mesmo pode ser dito sobre a liberdade. O que um chama liberdade, ou outro chama servidão. Mas a dicotomia das duas cidades – uma rebaixando a si mesma por causa do amor a Deus, a outra rebaixando Deus por causa de seu amor a si e a seus desejos – é algo sobre o que ambas concordariam.


O que segue é a história de um projeto nascido da inversão das verdades cristãs pelo Iluminismo. “Mesmo aqueles se que armaram contra Vós”, escreve Agostinho, dirigindo-se ao Todo Poderoso na Confissões, “não fazem outra coisa que não copiá-Lo de modo perverso”. O mesmo poderia ser dito do Iluminismo, que começou como um movimento para liberar o homem e quase do dia para a noite se tornou um projeto para controla-lo. Este livro é a história dessa transformação. (...) A melhor forma de controlar o homem é fazê-lo sem que ele perceba que está sendo controlado, e a melhor forma de fazer isso é através da sistemática manipulação de suas paixões, porque o homem tende a se identificar com suas paixões como se dele fossem. (...) Foi necessário o gênio do mal desta nossa época para aperfeiçoar um sistema de exploração financeira e política baseada na intuição que São Paulo e Santo Agostinho tiveram a respeito do que chamavam de “escravidão do pecado”. Este livro descreve a sistemática construção de uma visão de mundo baseada nessa intuição.

01/05/2015

Como a Maçonaria planejou, no século XIX, destruir a Igreja.

Transcrevo abaixo um trecho do extraordinário livro de Mons. Henri Delassus (que ainda estou lendo) A Conjuração Anti-Cristã, escrito em 1910 e agora editado pela Editoria Castela. Ainda comentarei este livro no blog.

Frente a esta conjuração, Antonio Gramsci parece um iniciante bem chinfrim. Todos que já leram sobre a infiltração comunista nos EUA sabem como o modelo das sociedades secretas foi usado amplamente. Leiam, por exemplo, Witness, de Wittaker Chambers (aqui e aqui).

O que vocês lerão é um trecho de um dos documentos da Alta Venda, grupo secretíssimo, que controlava tanto a Maçonaria quanto os Carbonários. Ninguém, nesses dois grupos auxiliares sabia da existência desse grupo superior, constituído de 40 membros, cujo controlador-mor era alguém, na época, conhecido como Nubius. O plano traçado então era destruir a Igreja com o concurso de um Papa. Vejam o que dizia o documento.

No caminho que traçamos para nossos irmãos encontram-se grandes obstáculos a vencer, dificuldades de mais de uma natureza a suplantar. Triunfaremos pela experiência e pela perspicácia; mas o objetivo é tão belo que importa abrir todas as velas ao vento para alcança-lo. Procurai o Papa cujo perfil acabamos de traçar. Estendei vossas redes no fundo das sacristias, dos seminários e dos conventos. O pescador de peixes torna-se pescador de homens; vós, vós conduzireis amigos (nossos) para junto da Cadeira Apostólica. Tereis pregado uma revolução com tiara e capa, marchando com a cruz e o estandarte, uma revolução que precisará ser apenas um pouco estimulada para pôr fogo nos quatro cantos do mundo. Que cada ato de vossa vida tenda, pois, à descoberta dessa pedra filosofal.

Em outra parte do documento se diz que bastava ter

o dedo mínimo do sucessor de Pedro comprometido com a conjuração, e esse dedo mínimo vale, para essa cruzada, todos os Urbanos II e todos os São Bernados da cristandade.

Sabendo o que sabemos sobre a crise da Igreja e os efeitos do Concílio Vaticano II, não podemos deixar de admirar o grau de profetismo, da capacidade de trabalho demoníaco e do sucesso que tais planos alcançaram em pouco menos de um século.


03/04/2015

A Cruz de Nosso Senhor e as nossas.

Os católicos estamos, hoje, mais que em qualquer outro dia do ano, sob o peso da Cruz e das cruzes. Mas não apenas nós católicos carregamos cruzes. Todos que nasceram neste mundo carregam suas cruzes, quer estejam ou não conscientes disso. Quando Jesus foi crucificado, Ele teve dois companheiros: o bom e o mau ladrão. No Calvário, nos foi apresentado a cena da realidade da vida; todos carregamos nossas cruzes. Uns as carregam tendo a consciência plena de sua presença, de seu peso e de sua razão de ser. Estes, como o bom ladrão, admitem suas culpas, percebem que as cruzes que carregamos são muito mais leves que a de Nosso Senhor e, mais importante ainda, que a d’Ele foi carregada e sofrida por nós e por causa de nós. Estes, pedem perdão a Ele e pedem a salvação ao Pai, em nome d’Ele. Os outros, como o mau ladrão, sentem o peso de suas cruzes, reclamam do excesso de vicissitudes, procuram se desvencilhar delas, procurando os prazeres do mundo e, mais importante, imprecam contra Nosso Senhor. Criam um mundo artificial, pleno de gozo, na esperança de aliviar o peso. O peso só aumenta, à medida que aumenta a fome de prazer.

As cruzes dos católicos têm dimensões variadas. Há aquelas pessoais e intransferíveis; são as doenças, os problemas familiares, as deficiências pessoais que limitam, de uma forma ou de outra, o “sucesso” de nossas vidas, as pequenas contrariedades diárias, as coisas que, embora querendo, não conseguimos fazer, as pessoas desagradáveis que se nos são apresentadas em nossos afazeres, etc. Mas há cruzes, digamos, comunitárias, que carregamos com e para os outros. São as cruzes que nos são impostas pelo sistema social e político a que estamos sujeitos: a imoralidade e a irreligiosidade generalizada, a crueldade crescente, a escravidão da mulher que é vendida como liberdade feminina, a crise apocalítica da Igreja, a insegurança pessoal que nos amedronta a cada passo que damos, etc.

Somos responsáveis por todas essas cruzes, tanto as pessoais como as demais. Como o bom ladrão, devemos reconhecer nossas culpas por todas elas; mas, mais importante ainda, devemos pedir perdão Àquele que, sem culpa alguma, carrega a sua, pesadíssima, por nós e por causa de nós. Ele carregou todas as culpas, passadas e futuras, e nos garantiu, como ao bom ladrão, que, hoje mesmo, estaremos com Ele no reino dos céus. O nosso “hoje mesmo” ainda está por vir e não chegará enquanto vivermos. Mas é exatamente a esse “hoje mesmo” que devemos orientar nossas vidas, para que essa garantia nos alcance.

O caráter cíclico do calendário litúrgico nos oferece, todo ano, o espetáculo do Calvário, tanto para os católicos como para os demais. Todo ano, temos a oportunidade de, junto com o bom ladrão, reconhecer a divindade e a realeza d’Aquele flagelado, coroado com espinhos, escarrado pelos soldados e cruelmente crucificado. Temos também, como o mau ladrão, a oportunidade de desconhecer Nosso Senhor, de fazer um churrasquinho e beber uma cervejinha nesse feriado. Temos a oportunidade de viajar para descansar, ter um pouco de prazer. Temos a oportunidade de simplesmente desconhecer aquele momento, o mais crucial desde a Criação, em que Jesus exala o último suspiro, às três horas da tarde.

Que todos nós escolhamos a atitude do bom ladrão; neste mundo não aspiramos mais que isso, sermos o bom ladrão!

27/03/2015

Mais uma do tal "liberal yankee"!

Digam-me qual Bispo moderno da CNB do B afirma o que este indivíduo, rotulado de "liberal yankee" e outros adjetivos mais degradantes por alguns leitores do blog. Ou qual Bispo moderno pode afirmar, ou mesmo imaginar, de minimamente semelhante ao que o filósofo afirma? Abaixo transcrevo algumas notas de Olavo de Carvalho, muito esclarecedores para os católicos. Para ler a íntegra, clique aqui.

O Bem não é um universal abstrato. O Bem é uma Pessoa, é Deus. Só se assimila o Bem por contato pessoal e impregnação no amor divino. O resto é filosofice uspiana.
*
Todo aquele que não se apresenta diariamente diante do Trono do Altíssimo, com o coroção trêmulo de vergonha não só pelos seus próprios pecados mas pelos de todos os seus irmãos, consciente de que, em face da perfeição e da onissapiência divinas, CADA UM dos seus atos foi errado, mesmo aqueles que sua vaidade considerou os melhores, e sentindo até o fundo da alma que o Perdão é o ÚNICO bem valioso a ser ambicionado, -- esse NUNCA saberá o que é sinceridade, nem muito menos honestidade.
*
Eu não teria a cara-de-pau de pedir a destituição de um governante se não rezasse diariamente pela salvação da sua alma.
*
Quem compreendeu o meu post que começa com "Todo aquele que não se apresenta diariamente..." compreenderá também que a "absoluta terrestrialização do pensamento" proposta por Antonio Gramsci, assim como toda política baseada nela, será sempre uma GARANTIA INFALÍVEL de destruição da consciência moral de um povo, portanto um convite irresistível à criminalidade. As ligações entre o Foro de São Paulo e a corrupção petista não só uma questão de alianças e conveniências, mas têm uma raiz muito mais profunda na corrupção espiritual gramsciana. O PT já era corrupto antes de começar a roubar, antes mesmo de nascer, no tempo em que a putada uspiana sonhava com um "partido operário".

25/03/2015

Que raios de "liberal yankee" é este que desanca o capitlalismo?

Pois é, um leitor, recentemente, chamou Olavo de Carvalho de "liberal yankee" num comentário no blog. É um jargão comum de desqualificação das pessoas aqui neste nosso sofrido país. Quem pensa só por meio de slogans fica muito confortável em rotular quem quer que seja, sem se dar ao trabalho cuidadoso e penoso de analisar o pensamento das pessoas. 

Hoje li um artigo recentíssimo do tal "liberal yankee" em que ele desanca o capitalismo, mostrando o que ele se tornou na maior nação dita capitalista do mundo: os EUA. Sugiro ao leitor e aos leitores uma atenta leitura do artigo. Duas conclusões são possíveis: ou o "liberal yankee" surtou ou o jargão foi muito mal usado, como sói acontecer com os jargões.


22/03/2015

Leitor não entende as citações tão ecléticas do blog. Blog responde.

Um leitor, de nome Sérgio, escreve ao blog o que se segue.

Prezado Prof. Angueth,
Gostaria de entender como o senhor consegue citar e recomendar ao mesmo tempo, pessoas de opiniões tão dispares e divergentes, vejamos:
- Cita e recomenda Dom Sarda e a leitura de seu livro "O liberalismo é Pecado" e ao mesmo tempo cita Olavo de Carvalho, um liberal ao estilo Yanke, tanto em política quanto em economia...
- Cita o professor Orlando Fedeli, o qual demonstrou a gnose guenoniana do referido Olavo...
- Cita Chesterton e Belloc que combateram o liberalismo com o distribuitismo, mas nada fala sobre essa corrente...
- Recomenda o padre Villa, mas sem as devidas ressalvas como o fato dele ser favorável a missa nova e nunca tê-la criticado, afora o sensacionalismo de alguns de seus livros e/ou de seus colaboradores vide: "A Mitra satânica de Bento XVI"...
- Elogia o padre Vieira, mas esquece que ele era sebastianista, um milenarista...
- E outros casos mais...
Obrigado.

Vou mencionar alguns dos “outros casos mais”. Cito Pascal, que teve fortíssimas simpatias jansenistas. Como não citar o autor de tais pensamentos:
- É preciso amar só a Deus e odiar só a si mesmo;
- Não somente nós não conhecemos a Deus senão por Jesus Cristo, mas não nos conhecemos a nós mesmos senão por Jesus Cristo; não conhecemos a vida, a morte senão por Jesus Cristo. Fora de Jesus Cristo não sabemos o que é nem nossa vida, nem nossa morte, nem Deus, nem nós mesmos;
- Quereis chegar à Fé e não sabeis o caminho. Quereis sarar da infidelidade e pedis os remédios para isso, aprendei daqueles que estiveram atados como vós e que apostam agora todo o seu bem. São pessoas que conhecem aquele caminho que gostaríeis de seguir e que foram curadas de um mal de que quereis sarar; segui a maneira pela qual eles começaram. Foi fazendo tudo como se acreditassem, tomando água benta, mandando rezar missas, etc.

Cito também C.S. Lewis, o cristão anglicano. Conheço muitas pessoas que se converteram ao catolicismo lendo este extraordinário anglicano.

Cito Nelson Rodrigues, um católico assumido, mas também autor de, por exemplo, “Bonitinha, mas Ordinária”. Esse católico foi o único grande intelectual brasileiro a reconhecer o valor essencial de Gustavo Corção, enquanto muitos outros católicos procuravam desacreditá-lo. Ele percebeu como poucos, o grande cataclismo que atingiu a Igreja no pós-Concílio Vaticano II. Quem lia suas crônicas podia acompanhar a surpreendente degradação interna da Igreja.

Cito Santo Afonso Maria de Ligório que, para escrever Glórias de Maria, se valeu de alguns dos evangelhos apócrifos para relatar alguns acontecimentos da vida de Nossa Mãe.

Cito Santo Agostinho, que foi platônico, e em cuja obra muitos agostinianos posteriores encontraram argumentos para desacreditar Santo Tomás e depois para lançar a Reforma, que cindiu toda a cristandade.

Cito Santo Tomás que, em sua época, foi enormemente pressionado a abandonar aquele perigoso pagão que ele insistia em ler e citar, mas não só. Ele ousou até a entende-lo e a ensiná-lo para nós. Trata-se obviamente do grande Aristóteles, a quem Santo Tomás chamava de O Filósofo, como chamava São Paulo de O Apóstolo; e, horrores dos horrores, chamava Averróis, sim o árabe, de O Comentador de Aristóteles. O que pensaria o leitor Sérgio do nosso Santo Tomás, o Doutor Comum, se vivesse em sua época?

Sobre Olavo de Carvalho e minhas opiniões sobre ele, sugiro a leitura de Olavo de Carvalho e eu. Sobre o prof. Orlando, sugiro a leitura de Orlando Fedeli e eu. Quando da morte do prof. Orlando, que outro intelectual brasileiro, senão exatamente Olavo de Carvalho, fez uma pequena homenagem ao morto ilustre? Sim, a morte do prof. Orlando foi também comentada e sentida por Sidney Silveira.

Com relação a Pe. Villa, não faço nenhuma ressalva porque não a tenho. Se você tiver, você mesmo, Sérgio, faça-a onde você quiser. Apresente argumentos que provem que os símbolos da Mitra de Bento XVI não são como diz Pe. Villa, mas não tente desacreditar seu trabalho simplesmente chamando-o de sensacionalista. Lembro, como se isso fosse necessário, que ser favorável à Missa Nova não é pecado! Eu não sou, não assisto a Missa Nova, pela graça de Deus, mas não digo que quem a assista está em pecado!

Bem, de Chesterton e Belloc e suas ideias econômicas, leiam (leitores e leitor) meu artigo na última Chesterton Review em português intitulado Três Alqueires e uma Vaca. Não preciso dizer que já traduzi alguns livros de Chesterton que estão repletos de suas ideias econômicas. Começarei a traduzir, no mês que vem, um livro de Belloc sobre economia.

Bem, agora vem Pe. Vieira. Ai, meu Deus! Sérgio nos lembra que Pe. Vieira foi sebastianista. E daí, Sérgio? Você quer dizer que o Sermão da Quarta-feira de Cinzas está eivado de sebastianismo? Você quer dizer que os trinta sermões que ele fez sobre o Rosário são inadequados, deveriam ser proibidos, por causa do seu sebastianismo? O que você quer dizer?

Desafio você a me apontar a gnose dos artigos que cito de Olavo de Carvalho, o sebastianismo dos sermões que cito de Pe. Vieira, o anglicanismo dos trechos que cito e traduzo de C.S. Lewis e a pornografia no que cito de Nelson Rodrigues.

Aponto, para terminar, sua profunda ignorância do que pensa Olavo de Carvalho, chamando-o de liberal yankee. É típico nos críticos tupiniquins de Olavo demonstrar ignorância logo no começo de seus arremedos de argumento. Vá estudar um pouco mais a obra dele, depois tente algo além de papo-de-boteco sobre esse pensador.


Sugiro que você edite um Index Librorum Prohibitorum para orientar católicos ignorantes como este blogueiro.